Capítulo XXI

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                  Calvin's POV

  À essa hora, o Nathan já deve ter partido e a minha companhia, antes que era o gentil doutor, agora, é a enfermeira Mildred, segundo ele, e uma estranha tensão no ar. Ele se despede e a deixa em seu lugar como substituta, ela me encara como uma tia antipática, esperando a benção de seu querido sobrinho, sem sequer se apresentar ou comunicação possível. Ela se vira pra se sentar como se fosse enfrentar as horas mais tediosas da sua vida, podendo sentir a soberba no seu olhar e não diz uma palavra desde que se sentou, como se eu só pudesse a chamar quando eu realmente precisasse de fato, sem incomodá-la se não fosse algo assim. Vez ou outra, o doutor vinha até aqui para verificar as coisas e checar se tudo estava bem e ela assentia, mesmo que ela estivesse atenta demais ao seu celular e direcionava seu olhar para mim só para ver se eu não sofri um ataque repentino ou se bati as portas de uma hora pra outra. A sua expressão fingida e afirmativa entregava o quanto ela era despreparada para ocupar esse espaço de tamanha responsabilidade e comprometimento e esse pensamento começara a me preocupar, se ela realmente estaria "disponível" para as minhas necessidades e não, ocupada demais para elas.

- O Nathan não pôde mesmo ficar? - questiono a ela, para ter a certeza que ela sabe mesmo o que está acontecendo, como se não fosse o dever dela, fora do seu universo digital no qual o mantém tão entretida.

- Não, porque ele disse que teve que resolver seus assuntos importantes. - ela diz entre dígitos rápidos no teclado do seu celular e sua resposta tão certeira me faz descrente a sua afirmação. A minha indignação a seu desinteresse e a sua falta de atenção a tudo era imensurável, com o seu jeito preguiçoso e aquele espírito de superioridade só me fazia querer passar a rasteira naquele pedestal de caixa de papelão que ela criou na cabeça dela, sem sentir que estou sendo precipitado nas minhas conclusões. Depois de muitos momentos de tensão e olhares perdidos, o doutor vem novamente para salvar a minha vida, analisa brevemente a minha contusão e alerta que iria iniciar o processo dos cuidados devidos para comigo. Ele se retira após reiterar sobre isso me preparar, até porque eu não sei o que vai acontecer, para o procedimento e para a ausência do Nathan aqui enquanto tenho que me contentar com a presença de uma viciada digital, que em qualquer momento, pode enfiar o travesseiro na minha cara ou injetar água sanitária nas minhas veias. De repente, eu pude ouvir um som de sino ou qualquer som de alarme vindo do topo, soando como as trombetas do apocalipse, anunciando o meu mas creio que seja só o almoço mesmo, por ela ter se levantado e saído do quarto. A dúvida permanece até ela voltar com uma bandeja de comida, supostamente para mim, me entrega sem vontade e deixa "acidentalmente" respingar um pouco de comida no meu lençol branco e só consigo fixar meu olhar naquela mancha amarelada. Murmuro um obrigado desejando que ela nem ouvisse, recebo um vácuo já previsto, podendo ouvir a agonia de sua fome pelos seus roncos estomacais constantes ao me ver comendo.

- Pode pegar, se quiser meu bem. - o sarcasmo é inevitável mas juro que a minha intenção é boa, a estendendo uma coxa de frango.

- Não, obrigado. Tenho acesso à melhor comida do hospital. - ela diz, se gabando, com a minha feição paralisada com a coxa ainda estendida estaticamente.

- Hum, sem problema. Pensaria que aceitaria uma caridade.

- Você é quem está numa cama de hospital e eu que precisa de uma caridade?

- Então, o que é? Uma dieta regrada? Jejum intermitente? Não pode fazer uma pausa, não é? - ela se cala e volta a atenção ao seu querido celular, como se aquela conversa nunca houvesse existido, fingindo maturidade para não continuar aquele ping-pong de indiretas quando ela só não tinha argumentos mesmo. Continuo a apreciar meu almoço com um tempero razoavelmente gostoso até terminá-lo e empurro com o indicador a bandeja para a ponta da cama para que ela vesse que já poderia levá-la e a garçonete de hospital sai aborrecida. Depois de zombar horrores da cara dela, tenho medo e receio do que ela pode fazer estando aqui a sós, se aproveitar de quando eu estiver dormindo ou simplesmente pelo fato de estarmos sozinhos para armar a sua vingança arquitetada contra mim. Ela volta acompanhada do doutor e ele traz seu carrinho de apetrechos médicos e objetos necessários para começar o que deve fazer, que mal sei o que é mas prefiro encarar como a porta de entrada (ou seria de saída?) para fora desse hospital e assinto às palavras de confiança do doutor por confiar no seu trabalho, unicamente. Respiro fundo para me encorajar ao ver sua mesa de instrumentação, sentido a moleza e o sono apontar sinais no meu corpo e pede calma, me garantindo uma melhoria sem demora. Não há muito que eu possa fazer, então sigo imóvel para não atrapalhar o seu processo e procuro relaxar os músculos, elevar os pensamentos e diminuir a minha frequência de piscadas para cansar os olhos e que logo, eles possam se fechar e se tornarem inativos temporariamente.

P.S: Olá pessoal, voltei com mais um POV do Calvin, desculpe se vocês perceberem que daqui pra frente esses capítulos alternados forem mais curtos do que o normal mas vou tentar publicar com mais frequência, pelo menos, 4 vezes por mês. Então, o próximo POV é do Nathan, alternando entre um e outro, porque a partir do próximo eu não vou mais especificar, espero que isso não dificulte a leitura e entendimento de vocês, só se atentarem às referências dos personagens. Continuem aqui por que teremos mais pano pra essa trama e cheio de reviravoltas. Aguardem...

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