Capítulo LXXV (parte 1/2)

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A tarde foi ocupada com todo o afazer restante de garantir as passagens de volta do Matías, tivemos a ideia de comprar um presente para nossos amores que ficaram, não necessariamente algo que remeta aqui mas é um agrado de coração, e também para manter a boa ordem de nossas malas mas tivemos o trabalho de redobrar todas as roupas e recriar toda uma nova organização para que coubesse outros adicionais junto a bagagem, minimizando a dobradura das roupas para restar mais espaço, de uma maneira quase estratégica. Depois de muita dobração de pano, o zíper fecha perfeitamente, sem esforço a mala e a parte da organização está concluída.

- Isso aqui é simplesmente delicioso. Eu preciso de mais dessa gelatina de leite. - pego a minha sobremesa que deixei de lado do almoço pela corrida arrumação e não poupo o comentário.

- Não, Nathan. - o Matías ri na sua correção e continua. - Isso é um pudim de leite, não uma gelatina. A textura é semelhante mas são nomes diferentes.

- Ai, desculpa. Minha memória gustativa é boa com sabores e texturas, não com nomenclaturas.

- Que tal um pôr de sol de descanso e pré-despedida na piscina? Foi onde tudo aconteceu... - o Calvin propõe e inevitavelmente concordamos, será impagável relembrar aquela cena refrescando a mente e todo o corpo exausto e vertido. Era por volta das 17:00 e o céu estava tomando suas paletas de cores contrastando com algumas nuvens mais escuras que traziam a noite consigo e algumas estrelas dispersas no céu e pelo sol ter sido muito radiante hoje, a água da piscina vai nos proporcionar uma sessão de hidromassagem terapêutica. Descemos para a área externa, eu de bermuda longa e sem camisa, o Matías de blusa térmica e de shorts e o Calvin também sem camisa e de short, mas levando um casaco caso o sereno se intensifique, todos levamos toalha e deixei meu celular carregando antes de virmos. À beira da piscina, analisamos nossos reflexos e o céu que acompanha a imagem e eu interrompo o confortável e inspirador silêncio por todos estarem admirando o céu.

- Pensei que fosse para combater o sol, não o frio. - agarro levemente o braço da blusa térmica do Matías, com o polegar e o indicador, mais preocupado em irritá-lo do que estar com razão.

- A blusa é térmica, é para conservar a temperatura quente do meu corpo em contato com a água morna da piscina para que o choque com o vento frio não seja grande.

- Eita, aula de física? Temos. - Calvin bajula o Matías e por ele ter tomado partido, e consequentemente, contra mim, eu não descanso.

- Sim, mas é própria para usá-la em um dia quente de praia, não numa noite fria e livre de raios causadores de câncer de pele. Tão contraditório quanto uma queimadura causada pelo gelo. - insisto na minha tese que defendo duvidosamente e ele ri, balançando os braços sem se importar.

- Ai Nathan, não enche. - um toque brusco do Matías é o bastante para que eu caísse direto na piscina e antes mesmo que eu pudesse emergir e agarrar seus pés como um bicho papão aquático, ele dá a mão ao Calvin e pulam juntos, se chocando contra a água e quase contra mim.

- Eu tento instaurar a alegria nesse trio e é assim que sou agradecido. Na era medieval, o bobo da corte tinha o seu valor. - lamento dramaticamente e cuspo um lento jato de água, depois de um afogamento proposital.

- Segura a onda, chafariz. Meu Deus, eu literalmente acabei de fazer dois trocadilhos com água. Essa merda de deboche é contagiosa. - ele ri, despertando o meu riso com meu semblante e dou batidas na água que espirravam esguichos na cara dele, sendo defendidas por ele.

- A sua necessidade eufórica de fazer uma gracinha é tamanha que não cabe em você e a gente que rebole para servir de compartimento. - o Calvin lida com a minha atentação todo santo dia e é suspeito para falar e apoia o ponto do Matías.

- Eu só capto as boas energias do universo e só peço que vocês sejam meus receptores. Mas percebi que nossas voltagens não são compatíveis.

- As energias que você recebe só pode ser paranormal, alguma espécie de Gasparzinho deve ter possuído você. - o Calvin ataca mas nem dou ouvidos, apreciando a sensação do meu corpo aquecido e minha linguagem do amor gratuita mas incompreendida. O céu já tomava sua escuridão e as estrelas se multiplicaram em se comparar a antes, se destacando uma brilhante lua minguante, o tom azulado mais sombrio e as nuvens estáticas. O Matías apoiou seus cotovelos na beira da piscina e os usou como apoio para que seu corpo flutuasse livremente e o Calvin se encontrava sentado na beira da piscina, com a postura curvada para trás, cotovelos apoiando e as pernas submersas. As pernas de ambos faziam movimentos coordenados, que causavam inquietações na água e faziam com que pequenas ondas se formassem, avançando à altura do meu nariz. Antes o nível da água alcançando os meus ouvidos, não tardou para que essas pequenas ondas invadissem as minhas narinas, nada convidadas e me causando uma reação imediata de expelir aquela água que fazia arder o meu canal respiratório, tossindo profundamente com os olhos arregalados e o rosto nitidamente vermelho. Recebendo os abanos constantes do Calvin e os tapas nas costas do Matías, me recomponho e respiro fundo sem a interferência agora da água, agradecendo que minhas vias respiratórias operavam normais agora e olhando com um semblante acusador para os dois sentirem a culpa por esquecerem que não tenho um par de guelras animalescas e sim, dois pulmões humanos. Recuperado das duas tentativas de afogamento velada, um momento terno e de repouso para admirar a noite novamente se torna um momento de tumulto e euforia na piscina, que nos trazia sorrisos sem remorsos e cheios de retrospectivas. Entretidos o suficiente na nossa perseguição aquática como se fosse um esporte para não percebermos a mudança repentina porém gradativa do fluxo do vento, apenas notamos a lua e as nuvens que corriam mais rápido, o céu se tingia de preto finalmente e então julgamos melhor sairmos da água para que o vento não se tornasse mais gélido e o Calvin seca bem seu tronco antes de vestir seu casaco. Eu abraçava meu próprio corpo na intenção de aquecê-lo e como ato de autosuficiência, e o Matías, na sua melhor oportunidade de caridade e de usar o meu próprio argumento contra mim, se aproxima sorridente, com a ação que está prestes a fazer. Sem perder a chance de me caçoar, me oferece o seu abraço úmido, que é aceito, selando a harmonia e saímos juntos, logo atrás do Calvin. Caminhávamos lentamente em passos curtos, com nossos corpos gotejando um pouco e cautelosamente, para que ninguém escorregasse desastrosamente pelo caminho levemente derrapante. Na pia do banheiro, descartamos todas nossas roupas encharcadas e pensamos como vamos colocar elas na nossa bagagem então eu as penduro no varal de toalha e é claro que eu não espero que elas sequem completamente, mas não quero enfiá-las mala adentro nesse estado.

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