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Sexta, véspera de natal, 11:57...

Eduarda

- Eu!- falei.

Não nos víamos nem nos falavamos desde que fui morar com o Caíque, semanas atrás.

- Quem é vivo sempre aparece- minha mãe o olhou, fazendo bico.

- Oi, tia- sorriu, beijando a testa dela.

- Cadê as roupas?- perguntei.

- Ta grávida, né? Fiquei sabendo- mordeu a maçã que estava em sua mão, desviando o olhar.

- Sim, mas as roupas que eu quero são pra ela- apontei pra Larissa.

- Quem é essa?- perguntou.

- Larissa, ela vai ficar aqui comigo- falei- e como aqui não tem mais criança que possa emprestar roupa, eu preciso de roupas novas.

- Suave, eu trouxe. Tá na sala- deu as costas, saindo da cozinha- tem coisa pra caralho, pode escolher- abriu as bolsas, colocando as coisas no sofá e mesa de centro.

- Cadê o Beto?- perguntei do dono das peças.

- Tá ocupado com a mulher dele, organizando as parada de natal. Aí pediu pra eu vir- deu de ombros- favor a gente não nega pra ninguém.

- Tem chinelo? Esse que tá nela, tá meio apertado- olhei umas sandálias, separando quatro e dois tênis.

- Tem sim, tá aqui- mostrou alguns.

- Esse aqui- indiquei com o dedo.

- Pô, tu vai fingir que não aconteceu nada mermo?- perguntou, me entregando o chinelo branco com brilhinho.

- Mas não aconteceu nada, Micael- falei, colocando o chinelo no pé da Larissa- ta apertado?- perguntei.

- Não- negou com a cabeça.

Conferi o número das sandálias e dos tênis que eu tinha separado, vendo se batia.

- Como não aconteceu nada, Eduarda? Eu falei que te amava, me declarei pra você- me olhou.

Pisquei, buscando as palavras.

- Eu não amo você, não desse jeito- falei com cautela, olhando uns vestidos- sinto muito por isso- continuei, sem olhar pro seu rosto.

- Porra, eu sei que não! Mas, bora tentar, papo reto mermo- puxou de leve meu cabelo- vai que tu começa a me amar, sla, do nada. Ou com macumba, não sei- riu.

- Para de graça, menino- o olhei, séria.

- Tô falando sério, minha vida. Bora tentar?- segurou meu maxilar, me forçando a encarar seus olhos.

- Eu acabei de sair de um casamento- murmurei- não tem nem duas semanas, Micael.

- Casamento que durou um mês, com um cara que te fez mal pra caralho e te agrediu- rebateu.

- Independente...- falei, sem argumentos.

- Bora tentar, vai- roçou nossos lábios- eu sei que vai dar certo, eu quero que dê certo- sussurrou.

- Você vai passar o natal com quem, Micael?- a voz da minha mãe soou na sala, oq nos fez dar um pulo de susto.

...

Minha mandraka!Onde histórias criam vida. Descubra agora