Capítulo LXXV (Parte 2/2)

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Dividindo o mesmo quarto mas ainda não evacuando o seu dormitório, o Matías toma seu lugar ao nosso lado mas suas bagagens ainda não, e agora vestidos, deitamos na cama largados como se estivéssemos na grama. Decidimos que o Matías viesse para cá para que pudéssemos participar juntos de todo o processo de amanhã, desde de o despertar até o momento da chegada ao aeroporto, um momento doloroso mas também reconfortante que desejamos muito e cada um parece submerso na sua própria maré de pensamentos. Na minha caótica enchente mental, era difícil apaziguar a vontade de voltar para casa e a ansiedade é incontrolável, mas também de aproveitar os últimos minutos aqui, por ter experimentado os melhores saberes e sabores, e a gratidão que se destaca e a saudade nada figurativa. Voltar para casa será indescritível, retornar ao nosso clichê e costumeiro dia-a-dia será mais apreciado do que nunca, talvez mais do que o luxo e os prazeres que desfrutei aqui, e volto com a certeza de que vivi com a intensidade que eu queria e sem arrependimentos, me entregando a toda emoção que eu poderia viver. Tragos de volta à margem da vida real, o Matías reclama da fome e sua barriga confirma a sua lamúria então, o Calvin o acompanha para jantar e recuso o convite de me juntar a eles e me lembro do livro que comprei quando vir para cá e afim de terminá-lo, o pego esquecido e marcado na beira de cabeceira e retorno a página onde parei, sem a marcação devida. Minha leitura dura poucas páginas e nem preciso chegar a última página do livro para concluir que ele é maravilhoso, me entreteu até o fim mesmo com a minha pausa, consegui uma leitura fácil, divertida e dinâmica que suprimiu bem o meu tédio. Mesmo com a curta leitura, levei bons minutos, pelo menos tempo suficiente para jantar mas não confio na minha métrica temporal, talvez tenha sido uma ilusão do tédio que fez parecer passar metade de uma hora, quando nem se passou uma fração disso. Ligo a internet para conversar um pouco com o pessoal e atualizar mais detalhes sobre a nossa volta de amanhã e conferir as últimas notícias e outras notificações do meu celular. Nesse meio tempo de informação informal, os meninos voltam fartos e satisfeitos, tanto que andam com passos arrastados como vacas empaturradas.

- Pelo tanto que comi, é bem capaz de eu acordar amanhã e nem sequer querer comer algo antes de sair. - o Matías diz, gesticulando na barriga, alisando sua barriga como uma gestante acaricia seu filho.

- Realmente, alguns animais têm essa habilidade de lenta digestão para que fique saciado prolongadamente. - minha chance de zoar eu não perco e o Calvin sorri do banheiro pois está escovando os dentes para dormir.

- Inclusive a jararaca deve ter se alimentado muito para não querer ter jantado, para estar na processo de digestão, e produção de veneno também.

- Claro, porque eu te janto a todo momento. Tem coisa melhor? - reproduzo com a língua o ruído similar  de uma cobra enquanto ele vai para o banheiro fazer o mesmo processo do Calvin.

- Você também não perde a oportunidade, né? Não sei com quem aprendeu a retrucar assim. - ele diz e meu olhar já pesa sobre ele, não sentindo orgulho dos seus próprios exemplos.

- Não sei, deve ser um curso de má influência na internet... - pouco a pouco todos tomam de volta os lugares na cama, o Matías verifica bem a tranca de seu quarto e vou escovar os dentes para seguir o procedimento de todos. Meu celular volta para a tomada para aguentar comunicação por muitas horas logo cedo e assim, nenhuma luz se faz presente no quarto e é difícil distinguir olhos dispostos de olhos sonolentos, nossas funções de movimento se desabilitam aos poucos com a nossa imobilidade e nosso corpo descansa para o agito das tarefas do dia de amanhã.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora