Apenas Segure A Minha Mão

Capítulo LIX (Parte 1/2)

Tendo mais alguns dias para a nossa preparação, adiantamos muita coisa do nosso passaporte que já está quase concluído e vamos em busca de tudo o que falta, que é a nossa estadia e mais cultura para a mente desinformada do Nathan quanto ao Brasil. Ao primeiro, não foi difícil me deparar com todo tipo de anúncio possível e logo vou atrás de um no qual o hotel oferta suas reservas unicamente para aqueles que comparecerem ao evento do Rock In Rio nos dias correspondentes e que ofereceria transporte com preços consideráveis.

- Gente, as coisas estão ficando realmente baratas ou é o dinheiro que anula a nossa preocupação em gastar descompulsadamente e sem se importar com valores? - viro a tela para ele, que analisa a oferta imperdível e pede para que eu entre em contato, para não procrastinar com as questões a lidar. Claro que seu nível de relevância e confiança são levados em consideração para se evitar eventuais fraudes e golpes e ele me encoraja por perceber minha relutância e me sinto, enquanto espero a resposta do outro lado da ligação, como uma criança ligando pela primeira vez para a pizzaria. Finalmente, alguém atende e gaguejo um pouco ao responder, trato logo do anúncio e me levanto, andando pelo quarto como um carro desgovernado para aliviar a tensão e o nervosismo, enquanto recebo as instruções do atendente para a compra. Sigo todos os seus passos até termos as nossas vagas garantidas pelas nossas entradas garantidas no evento, eu agradeço pelo atendimento e pelo auxílio e nós comemoramos o nosso êxito por ter conseguido tudo a tempo. A menos de 50 horas do horário do nosso vôo, tudo corre bem, assim devolvo o celular a ele que se empenha a pesquisar e descobrir como se tivesse fazendo um trabalho escolar e sempre que descobria algo novo, compartilhava comigo e até arriscava pronunciar algumas palavras sem sequer saber seus significados.

- Amor, olha isso aqui... - sinto desânimo no tom dele e ele vira o celular para mim para que eu lesse algo que claramente não era agradável.

- "O Brasil está em 1° posição no ranking dos países que mais assassinam pessoas LGBTQ+'s no mundo, diz site." Okay... E aí?

- Como assim, "e aí "? São estatísticas, situações importunas acontecem a todo momento e com todos. É mais um alerta do que um motivo de desistência.

- 'Tá, e o que você quer que nós façamos? Que assumamos posturas heteronormativas e tradicionalistas do que nossas próprias identidades? Nathan, isso é um problema deles e é um retrocesso horrível, o amor e a homossexualidade existe antes mesmo de nós, assim como o ódio ou a aversão, então se eles não suportam enxergar a diversidade que existe ao redor deles e queiram fazer algum tipo de justiça ou favor social em prol da salvação, que arranquem os próprios olhos e decepem os próprios braços.

- Sei que você pensa assim e eu não discordo, de forma alguma eu quero que você regule seu comportamento por olhares de julgamento. Eles prezam tanto por vidas perfeitas, com suas ignorâncias quase palpáveis, que falham em tê-las e apontam as vidas imperfeitas cuja eles se identificam, em silêncio.

- Pois é. Mesmo que a faca seja mais penetrável à carne do que qualquer sentimento, vamos ver o que demonstrado em público é mais suscetível ao criminoso: se é a minha vontade de amar ou a vontade de matar.

- Pena dos corações tão pobres de amor e das mentes tão fartas de antipatia. Só desejo a eles colunas saudáveis e pernas firmes para o tombo de nós ver passar. - depois de toda a nossa idealização de nós, julgadas, criminosas e estrangeiras em algum tribunal do Brasil, por termos xingado meio mundo de homofóbicos pelas ruas cariocas, focamos com otimismo nas próximas horas e nos desfazemos desses pensamentos, que fiquem presos num futuro que nunca chegue para nós. O Nathan permanece ainda no seu mergulho pelas tradições brasileiras, afinal há muito a aprender e não há como fugir das novas descobertas duvidosas nessas terras feitas por ele como um colonizador e continuamos assim, perdidos em artigos diversos e no horário, que não perdoa por estarmos tão desatentos a ele.