Acordo e pelo meu cansaço e fraqueza, sinto que não dormi o suficiente e aquela vontade ansiosa que o amanhã chegasse, parecia pronta para recuar do meu corpo que já parecia dolorido o suficiente, talvez não só fisicamente. Ouço o telefone tocar novamente e salto da cama para ir atendê-lo na sala, quase me falta fôlego e depois desse exercício enquanto eu mal pude despertar, eu posso me atentar a hora e percebo que essa é uma das poucas vezes que uma ligação matinal não me incomoda.- Josephine? - a única que me interessava àquela hora da manhã e por quem eu esperava hoje porque a Carolina ainda não me deu uma prévia de volta.
- Bom dia, Matías. Desculpe se te acordei... - reconheço não ser ela no telefone e sim, a moça da casa de acolhimento.
- Que isso... Presumi que fosse a Josephine mas creio que o assunto dessa conversa seja ela, certo?
- Sim sim, ela saiu cedo para trabalhar, sempre pontual. Parecia alegre e sorridente, acho que vocês conversaram ontem porque ela estava assim desde que estava no telefone.
- É, também preciso buscar algumas coisas em casa. Inclusive, eu queria pedir o contato dela para conversar. Você pode? - ela assente e me manda pelo contato que acabo de passar, e agradeço. - Caso ela voltar mais cedo, pode me ligar que eu vou estar aí tão rápido quanto um teletransporte. - desligo e agradeço novamente pelo suporte, aguardo por notícias mas não me contento em esperar, e decido telefonar para a Josephine e só espero que eu não a atrapalhe, mas antes a mando uma mensagem para ligar depois. Ela diz poder mas conversa baixo, o que eu suspeito que ela não poderia por estar no seu horário de trabalho mas não reclamo, posso ver o seu rosto que mudou um pouco e sua feição que permanece jovem, com leves sinais de maquiagem. Ela também pode ver o meu e diz que envelheci, ela deve concluir pelo meu rosto com barba, bigode, voz mais rouca e rosto menos jovem mas no bom sentido, como se eu tivesse amadurecido e me tornado um homem adulto. Conversamos mais enquanto ando pela casa fazendo algumas tarefas, sei que estamos ambos ocupados mas queria vê-la por sentir saudade e não ter me contentado apenas com sua voz ontem, mesmo que faltasse algumas horas para o nosso encontro, depois do horário de almoço. Conforme nossa conversa se prolonga, ela parece menos comunicativa, alguém parece a flagrar e diz que precisa desligar, eu entendo e peço que mande mensagem quando seu expediente acabasse para conversamos mais. Ela desliga sem palavras e eu me preparo para voltar em casa, para buscar alguns pertences que deixei para trás e não espero ser recebido com saudades e entusiasmo, só espero que não impeçam minha passagem porque, no mínimo, tenho o direito de buscar o que é meu, já que minha presença como filho lá não é aceita. Devidamente pronto mas não psicologicamente para o que pode acontecer, não espero que eles achem que eu sumi e milagrosamente quero voltar para eles e não sei mesmo o que esperar dessa recepção, pego a bicicleta esportiva da Carolina na garagem, sem o mínimo espírito de reconciliação ou de reaproximação. Bato à porta, e minha mãe parece responder sem saber que sou eu, ela abre e só a encaro, ela só deixa a porta aberta e sai, digo que não vou demorar mas todos os dois parecem dar de ombros, e sigo o caminho para o meu quarto que eu ainda bem lembro. Basicamente tudo meu ainda estava aqui, intocado, e preparo minha pequena mochila, que escolhi propositalmente para levar o pouco que fosse daqui. A minha prioridade são roupas e outras coisas de valor sentimental, ainda vou para o quarto onde a Josephine dormia mas parece quase desocupado de tão vazio, não estava assim enquanto eu estava aqui mas levo algumas coisas também que posso recordar dela e não necessariamente daqui. Muita coisa é deixada mas a minha mochila é preenchida com o básico, quero que eles ponham essas sobras em um latão velho, coberto com querosene e incedeiem, para apagar da mente e resetar todas as memórias dos filhos que fracassaram como "homens" e que se esvaía com o volume e o odor forte e intoxicante da fumaça preta, todo o amor que um dia foi sentido porém substituído por um sentimento malevolente e que foi possível romper um laço familiar para sempre. Saio quase sem ser notado depois da minha limpa seletiva, sem a concentração ocular sobre mim, sem que uma palavra fosse trocada e fecho a porta sem muito alarde como se eu nunca tivesse pisado os pés aqui, porque de fato essa é uma despedida definitiva. Pego minha bicicleta com o pedal na calçada como apoio, não tão a margem da rua, e antes que eu sentasse no banco, sinto uma vibração constante que vinha do meu bolso e sigo empurrando a bicicleta enquanto levo a mão no bolso e assim, à orelha.
- Alô? Josephine? - chamo antecipadamente por ela mas percebo que os números não são compatíveis, por ser desconhecido.
- Não foi dessa vez, Matías. Você pediu por notícias e aqui estou eu. - era a moça do abrigo mas ligando para o meu celular agora, com um tom abatido aparentemente.
- Sendo a Josephine, qualquer notícia me interessa. Pode mandar. - mantenho a calma ao receber a notícia, e é misteriosa o suficiente para me manter alerta porém clara o suficiente para me dizer que é uma emergência.
- Então venha, por favor. Parece que algo aconteceu com a Josephine no caminho de volta mas por sorte encontraram o número de contato daqui junto com ela e nos alertaram. Não sei o que é ainda mas parece grave. - aquela angústia se acentua no meu coração e o mal estar confirma o meu mal pressentimento que senti ontem.
- Me mande as coordenadas de onde você recebeu a ligação e me mande agora. Eu estou pela rua e vou correndo para lá. Posso até chamar por alguma ajuda e espero que seja pela polícia. - ao receber o endereço, não posso me conter ao pedalar, sem esperar que ela dissesse que me acompanhasse e que meu nervosismo e minhas mãos trêmulas agarrasem bem o guidão e não me fizesse tornar a situação ainda mais preocupante. Meu olhar está focado em quem vem a minha frente e minhas mãos estão firmes ao desviar, minha respiração está ofegante e meu coração totalmente desordenado, sem saber reagir ao golpe em parcelas da má notícia mas continuo por não estar tão distante. Por estar com as mãos tão ocupadas e por precisar manter minha velocidade, estou impossibilitado de pedir por ajuda mas espero que quem alertou o abrigo, possa já ter feito esse milagroso favor, seja lá o que aconteceu. Fantasio na minha cabeça, tentando fugir da realidade que tudo não possa ter passado de um mal entendido ou que as informações foram passadas de forma arrastada e que todos tenham compreendido de forma errada mas minha mente não deixa que eu tire essas conclusões com calma pela adrenalina que toma meu corpo.
P.S. do autor: Oii galera, tudo bem? Eu espero que sim ❤️ Então, estou passando aqui para alertar que o próximo capítulo tem gatilhos, assim como todo o livro, mas isso será adequadamente sinalizado futuramente. Descrever violência explícita requer sensibilidade e cuidado mas infelizmente temos que tocar em assuntos pertinentes mas que podem engatinhar o leitor e por isso, estejam avisades. Todo o livro posteriormente terá seus devidos alertas sobre gatilhos e também junto da sinopse para que ninguém possa se sentir injustamente desavisado. Recado dado, boa leitura ❤️
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Apenas Segure A Minha Mão
RomanceCalvin Minsky é um garoto de 17 anos, promissor mas que ainda não enxerga em si potencial e está afundando em seus próprios dilemas emocionais. Sendo filho único e sem uma figura paterna presente dentro de casa, tem de conviver com sua mãe autoritár...