Capítulo V

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  Ainda deitado na minha cama como um gato preguiçoso, ouço passos contínuos que vinham da sala talvez, e depois, a batida da porta, indicando evidentemente a saída da minha mãe e confiro pela janela, confirmando minha teoria. Ela parecia arrumada, até mais do que ela costumava estar e a vi descendo a rua, assim, surgiu uma mistura de alívio e de dúvida na minha mente sobre a saída de minha mãe: alívio pelo fato de ter um problema a menos para poder sair de casa mas como eu não sabia o horário, tanto da sua volta como da minha, isso poderia ser um problema e longe de mim querer piorar as coisas que já estão ruins, e dúvida de saber onde ela iria, o que ela ia fazer e que horas voltaria. Enfim, preferi focar no primeiro, mesmo que o outro ainda martelasse minha cabeça e me preocupasse tanto quanto mas me lembrei que hoje era domingo e é um dia propício da igreja a se ter um evento, seja ele um simples culto ou uma reunião de grupo que ela provavelmente participasse. Olhei o relógio e marcava 18:12, me apressei mas nem tanto para que eu não esperasse demais, então fui tomar banho. Meu banho foi consideravelmente demorado, me certifiquei de passar o shampoo duas vezes e deixar o condicionador por mais tempo no cabelo para que ficasse mais macio e sedoso. Saio e já me sequei no banheiro mesmo, jogo minha toalha úmida sobre a cama para depois colocá-la no cabide próximo ao arejamento e ando livremente pelo quarto sem roupa, para sentir o vento além da minha pele descoberta e a mínima liberdade que eu poderia sentir de estar só em casa, sem a perseguição da minha mãe e a caminho do encontro com meus melhores amigos. Escolho minha cueca preferida, procuro pelo guarda roupa uma combinação que me agrade e que combine com o meu astral e jogo sobre minha cama também para avaliar. Aqui está um moletom amarelo pastel, uma calça jeans comum e um tênis branco com sola alta e tratorada, eu aprovo e visto o moletom depois de usar o desodorante e antes de arrumar o cabelo. Visto toda a roupa e calço o tênis depois da meia, arrumo sem trabalho o cabelo, apenas com creme e sem usar pente ou escova, passo minha colônia pelo meu pescoço e pela região dos meus ombros e parto para escovar os dentes. Enquanto eu me encarava fixamente no espelho para ver meus movimentos circulares com a escova, eu percebi o quanto minha mente estava loucamente ativa e me esqueci que não tenho o contato do Nathan e a menos que eu vá até a sua casa novamente, eu não vou conseguir me comunicar com ele. Meus pensamentos são interrompidos por uma vibração e minha atenção é voltada para o celular, termino a escovação e enxáguo a boca, indo verificar o celular. Desbloqueio a tela e vejo que era outra mensagem da Kendall, confirmando que já estava a caminho da Sprinkly Square que basicamente, era o ponto de encontro de todos da cidade, uma praça que era referência para qualquer lugar e o Peter também confirmou que estava indo. Assenti que já estava quase saindo de casa e peguei tudo que era necessário: meu celular, o meu único dinheiro que eu tinha e algumas balinhas de fruta do meu baú de jóias, que não faz alusão nem um pouco ao que se propõe. Passo pela cozinha para beber água e enquanto bebia, percebi que as sacolas de compras ainda permaneciam intocáveis encima da bancada de mármore e dentro de uma delas, havia um pequeno pedaço de papel dentro de uma das sacolas que percebo quando eu ia as guardar. Não confundo com a lista de compras por ter a jogado fora e pego com dois dedos aquele minúsculo papel enrolado e tentei identificar aquela letra que, com certeza não era a minha, era delicadamente moldada.

Para quando, desesperadamente, sentir saudade de mim e quiser sair de verdade, pela primeira vez.

  Nem preciso raciocinar muito para deduzir e adivinhar quem é, que bom que ele não se identificou para que não houvesse perigo de que minha mãe conspirasse sobre caso ela pegasse um pedaço do nosso "vestígio" mas que bom também que ela não percebeu e que eu pude encontrar sem ele ter me deixado nenhuma pista mas em compensação, ter deixado o seu número.
Espera. Eu sou muito viajado, agora que percebi que não tem nenhum número aqui, sem estar tomado pela emoção. Será que esse é o convite para ir a sua casa novamente e que ele me receberia um pouco mais preparado? Enfim, não faço ideia e enrolo esse nosso vestígio no meu bolso de trás sem pensar muito sobre e me apresso para que, finalmente, eu saísse e não deixasse os meninos à minha espera.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora