Apoio minhas mãos suadas e trêmulas naquela cerâmica branca e grotesca com uma torneira acoplada, olhando o ralo da pia e o espelho infinitas vezes, apanho o porta-alianças do meu bolso e o abro cuidadosamente pois tremo tanto que tenho medo que as alianças saltem direto para o ralo. Lavo meu rosto por enxergar o quão descorado eu estava, quase dando um treco e parecendo que tinha enfiando a cara no saco de farinha de trigo, me recomponho do meu ataque de pelancas e sigo furtivo para o palco, evitando olhares fixos e longíquos demais. Chego ao palco sem ter olhado para ninguém, só daquelas que precisava desviar, as garotas dizem estar tudo pronto para começar e nos abraçamos, confiantes e prontos para o nosso trabalho e antes das meninas se posicionarem, eu checo através da cortina, por uma pequena brecha, o movimento das pessoas e tento identificar o pessoal, que estão atentos a essa direção e não dá para decifrar a expressão do Calvin à essa distância. Me distancio e dou o sinal para que elas comecem, o som sai alto e em bom tom para que os ouvidos de qualquer ser existente ali pudesse ouvir e logo os versos se iniciam e eu começo a cantar conjunto da harmonia instrumental. Estou contido mas canto conforme o tom e em som alto, de olhos fechados, deixo com que a melodia tome conta de mim e me preparo para a chegada do refrão para que eu pulasse para fora da cortina e arrasasse, só espero que seja no bom sentido. Do lado de lá, o silêncio é completamente presente, como se houvesse um minuto de silêncio em tributo à morte de alguém, parecem concentrados na nossa apresentação até que, a cortina se abre por conta própria, algo que não foi combinado e revela todos nós, com o tão aguardado refrão. Além do instrumental excepcional concebido pelas garotas e do meu vocal aparentemente agradável, pode se ouvir agora as palmas e todo o assobio como motivação, consigo encarar alguns rostos mas não tenho coragem em continuar, apenas me entregar a música e meu corpo muito mais expressivo e desconjuntado de toda a apreensão que se manteve agora, detrás das cortinas, é a prova disso. A timidez se transformou em pura agitação e uma devastada legião de mãos erguidas, que acompanhavam o ritmo da música e me mandavam conforto, foi levantada, assim como algumas pessoas para fotografar e filmar, e não havia quem ali não se rendesse ao som enquanto nós finalizávamos as últimas notas. Finalizei de joelhos, com o microfone erguido, saudando toda a nossa plateia e piscando para as garotas, aplaudimos juntamente com a plateia e me encorajo a encarar todos ali presentes e o rosto que eu mais desejava encontrar. Podia ver a Kim enlouquecida, assobiando com os dedos, o Pet não sabia se erguia o celular para registrar tudo ou as palmas calorosas e estridentes, gritando algo que era facilmente abafado por toda a multidão gritante e finalmente, o Calvin com a boca tapada com as duas mãos, completamente incrédulo e ao mesmo tempo, boquiaberto, ciente de que eu faria tudo por ele e uma apresentação foi o mínimo das provas que ele já tinha que eu o amo. O Pet e a Kim o consolam com um forte abraço e parecem revelar que estavam envolvidos na minha tramóia, até aqui as palmas e todo o assobio cessam gradativamente e parece que chegou a hora do meu discurso, levo o microfone de volta e tenho a atenção de todos voluntariamente, prestes a ouvirem as minhas declarações escancaradas ao Calvin e apenas espero a empatia de todos e não, um tipo de represália generalizada mas a minha verdade é muito maior do que qualquer oposição vinda deles, então respiro fundo e deixo com que as palavras fluam para o externo sem qualquer filtro.
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Apenas Segure A Minha Mão
RomanceCalvin Minsky é um garoto de 17 anos, promissor mas que ainda não enxerga em si potencial e está afundando em seus próprios dilemas emocionais. Sendo filho único e sem uma figura paterna presente dentro de casa, tem de conviver com sua mãe autoritár...