Capítulo LVII (parte 2/2)

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Durante toda a tardezinha, minha mente pairava distraída como uma andorinha desorientada, pensando sobre alguns obstáculos pelos quais eu precisaria solucionar logo, sem focar tanto em manter essa surpresa por um prazo longo. Todas as aquelas questões voltam e mais algumas, como a de estadia e as compras das passagens também, esse último era o mais urgente de todos e o trato com a atenção devida por conta das entradas para o evento já compradas.

- Nathan! - berro pelo seu nome por ele estar no quarto, amanso a voz ao vê-lo atender aparecendo para mim para tratarmos do cujo assunto. Ele vem mas não desce a escada, espera que eu diga daqui para ele escutar de lá mas peço que ele desça, se aconchegue ao meu lado e assim ele faz, me viro para ele e ajeito minha postura para o importante comunicado.

- Precisamos conversar... - meu intervalo na voz não faz ele reagir mas parece prender sua atenção mais ainda. - Sabe, durante todo o nosso tempo juntos, desde aquele dia da tempestade em que você mostrou que independente do modo como eu estava ou qual fosse a circunstância lá fora, eu sempre teria um espaço aqui com você, apesar de isso ser apenas um ato de solidariedade e de empatia, eu enxerguei muito mais. Muito mais do Murray, de fato. Que sorria, apesar de ter uma bagagem de decepções anteriores; que fazia sorrir, mesmo sem ter a alegria para si e que amava mesmo sem ter o amor de volta e aprender muito mais sobre a vida, a única que me interessa, que é a do seu lado. Então, eu só quero dizer isso, pra retribuir as suas belas palavras da apresentação que eu não tive a oportunidade de devolver. Mesmo que você já saiba, eu nunca serei capaz de fazer algo para retribuir a sua gentileza de sempre ter estado aqui aqui por mim e de sempre estar disposto a me resgatar das mãos indevidas e de me acolher como seu, mesmo eu vindo de outro ninho. Obrigado por tudo e por sempre lutar por mim e por nós, de me ensinar muito sobre a vida e de querer bater minhas asas para estar contigo. Te amo, Mãe Murray. - tiro de trás de mim um envelope que improvisei no qual coloquei as duas entradas e um pequeno adesivo de borboleta que cola a parte frontal e dou em suas mãos, ele me olha pela centésima vez com aqueles "olhos tristes", que seguram lágrimas acumuladas que poderiam escorrer com uma única piscada. Ele retira o adesivo delicadamente para que não estragasse o envelope, fofo como ele é, e revela o que havia dentro, observando a sua reação expectativamente enquanto ele analisa e assimila do que se trata.

- São tipo... entradas? - afirmo à sua pergunta.

- As comprei porque precisava começar de algum lugar o que eu planejava mas não tive tanta experiência como alguém com a mente tão arquiteta para dar continuidade ao plano. São entradas para um evento internacional mas ainda não consegui as passagens e nem reservas em um hotel por lá. Acha que conseguimos?

- Com certeza. Por essa data aqui, acho que conseguimos pôr em dia todos os requisitos necessários como nosso passaporte e sermos felizes. Mas... Onde seria o "Rio"? Não faz referência a nenhum país na minha mente agora... - ele diz, certamente por notar a enorme logo do Rock In Rio e não saber a localização.

- Fica no Brasil. É uma das capitais mais populosas de lá e o dia do evento, como você pode ver, está se aproximando, então se você realmente aceitar, temos que garantir estadia, boa vista, poltronas confortáveis e looks bafos.

- Realmente. E qual é o idioma deles mesmo? Espanhol? Inglês?... Francês?! - nego todas as suas tentativas e gargalho chocado com a última, rindo da sua duvidosa dominação em geografia.

- É o português, não tipo o de Portugal; é a língua materna deles. Acho que têm pouco domínio em inglês mas devem ter preparo para receber turistas estrangeiros, independente do idioma.

- Percebo que você está muito bem informado, só falta a fluência na língua portuguesa e logo, vamos atrás de tudo que nos falta. Hasta la vista, Rio!

- Você sabe que eles não falam "hasta la vista" por lá, 'né? Isso é espanhol e não, português. Seria "até a vista, Rio.

- Eu não quis imitar os brasileiros, só quis dizer sem referência a idiomas. A cultura brasileira 'tá te causando neurose, cara. - realmente, a cultura é cheia de pluralidade e tão diversa que é difícil não querer aprender mais, afinal, um pouco de conhecimento nunca é demais para um cérebro desinformado.

- Confesso que fiquei um pouco temeroso de fazer tudo isso assim sem te consultar, você poderia simplesmente não aceitar viajar assim tão inesperadamente mas já que aceitou, é mais um embarque nas nossas loucas aventuras, e agora internacionais.

- Amanhã cedo, iremos atrás de tudo, ok? - eu afirmo com a cabeça e ele me dá um beijo de boa noite, ele põe o envelope fechado debaixo do jarro de cravos brancos que ainda se mantém vivos e vamos para a cama, para estarmos bem descansados e dispostos para os afazeres de amanhã.

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