Capítulo LXIV (Parte 2/2)

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Depois da adrenalina às alturas, seguimos para alguma atividade mais tranquila e relaxante, caminhamos pela orla da praia de Copacabana e tudo ali parecia reluzir beleza, nos extasiando com o contraste urbano e natural em uma escala surreal. Mais a frente na orla, nós encontramos uma tenda, uma sorveteria a beira-mar, a Jared & Trystina's Ice Cream, e estabelecimento mais adequado em um local mais adequado não poderia haver, nos aproximamos e um simpático casal de velhinhos que também fala nossa língua nos recebe e nos aponta para um menu colado na parede para escolhermos nosso sabor de sorvete. Entre muito chocolate e outras delícias açucaradas, era difícil de se decidir mas eu sinto que, como no Olly's, toda combinação ousada no fim vai valer a pena. Mas mesmo com esse conceito em mente, a indecisão é clara e optamos cada um pelo mesmo sabor de sorvete disponível  e escolhemos individualmente nossos acompanhamentos. Após as escolhas definidas, esperamos pelo preparo mas não vejo nenhuma máquina de sorvete expresso dentro daquele espaço onde estão os velhinhos. Ele apanha duas espátulas pequenas e pelo som de fricção feita pelo Jared, parecem bem amoladas, sem precisar serem pontiagudas, então ele põe suas luvas e liga uma chapa que está a sua frente que logo cria uma espessa camada de gelo e acrescenta aos poucos os ingredientes sobre ela. A fricção contra a chapa e entre as espátulas era intensa mas a sensação de experimentar aqueles rolos gelados de chocolate com confeitos me instigam a aguentar todo esse ruído metálico enquanto nossa conversa por aqui nos distrai do trabalho ágil e experiente do velhinho. O meu era de chocolate com morango, o do Nathan era de chocolate com calda de caramelo e o do Matías era duplo chocolate, no sabor e na calda, e a velhinha organiza respectivamente os nossos pedidos e nos entrega, recebendo nosso pagamento em troca. Apreciamos nosso sorvete feito pelo sorveteiro espadachim e por sua fiel acompanhante seguindo pela orla até a areia quente e fofa, que não incomoda por estarmos todos de sandália. Seguimos pela faixa de areia, não tão próxima da margem pois não queremos pés e sandálias encharcadas e ainda apreciando nosso sorvete em estado de decomposição (no melhor sentido), que é o meu favorito, honestamente. Subimos no próximo acesso de escada a orla pelo inviável círculo de pessoas na praia e adiantamos a chegada a nossa próxima parada pelo número contido de pessoas aqui encima. É inegável a diversidade de pessoas que andam por aí, seja na avenida, seja aqui na orla ou lá na areia, fazendo diversas atividades e seguindo diversas direções: alguns grupos de adolescentes aproveitavam o sol e se refrescavam na água do mar, exibindo seus corpos juvenis, outros adolescentes que preferiam a solitude, andavam de patins, de skate e de bicicleta por aqui com seus fones de ouvido e outros grupos que pareciam procurar pelos infinitos prazeres e lazeres que a cidade oferece.

- Eu sinto pena das pessoas que associam diversão a dinheiro, que para ter uma tarde boa e movimentada, precisa visitar restaurantes, shoppings e se empobrecer com qualquer divertimento pago por aí. Pois eu me contento apenas com boas companhias e assuntos que ocupam toda uma tarde, sem qualquer valor monetário. - digo, por apreciar tudo a minha volta e o valor de uma boa volta por aí com quem amamos apenas por diversão, e não por tédio.

- Pena que pagamos pela viagem, pelo evento que vamos mais tarde, pela nossa vinda até aqui, pela... - o Nathan acaba com toda a minha visão simplista com a sua capitalista e consumista, me fazendo me sentir hipócrita e ridículo, vendo que ele tinha tópicos suficientes de apego material e econômico. Tudo bem, eu concordo, mas o que quis dizer é que, em algumas ocasiões, você gasta uma parcela da sua quantia que poderia ser economizada se você preferisse sair com os amigos para darem uma volta ou apenas se encontrassem para conversarem. Depois de tanta caminhada, uma parada é obrigatória num banco comprido de concreto abaixo de uma enorme árvore, com a brisa do mar que ainda é presente e que também causava sonolência pelo frescor, mas no momento eu só quero descansar as minhas pernas mesmo.

- Agora parece um bom momento para debatermos entre nós sobre nós, porque até agora eu só sei que o Nathan é o meu meme favorito e que vocês são meu casal 10/10. Depois de mim e a Carolina, é óbvio. Vamos furar essa bolha superficial e vamos explorar um pouco mais dessa caverna que esconde muito de nós. - o Matías propõe e concordamos, e ele sugere. - E por onde vocês querem começar?

- Uma boa história tem uma estrutura temporal, não necessariamente linear, mas que eu espero que tenha um início, um meio até o momento atual porque eu não quero um desfecho para tudo isso tão cedo. Eu me recuso a aceitar que tudo isso pode ser tão passageiro quanto essas nuvens no céu e que tudo pode mudar ao já não estarmos mais aqui. - digo, aceitando involuntariamente a começar a contar a nossa retrospectiva amorosa (e desastrosa) da nossa vida como casal para o Matías. Respiro fundo como toda vez e me lembro do primeiro momento que o vi, começando por ter mais habilidade com as palavras do que o Nathan, sem desmerecer as suas citações pontuais incrivelmente específicas.

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