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Domingo, 16:56...

Letícia

- Hei, São Paulo, terra de arranha-céu
A garoa rasga a carne, é a Torre de Babel
Família brasileira, dois contra o mundo
Mãe solteira de um promissor vagabundo- DG cantava e dançava no meio da sala.

- Luz, câmera e ação, gravando a cena vai
Um bastardo, mais um filho pardo sem pai
Hei, senhor de engenho, eu sei bem quem você é
Sozinho cê num guenta, sozinho cê num entra a pé- Carol acompanhava ele na dança e na cantoria.

- Cê disse que era bom e as favela ouviu
Lá também tem uísque, Red Bull, tênis Nike e fuzil
Admito, seus carro é bonito, é, e eu não sei fazer
Internet, videocassete, os carro loco- DG continuou.

Dei risada, me levantando do sofá ao ouvir alguém bater palma.

- Abaixa esse som um pouco, tem gente chamando lá fora- abri a porta da sala.

- Deve ser nossa comida que eu pedi- saiu correndo portão a fora.

- Atrasado, eu tô um pouco sim, tô, eu acho
Só que tem que
Seu jogo é sujo e eu não me encaixo
Eu sou problema de montão, de Carnaval a Carnaval
Eu vim da selva, sou leão, sou demais pro seu quintal- Diogo me abraçou por trás, cantando.

- Que músicazinha ruim, em- ri.

- Respeita meu racionais, filha- apertou minha bunda.

- Problema com escola eu tenho mil, mil fita
Inacreditável, mas seu filho me imita
No meio de vocês ele é o mais esperto- Carol já voltou cantando dnv, com as sacolas de lanche na mão

- Ginga e fala gíria...- Diogo voltou a cantar com ela.

- Gíria não, dialeto- completou.

- Senhor, oq eu fiz pra merecer isso?- me joguei no sofá com a mão no rosto.

- Levanta amiga, vem cantar- puxou minha mão.

- Esse não é mais seu, oh, subiu
Entrei pelo seu rádio, tomei, cê nem viu
Nóis é isso ou aquilo, o quê? Cê não dizia?
Seu filho quer ser preto, ah, que ironia- Diogo sorriu, cantando contente.

- Vida, vai lá comprar um refrigerante- pedi, tirando meu lanche da sacola.

- Me espera pra comer- me deu um selinho, saindo.

- Ai, o jogo já vai começar- Carol desligou o som, aumentando o volume da televisão.

Ela pulou no sofá com dois lanches na mão, animada pra ver o jogo.

- É só ter fé no pai, que o inimigo cai- DG entrou com duas sacolas na mão, cantando.

Ô homem cantor.

- Que rápido- levantei pra pegar os copos na cozinha.

- Trouxe cerveja e a coquinha da minha vida- me parou no caminho da cozinha, me dando um beijo rápido.
...

Minha mandraka!Onde histórias criam vida. Descubra agora