Capítulo XIV

18 2 0
                                    


- Que bonito hein, Calvin? Parece que conversar com você não deu muito resultado. Eu disse para você não sair de casa mas você me desacatou. - Já não bastava o seu namoradinho, agora te pego andando com uma bichinha e aquela sapatão, a própria parada gay atrás de você. - ela insulta os meus amigos com grosseira e me impressiono como, na cabeça dela, a homossexualidade pode corromper e arruinar o caráter e princípios dessas pessoas, continuando com o seu discurso de ditadura da perfeição. - Parece que aquele tapa não te consertou, será que vou ter que te dar uma surra para você tomar jeito? - volto a refletir e tentar entender o ponto de vista ignorante de minha mãe e a sua citação aos meus amigos que só pode significar uma coisa...

- Despenso seu modo saudável e adorável que você chama de dialogar e quando criar decência e souber conversar pacatamente,  aí a gente se fala. Não me choca uma pessoa como você ter um pensamento tão medíocre assim, de achar que as pessoas com quem eu me envolvo forma meu caráter e define minha orientação sexual. - esboço, mais uma vez, um profundo desabafo do que um simples pensamento. Antes mesmo que eu pudesse voltar a limpar as manchas que já estavam quase secas, estando de joelhos, ela vem em minha direção e me agarra pelo braço, me levantando fortemente como se eu fosse uma marionete governada por cordas.

- Olha aqui moleque, se você acha que vou ter dó de meter a mão na sua cara de novo, você está muito enganado. E não finja que não está me ouvindo! Se você pensar em dar um passo para fora de casa, seu destino já está marcado e acho que você não vai querer pagar para ver. - quase erro um passo ao ficar de pé forçadamente e seguro minha toalha firmemente para que não caísse e não tornar aquela situação ainda mais constrangedora do que está, sinto cutículas de saliva atingir meu rosto e sua ameaça contra mim sai firme e decidida e não havia dúvida ou tremor no seu tom. Meu semblante permanecia inexpressivo mas por dentro eu sentia medo por nunca ter a visto daquela forma, com uma postura tão selvagem e bruta, sem se importar em atropelar meus sentimentos como seu modo de dirigir nada prudente e minha confiança e coragem não existiam naquele labirinto de emoções que eu sentia percorrer.  Depois de tanto a encarar, balanço meu braço e ela o solta, abaixo para voltar a limpar o chão e ela sai pisando nas manchas no intuito de piorá-las mas sem sucesso por já estarem secas. Esfrego todo o chão, me preocupando com toda aquela situação, por conta que ela se agravava cada vez mais e eu receio de como tudo isso possa acabar, levando a sério, um pouco mais, a ameaça partida dela. Vou finalmente vestir uma roupa seca e estendo minha roupa molhada e o pano que limpei o chão, depois de lavá-lo, assim subindo para o meu quarto com o semblante indefinido, o rancor e a mágoa novamente tomaram conta de mim, porque enquanto ela trata isso como um duelo cujo ela sempre quer a vitória, me faz dizer coisas que eu sinto mas seria rude demais magoar o sentimento de outrém como ela faz, porque a minha intenção nunca foi a alcançar ou a ultrapassar, eu quero estar bem longe desse nível de toxicidade que ela transmite e de prepotência tão nociva. Deitei na minha cama, com o rosto enfiado no meu travesseiro, procurando me acalmar e sinto uma leve sufocação mas forço ainda mais meu rosto contra o travesseiro, levando o braço para secar as lágrimas ao levantar a cabeça, percebendo que meu braço tem mais marcas do que eu gostaria. A que foi feita por mim mais cedo que, por sorte, não foi percebida por ela, não doía tanto mais e a água salgada do mar não as faziam arder tanto, talvez tenha até obstruído qualquer restante de impureza que tenha ficado para trás, mais uma é instaurada nele por mãos perversas, que me apunhalavam ao invés de me acolherem. Também me lembro da forma desrespeitosa e grotesca pela qual ela se referiu aos meus amigos e os terem citado de forma covarde sem que tivessem o direito de defesa e de ela ter comprovado que era ela no volante pelos seus comentários. Resolvo não tomar banho essa noite por ter me lavado na ducha da praia antes de termos ido embora, sinto minha barriga roncar por não ter comido há horas e o meu relógio marca 17:03 e me faz descer para averiguar o armário da cozinha. Depois de sair do meu quarto, percebo que minha mãe está no quarto dela com a porta fechada, sendo possível ouvir alguns ruídos de coisas sendo arrastadas, me fazendo ficar aflito e preocupado a pensar 1.001 possibilidades do que poderia estar se passando naquele quarto e naquela mente tão vesânica. Seria uma simples faxina, uma mudança singela de móveis ou uma mudança ainda mais grave, de todos os modos em todos os sentidos para se concretizar o meu destino já previsto por ela como uma profecia apocalíptica?
  Sigo para a cozinha, ainda reflexivo mas de forma otimista e procuro por alguns cookies e suco de pêssego que havia na geladeira, levando os cookies no microondas para que suas gotas de chocolate derretessem para que ficassem mais saborosas e levo tudo para o meu quarto, decidindo assistir a algo ou um filme, começar alguma série que o Pet tanto me recomenda mas parar no quarto episódio ou maratonar meus Youtubers favoritos. Desconecto meu celular do carregador e entro na minha plataforma de streaming favorita (e única), à procura de algum filme interessante, me lembrando de uma sugestão bastante relevante nas palavras do Pet e vou à procura dele. O filme se chama Com Amor, Simon e pelo o que eu li no sinopse, o filme se trata da vida de Simon Spier, que é um menino comum, mas sofre por esconder um grande segredo e tudo fica mais complicado quando ele se apaixona por um de seus colegas de escolas, anônimo, com quem troca confidências diariamente e seu grande e sigiloso segredo é pelo fato dele nunca ter se revelado gay para a família e amigos, me fazendo sentir que vou derramar  boas lágrimas e ao longo de sua duração, se mostra bem interessante e cativante, prendendo minha atenção e curiosidade de espectador até o fim.

Apenas Segure A Minha MãoOnde histórias criam vida. Descubra agora