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Kiara Carrera

Fingi ter dormido para que Jj me deixasse em paz, assim que vi que seu rosto estava tranquilo, indicando o sono profundo me sento na cama. Deveria ser estranho eu estar aqui, dormindo na cama dele, sóbria.

Mas agora agradeço por não estar sozinha, a aquela sensação de espaço apertado, as mãos suadas, o coração acelerado e respiração ofegante me fazem ficar inquieta. Eu queria dormir, dormir pra não pegar a chave da porta e sair por aí atrás de um bar só pra que isso passe. Não me tornei viciada a bebida, me tornei presa ao alívio que ela me proporciona.

O gosto é horrível, não vou negar mas a sensação de sentir que os problemas evaporam quando bebo é mais reconfortante do que a bebida ardente percorrendo minha garganta.
A bebida é o modo temporário que achei de me afastar dos meus problemas, por pouco tempo que seja.

A abstinência média que tentei ter só piorou as coisas. Não sou suicida, que pretendo me matar a qualquer momento. Sim, já tive episódios comparados a depressão, mas em cargas leves. Nunca pensei em me matar, seria o maior desgosto para minha avó, qual prometi ser melhor todos os dias.

Coisa que não cumpri.

Antes da minha mãe perder um pouco da sua sanidade mental, tínhamos desavenças, ela não gostava de certas decisões que tomava, eu saía, bebia, chegava em casa tarde da noite e isso acordava a fera dentro dela, mas se ficasse em casa, seria pior.

As palavras dela ecoam na minha cabeça, como um lembrete que ela estará me atormentando, até mesmo em meus sonhos.

Minhas mãos estão úmidas e sinto o quarto ficar menor a cada momento. Me encolho, abraçando minhas pernas, sentindo um aperto no peito e me sinto sozinha, desamparada. Tento controlar minha respiração e sem que perceba solto um soluço, logo vejo o colchão se mexer e luz ser acesa.

Jj tem os olhos quase fechados pela luz, os cabelos bagunçados e os olhos preocupados ao me olhar.

— O quê aconteceu?

— Foi só um sonho ruim. - Respondo, tentando não soluçar.

— Você pode me contar Kiara.

— Não quero que se preocupe com os meus problemas.

Jj se senta ao meu lado, me encarando de costas pra luz, me fazendo ver somente sua silhueta mas não seu rosto.

— Você me ouve quando preciso, quero fazer o mesmo.

— Eu... eu... deixa quieto Jj, não é nada.

— Você estava chorando, claro que tem algo.

— Minha mãe está tomando remédios controlados, precisa ser vigiada vinte e quatro horas por dia pois tenta se matar. Meu pai vive em um casamento que mais parece uma prisão, como ele vai deixá-la daquela forma?

Solto um soluço involuntário.

— Ela deixa um prato na mesa onde meu avô sentava, não deixa ninguém sentar no lugar dele e as vezes conversa com ele. Jj eu não aguento ver minha mãe assim. — Liberto as lágrimas que tentava segurar a todo custo.

— Você poderia ter me contado, eu poderia te ajudar.

— Saí da casa dos meus pais por causa disso, Cléo foi uma amiga maravilhosa me acolhendo na sua casa mas eu quero morar sozinha, não quero dar trabalho pra ninguém e nem ser um estorvo na vida de alguém.

— Você não é um estorvo. Mas você está morando aonde?

— Morando é uma palavra muito grande, passo alguns dias na casa da Cléo, outros na casa da Sarah, na casa da Hunter mas desteto isso. O dinheiro que eu ganho não paga um apartamento do tamanho de um fósforo aqui nessa cidade. Não posso ir para a cidade vizinha pois o trabalho é bom e minha família precisa de mim.

Stupid Love - JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora