Capítulo LXVIII

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Calvin's POV

- Podemos ver daqui que todos nós tivemos nossos problemas familiares associados a um mesmo fator, que gerou esse desafeto e sequelas permanentes em processo de cura. E por essa quebra de expectativa que ninguém prometeu cumprir, somos taxados de falhos ou defeituosos, por não correspondermos às "leis da fábrica" e vistos como um projeto que deu errado. Posso perceber que você pôde presenciar de perto, mesmo que com um olhar empático, a dor e a guerra de se nascer LGBTQ+ em uma família ausente de amor, de validação e de afeto, sem o mínimo senso de humanidade. Revisitar o passado para nós nunca será fácil e admiro a sua coragem por tocar num assunto tão delicado mas que possamos lembrar dele sem a oportunidade de alterá-lo, mas sim com uma forma amadurecida de encará-lo sem medos. - digo, por imaginar o pesar que o Matías carrega e pela Josephine, que arcou injustamente pela amargura e falta de clemência das pessoas.

- É isso Calvin, a gente cresceu e fomos alienados por tanto tempo a dever obediência e uma submissão doentia, que visava o respeito da imagem por intimidação e medo, que quando nós contrariassemos nos momentos que fomos ensinados a nos calar, era visto como um ato de rebeldia e merecedores do castigo. Não é por isso que tanto lutamos? De estabelecermos relações que sejam mutuamente respeitosas e que fôssemos ouvintes e empáticos com as realidades divergentes? Acho que eles se sentem em posição de ameaça e perca de poder quando se tem uma voz a mais a se ouvir. Mesmo que soframos por circunstâncias diferentes, o poder que a perda tem em nossas vidas é dolorosa demais para querermos entrar em disputa de qual sentimento dói mais. - o Matías dá o ponto dele e o Nathan finaliza para dar o fim ao clima pesado e melancólico, mas não a nossa dor, que em algum momento futuramente, será buscada novamente por serem questões delicadas demais para serem guardadas para si.

- A gente sente o peso do veto o tempo todo, temos que nos adequar a maioria ou condenados a solidão por "escolhermos" ser diferentes demais para estarmos em meio ao resto. Mas que bom que em meio a essas conversas, podemos encontrar realidades que podem se cicatrizar juntamente por compartilharem suas dores e seus curativos. Não devemos nos esquecer de lembrarmos dessas pessoas que lidam com a falta de atenção proposital e que nossa mensagem de auto cuidado possa chegar tão longe o quanto possível para restaurar essas vidas que se cansaram tanto de continuar. E que possamos nos provar mais do que vítimas da sociedade, sem admitir que sejamos reduzidos a isso, sendo esses momentos, resumos da nossa vida, mas nunca a definição dela. - concluímos mais uma roda de conversas empoderadoras, com mais uma história a ser contada que merece nunca ser esquecida, e para sempre recordada como sinônimo de luta, de força e de bravura até o fim. Nos levantamos de um longo papo e de descanso, vamos a caminho de mais descobertas e o Matías nos guia para o alto de uma serra, enquanto nos acompanha a beleza por onde quer que formos.

- Chegamos ao bairro Santa Teresa! É um dos bairros mais queridinhos dos cariocas e é bastante conhecido também pela forte presença de intelectuais, artistas, acadêmicos, que procuram por passeios históricos. Quem sabe a gente não dá a sorte de esbarrar com alguma celebridade por aqui... - diz o Matías, em seu tom de profunda sabedoria sobre as preciosidades cariocas. E é realmente isso que eu sinto por aqui e é a energia que esse lugar transmite: um ar histórico onde tudo é um pedaço importante na antiguidade local. Fizemos uma visita rápida ao Museu da Chácara do Céu, ao Parque das Ruínas e demos vários cliques pela Escadaria Selarón, como em todo o resto, encerrando com a nossa expedição por hoje. Agora é hora de voltarmos para o nosso ponto inicial, e antes de voltarmos para o hotel e tendo enfrentado alguns perrengues cansativos para nos locomover e chegar aos determinados lugares, mas que não marcavam negativamente a nossa experiência, seguimos para aquele mesmo restaurante de especiarias brasileiras. E agora, com um pouco mais de conhecimento apurado, selecionamos alguns pratos que nos agradaram e acrescentamos mais algumas sugestões feitas pelo Matías, que sempre estão aprovadas. Depois de saborearmos uma boa feijoada e um legítimo refrigerante de guaraná, com algumas outras sobremesas doces e salgadas, nós partimos finalmente para o hotel para nos prepararmos, mesmo que antecipadamente, para a melhor noite de nossas vidas, que requer descanso, preparo psicológico e outras questões como transporte, roupas e documentos.  Adentramos nossos quartos depois de nos despedirmos, por compactuarmos em nós arrumarmos separados e só nos encontrarmos minutos antes da saída, para não "dar azar", como aquela tradição de casamento, que não se aplica muito bem aqui. Pensando bem, parece até tolice por que poderíamos nos ajudar em palpites e nos organizarmos nas outras questões mas claro que a gente vai se revisar no momento em que nos virmos.

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