Capítulo XXXIII

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Por mais indisposto e sonolento que eu esteja, eu aparento ter dormido bem, até mais demorado do que eu pensei, me apresso a levantar e não me render a ficar prostrado na cama o dia inteiro. Lavo meu rosto e faço todas as minhas higienes matinais, inclusive a minha barba, que cresceu pelo meu próprio desleixo, apesar de gostar, pelo menos, do meu bigode. Depois de tudo, eu não tenho condições de ficar preso aqui e pego o carro para sair por aí, aproveitar para tomar meu café da manhã em qualquer confeitaria por aí, respirar um pouco fora de casa talvez me traga um pouco de esperança e estímulo para pensar em algo produtivo.
O frescor forte do vento contra o meu rosto sem que eu precise colocar minha cabeça para o lado de fora e revigorante e o clima agradável e o céu pouco ensolarado porém limpo deixa aquele dia ainda mais satisfatório mas o trânsito não está assim tão compatível. Eu encaro aquele semáforo vermelho com afobação que, assim como os outros automóveis, aguardavam pelo sinal verde e devido a esse grande acúmulo de carros, as pessoas que vendiam nas ruas, artefatos de toda variedade, aproveitavam essa oportunidade diante daquele rodízio de carros, a fim de esgotar seus produtos e lotar seus bolsos tão sedentos. Enquanto eu esperava impaciente, porém pacificamente, em comparação aos outros motoristas em algazarra com suas buzinas, uma senhora alcança a minha janela, completamente aberta e convidativa, vendendo cujo o seu último item.

- Bom dia, senhor! Eu sou de NorthSide City e trabalho na Spring Flower Store, estou aqui pedindo a sua contribuição para comprar o meu último exemplar de cravos brancos, para presentear a sua pessoa amada. Se for do seu interesse e do seu alcance, essa colaboração será recompensada pelo carinho e pelo sorriso da pessoa escolhida por esse buquê. - a recepciono bem e aceito a compra, tento acelerar o nosso processo por conta do semáforo verde e ela mal acredita que vendeu seu último buquê, apesar de ter vendido os seus outros em alguns instantes. Repouso aquele belo buquê de cravos brancos no banco ao meu lado e dou partida no meu carro, depois dos muitos agradecimentos pela caridade feita e eu que a agradeço pelo buquê tão caprichoso e sugestivo. Confesso que achei ela bem convincente e perspicaz só citar a cuja "pessoa amada" e soube me comprar para que eu comprasse isso. Apesar de ser ultrapassado e inadequado, um buquê de flores sempre foi considerado para ser um pedido de desculpas de quando se pisa na bola com aquele alguém e usar esse esteriótipo será péssimo, mas também seria ruim para mim aparecer assim de mãos abanando, mesmo que o meu propósito de ida seja para salvá-lo, sem contar as nossas pendências a se resolver. Só espero que essas flores sejam bem resistentes fora de um vaso com água por enquanto, elas precisam ainda estar vívidas e atraentes e surpreendentementes cheirosas para quando o Calvin pegá-las em mão.

O vapor quente e o sabor doce do meu café mocha me traz alívio e eu saboreio levemente antes do atendente trazer minha fatia de torta gelada de limão com raspas. Meus pensamentos estão a mil e nem o leve amargor do limão me incomoda tanto, quanto em relação àquele buquê misterioso. Eu poderia encarar isso como um cético incrédulo, como se não houvesse um envolvimento sobrehumano aqui; como se a senhora viesse me incomodar ou me importunar, só com o intuito de lucrar encima de mim como cliente fácil. Mas não. Ela veio tão cheia de propósito a mim, como se nós dois precisássemos, vendo em mim o cliente perfeito e eu nela, a salvação. E digo mais, a dúvida se aprofunda mais ao perceber o cartão tão bem escondido naquele buquê, como se fosse proposital para que eu não o achasse, com nome de destinatário e remetente vazios e um endereço anexado atrás do cartão chama atenção e sinto ainda mais por ter o encontrado. Aparentemente, parece ser o endereço da floricultura citada pela senhora mas meus pensamentos estão tão sobrecarregados, que é inevitável não pensar que possa ver o tal endereço onde o Calvin supostamente poderia estar, sinto vergonha e esperança ao especular isso mas fantasiar um pouco além da conta, ou pode me tirar o foco ou me levar para ainda mais perto dele. Percebo que o atendente vem na minha direção com uma bandeja na mão e parece equilibrar algo ali que está coberta, não posso imaginar algo nada mais do que a conta pelo o que eu consumi mas espero ele se aproximar mais para saber se é para minha mesa que ele vem. Ele revela o que há ali e põe aquela pequena tigela sobre a mesa, divido alternadamente o meu olhar para a tigela e para o seu rosto pouco sorridente. Há um pequeno biscoito num formato peculiar, talvez seja uma daquelas amostras de pratos que podem entrar para o cardápio usual com a total aprovação dos clientes mas eu espero ele se explicar.

- Com licença, senhor! Esse é o nosso biscoito da sorte caseiro, uma tentativa descontraída de levar uma palavra de motivação e alegria para nossos clientes, uma palavra de conforto ou de incentivo. A vida do cotidiano é tão corrida que mal temos tempo de pensarmos, principalmente logo de manhã, por isso aproveite essa mensagem que pode te ajudar de alguma forma, possa te ajudar a tomar uma grande decisão ou revelar ou descobrir algo que você tanto teme. É por conta da casa. - ele acena com a cabeça e eu agradeço, me atento ao biscoito que quase deixo de lado o resto do meu café, com a minha torta já comida. Quero delicadamente o biscoito, que faz um barulho de crocancia maravilhoso, pego aquele fino pedaço de papel dentro dele e o seguro com o indicador e o polegar de cada mão para ler aquelas letras garrafais e em negrito.

'SEGUES O TEU CAMINHO, QUE ENCONTRARÁS O SEU DESTINO.'

Aquele quase versículo bíblico, preguiçoso, que foi o pouco que coube naquele papel, está me fazendo pensar como tudo nesse dia está me mostrando alguns indícios nada singelos que eu não devo desistir das minhas conclusões e que há algo me apressando, talvez o desespero e a pressa do Calvin tentando se comunicar comigo. Esses biscoitos têm poderes e não tem como contestar isso, eu me levanto e vou até o balcão, empolgado.

- Hoje é o meu dia de sorte! - meu entusiasmo está claro e ele até sorri, se sente com a sensação de trabalho cumprido, pago pela refeição e agradeço por tudo: pela comida e de quebra, pelo apoio moral. Não posso tomar nenhuma certeza ou dizer se é verdade ou mentira, a menos que eu vá, não tenho muito o que fazer mas antes, penso em ir até a casa dele para verificar as coisas, para saber se eu não estou viajando muito ou só estou sendo muito desconfiado, mas também não posso me enganar pelas técnicas dos vendedores persuasivos e lá vou eu com as minhas suspeitas de novo...  Enfim, seguir por esse caminho, apesar de todo o incentivo e impulso positivo, só caberá a mim fazer tudo certo e aceitar ou não os sinais, vou pensar com todo o carinho e contar com o apoio, não da polícia e sim, da Kim e do Peter.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora