Capítulo LI

17 1 0
                                    

Três dias depois...

- Nathan? Nathan!! - uma voz desesperada me gritava que mal pude supor voltaria a dormir novamente. Em fração de segundos, imagino que possa ser o Calvin que tinha caído da cama ou algum alarme em forma de voz vindo da minha cabeça mas o estado entre o sono e o despertar já me confunde e lembro que o meu celular está encostado na minha orelha.

- Alô?! Louise, é você? - o seu euforismo é inconfundível e pude reconhecê-la mesmo que ela não quisesse esconder sua identidade.

- Sim, eu mesma. Aconteceu uma coisa que, dependendo do seu ponto de vista, pode ser uma notícia ruim... A Timm pegou um resfriado daqueles e está meio mal, garganta ruim, de cama e afins.

- Nossa Lou, sem dúvidas essa é uma notícia ruim, não digo por conta do nosso acordo mas por ela mesmo.

- É uma pena mesmo... E o que faremos agora? Nenhuma de nós cantamos...

- Sem desânimo! Eu não vou desistir ou cancelar de vocês só porque a Timm não pode comparecer ou cantar. Eu vou arrumar um jeito!

- É isso! Você pode cantar no lugar dela, já que você me mandou um áudio há uns dias atrás cantando. É, realmente você não vai se safar dessa. Achou mesmo que ia planejar tudo e ia ficar de fora da apresentação?

- Ótimo plano. Sinto por estar desmembrando o grupo e por estar tomando o lugar dela que nunca vai estar ao meu alcance mas aceito esse desafio.

- A Timmothy ficaria encantada com a sua apresentação, eu tenho certeza. Mas temos que registrar esse momento tão especial, para ambos.

- Esse trabalho eu já tenho a quem caber mas mais trabalhoso que isso será o nosso EAD e eu tentando dessenferrujar essa garganta.

- EAD?

- Sim, Ensino A Distância. - ela ri pelo meu péssimo trocadilho e desejamos sorte para nós porque tomar o lugar do ilustre talento da Timm será uma tarefa e tanto.

- Enfim, você já tem ideia do que nos aguarda? Qual será o desafio da vez? - sinto mais entusiasmo do que temor no tom dele e é até bom que ela confie no meu potencial vocal e espero não decepcioná-las. Todo mundo envolvido, na verdade.

- Eu pensei que algo tipo Maybe... Será que alcançamos o desempenho do James?

- Meu Deus, eu amo muitooo! Com toda a habilidade que temos e com muito esforço, nós chegamos à excelência. - ela pôde comprovar um pouco do meu desempenho através de um áudio que lhe enviei como ela mesma citou. Essa última semana foi louca mas acho que tenho disposição para tirar alguns instantes do meu dia para praticar e posso ter o auxílio do Calvin para me avaliar, sem mesmo saber o que está por vir. Fechamos mais uma parte do plano e nos despedimos, fico feliz por tudo ainda estar nos trilhos, nada nunca esteve tão controlado nas minhas mãos.

- Bom dia, princeso. - acordo ele, pelo seu sono profundo, por não ter mexido um músculo sequer do seu braço para o meu lado e parece que não sou o único que não vai voltar a dormir.

- Bom dia, perfeissaum. Eu acho que ouvi uma conversa... Era você impregnado nos meus sonhos? - ele me pergunta, com seus olhos semicerrados e sua voz contida, sorrio e ele boceja longamente. O convida a se levantar e digo que não foi nada, preparo para nós um café da manhã e despertamos na medida do possível enquanto comemos e o café desce fumegante por nossas gargantas. A chegada do dia se aproxima e meu calendário mental conta ansiosamente a vinda dele, o observo propositalmente e ele mal sabe o que o aguarda, que é o motivo pelo qual minhas pernas tremem de ansiedade e mal posso me conter dentro de mim. O nosso dia foi resumido a isso, eu arrastei o Calvin para o meu exaustivo ensaio solo, cantando e gritando como se eu não houvesse amanhã, mas com cautela e com bastante hidratação, para que eu não acabasse como a Timmothy. Eu tinha o rigoroso e impiedosa avaliação do Minsky nas minhas costas e me fazia voltar, quantas vezes fosse mas eu admirava pelo seu apreço excessivo à perfeição, era o que eu queria e o que ele estava proporcionando a si mesmo: ensaio perfeito, performance perfeita. O arbítrio severo e intransigente do Calvin me permitiu algumas pausas durante o dia e eu me hidratava bastante para que minhas cordas vocais não se tornassem as cordas arrebentadas de um violão esquecido, ele gostava do posto autoritário e comandante que eu havia cedido a ele, por isso nem contestava muito mas talvez não soubesse o porquê de tudo aquilo. Eu meio que disse a ele que era só uma tarde de karaokê e se agradava a ele as minhas notas ainda, se minha voz ainda se mantinha a mesma. Eu apenas espero que a Hill e a Lou estejam se dedicando tanto quanto eu e quero que seja muito mais do que um pedido de namoro para o Calvin e um tributo à enferma Timmothy; quero que as pessoas presentes lá possam sentir a energia da música e possam ver o verdadeiro amor da vida delas, que sejam aqueles que estão junto com elas ou aqueles que refletem na frente do próprio espelho. E independente da apresentação ser dedicada especialmente a uma pessoa, é uma homenagem a todes aqueles que amam e não sentem vergonha disso, o que merece ficar no armário é apenas seus vestidos de lantejoula.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora