Fazemos o retorno, levando conosco também os documentos bem lembrados e arranjamos na recepção um outro número de táxi que pudesse atender aos nossos pedidos um pouco exigentes mas que seriam bem recompensados se nos atendesse. Ficamos ali à espera dele e conversamos com a recepcionista, que rende assunto amigavelmente e nos dá muitas dicas úteis, sem que a atrapalhasse do seu trabalho. Ele chega depressa mas estaciona com graça a porta, nos despedimos dela, suspendendo o nosso assunto e nos impressionamos com o acolhimento e energia do povo brasileiro, que são tão caridosos e prestativos. Prova outra disso, é o taxista que nos recebe com a nossa língua materna por sempre deixarmos claro no pedido da corrida, nos convida a entrar gentilmente com seu jeito espontâneo e seu amor ao trabalho estampado como se fosse sua profissão há anos. Questionamos inevitavelmente o que ele tinha para nos mostrar naquela tarde das referências e pontos turísticos, apesar de não termos pesquisado muito, e sua primeira sugestão é o Cristo Redentor, que não podia ser o último da lista, segundo ele. Ele pode perceber que somos turistas estrangeiros e diz sentir uma grande responsabilidade mas o aliviamos desse peso e conta um pouco mais da sua história, a vida parecia ter ensinado muito àquele senhor e nos dá conselhos, assim como a recepcionista, sobre cuidados e dicas por sermos turistas, e ainda, estrangeiros. Não sei se ele quis se referir por sermos um casal, ou só por sermos turistas de primeira viagem, ou apenas alertas sobre costumes que podem ser estranhos para nós.
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Ele era bem maior do que nossas mentes podiam estipular, ou que fotografias poderiam ilustrar, e tão gigante quanto o seu tamanho, apenas é sua beleza e o movimento por aqui que está um pouco tumultuado e será impossível levar uma fotografia para casa sem que apareça uma multidão atrás. Por conta disso, algumas pessoas preferiam tirar selfies do que fotografias que as camuflassem num emaranhado de pessoas, mas não desistimos por isso: tiramos nossas belas selfies, tiro algumas do Nathan sozinho em posições estratégicas e ele, de mim em seguida e também apenas do Cristo Redentor, do quanto o enquadro da câmera podia o capturar. Depois de diversas fotos, voltamos para o carro e seguimos a mais uma sugestão, com uma descrição peculiarmente atrativa e ele nos faz rir com uma intimidade estranha mas natural. Nem me lembro do cansaço detonar meu corpo com esse passeio, me sinto feliz pela paisagem nova e respirar um novo ar, viver uma nova fase de vida e sentir essa energia tão incrível e tão genuína, enquanto nos deleitamos com a vista simplista até a chegada do Pão de Açúcar. Pela extensa fila e movimentação agitada ao teleférico daqui, preferimos não irmos até lá e só fazemos o que há de melhor: contemplar a natureza verdejante e ainda preservada e o céu que contrastava tão azul. Nossos braços se escoram em uma grade qualquer e deixamos o celular de lado um pouco porque mesmo que essa imagem permanecesse guardada para ser vista novamente na memória tecnológica, eu só quero aproveitar tudo isso: essa viagem, a bela vista, a minha companhia e a minha mente que tenta eternizar essa imagem na minha memória interna. A natureza para mim sempre foi um ponto de escape, de reflexão e de perceber que precisamos sermos naturais, sem "aditivos" ou "conservantes" para mantermos a nossa origem tão pura. Um sinônimo de esperança, de liberdade e o meu impulso de sempre me manter grato pelo o que eu já tinha e o que viria, mesmo que eu nem quisesse acreditar no amanhã. Estou aprendendo a cultivar o amor próprio e que eu possa valorizar minhas singularidades e lidar com esse complexo de vira lata que eu tenho abandonado de mim.
- Calvin... É hora de ir... - após alguns toques insistentes, ele pousa a mão sobre a minha e me traz de volta das nuvens e do meu transe mental, que tem sido tão frequente e simbólico para o meu auto entendimento.
- Eu pensei que você só poderia me levar até lá, não que poderia também me trazer de volta. - aos poucos assimilo a vista à minha frente, descansando a vista sem pisques temporários, dizendo e apontando para uma nuvem qualquer em tom quase sussurrado.
- Eu poderia até te levar além também, mas sem respiração e sem fôlego, você já me deixa aqui na atmosfera. - ele admite mais próximo e logo sai, me deixando sem jeito e possivelmente também ficando, como se quisesse que ninguém soubesse da sua confissão. E logo, lá vamos nós novamente em busca de outra beldade paisagística, a beira mar e aparentemente, pela descrição curta dele, uma escultura em homenagem a alguma personalidade brasileira; um famoso escritor brasileiro chamado Carlos Drummond de Andrade que, "sentado" no banco, se inspirava a criar as mais lindas histórias diante daquele vista tão estimulante. Fizemos todo o processo anterior e aproveitamos um pouco da brisa praiana que, mesmo que estejamos sob o sol escaldante, soprava refrescante o vento e a maresia que equilibrava aqueles raios tão ardente a pele, porém retocada com filtro solar sempre. Assim como eu tentava me manter otimista diante da minha confirmada e conformada negação de quando eu estava naquela casa em NorthSide com aquele pequeno terço da natureza que eu tinha acesso pelo cubículo vidrado na parede, ou de outras vezes que tive contato com o exterior, acompanhado ou não, esta é a prova de como minha conexão indireta com a natureza era capaz de cicatrizar tudo apenas com essa aragem branda, assim como carregava toda impureza que me maltratava. Lotamos novamente a galeria com mais registros, voltamos para o carro e estamos tão extasiados de belezas naturais combinadas com relatos históricos contados pelo senhor, que resolvemos encerrar por aqui a nossa expedição mas com certeza, não é por falta de outros lugares, só precisamos nos recuperar de tanto choque cultural e de uma pausa para acalmar nossos cérebros que processaram tanto. No caminho de volta, seguimos por uma das avenidas principais que era tão extensa que era capaz de nos levar a distâncias longíquas sem uma esquina sequer, e a minha hipótese em voz alta é confirmada pelo taxista, e atento aos grandes prédios e magnos monumentos, o Nathan avista algum restaurante e pede que paremos aqui.
- É um restaurante bem famoso e muito frequentado por aqui, é especializado em comidas e iguarias brasileiras ou pratos que são bem consumidos por aqui. Mas se pensa que apenas estrangeiros ou pessoas que não conhecem a culinária brasileira que são a maior parte da freguesia daqui, estão bem enganados. São os próprios moradores ou viajantes de outros estados que procuram seus pratos favoritos caprichados e muito bem preparados, por chefs qualificados e por panelas que não param nunca. - ele nos apresenta bem como tem feito por todo o nosso caminho e aumenta a nossa curiosidade, resolvemos descer aqui e dispensamos o seu serviço útil e muito proveitoso dele, o agradecendo imensamente pelo suporte dele e indiretamente, pelos outros que têm nos auxiliado a ter uma experiência tão maravilhosa e tão rica. Pagamos pela corrida e recebe o seu adicional pelo carisma e por ter nos cativado e nos ensinado tanto com sua vivência tão acumuladora de conhecimento e decidimos seguir viagem a pé daqui para frente por ele ter nos indicado o hotel a alguns quilômetros daqui pela sua magnificência tão visível.
- É um prazer mostrar toda a beleza carioca para os olhos tão virgens de beleza endêmica durante todos esses anos de estrada. Além do mais, a beleza está por todo lugar, é quase inaceitável eu querer cobrar para se ver todo o panorama que se tem essa cidade maravilhosa? - sorrimos pelo seu comentário e que foi um prazer conhecer tudo nas mãos de alguém tão veterano e experiente.
- Que nada, faz parte do seu trabalho. Você foi realmente um guia para nós e não teríamos conseguido sem você. Obrigado por ter nos proporcionado tudo isso. - o Nathan agradece e ele diz que é esse tipo de comentário que o motiva a seguir mais anos na profissão, finalmente nos despedindo e seguindo cada um seu destino.
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Apenas Segure A Minha Mão
RomanceCalvin Minsky é um garoto de 17 anos, promissor mas que ainda não enxerga em si potencial e está afundando em seus próprios dilemas emocionais. Sendo filho único e sem uma figura paterna presente dentro de casa, tem de conviver com sua mãe autoritár...