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Kiara

Acelero na última volta, fazendo as rodas deslizarem na curva fechada.

Assim que freio na linha de chegada olho para meu tio com sua prancheta e um cronômetro em mãos. O mesmo olha pra prancheta e para o cronômetro e nega com a cabeça.

— Droga!

Meu tio pula da plataforma e adentra o veículo com a prancheta na mão.

— Calma pequeno gafanhoto, você vai conseguir. — Meu tio tenta, em uma tentativa falha de me deixar mais confiante. — Só está no começo.

— Eu sei, é que essa semana foi estressante demais, fiz hora extra no bar, minha mãe deu um surto e não tomou os remédios, tentou fugir e machucou um funcionário. A única coisa boa nessa história toda é o carinha qual estou... me relacionando.

— Olha, o soldado foi promovido! Antes era: O cara qual estou saindo, e agora é o cara qual estou me relacionando.

— Eu ainda estou processando e descobrindo minhas vontades, esses últimos meses foram sem dúvidas os mais malucos da minha vida.

— Por que não me contou que tinha um problema com a bebida?

Droga.

— Eu... na verdade eu já resolvi esse problema, faz quatro meses que não bebo até esquecer meu nome, consigo beber sem perder as estribeiras e fazer algo errado. Pode confiar em mim.

— Não falo sobre você correr Kie, antes de ser seu treinador sou seu tio, e me preocupo com você.

— Eu sei... - Suspiro pesadamente, segurando o volante. — Quando o vovô morreu, minha mãe surtou, minha vó entrou em depressão e eu não sabia o que fazer. Nossa casa estava um caos, um clima estranho de luto e confusão.

Em um dia desses resolvi sair, encontrei um bar e bebi, mas me arrependi quando lembrei que o vovô morreu justamente por causa dela, da bebida. Mas era tarde demais, aquilo já tinha me puxado para um lugar que não doía.

— E foi na bebida que você encontrou conforto.

— Exatamente, mas não poderia viver bebendo, então eu arrumei um emprego... em um bar.

— Kiara!

Sabia que seria repreendida por isso.

— Já imaginou o que aconteceu não é? Então, meu chefe me deixava beber no fim do expediente, já que eu trabalhava só na Sexta e no Sábado. Minha vida se resumia a trabalhar e no final da noite beber, no fim de semana ir em festas e beber. Nem minhas amigas tinham mais saco pra me aturar, comecei a dormir de casa em casa, me afastando cada vez mais da minha família e quando vi um velho conhecido estava me ajudando toda vez que eu estava nesse estado. Sempre acordava na casa dele nos finais de semana.

— Esse cara é o carinha qual você está agora.

— Sim, ele cuidou de mim quando ninguém mais queria. Eu era um fardo e mesmo assim ele cuidou de mim.

— Ele não cuidaria de você só pela amizade do passado, tem algo aí.

Agora parando pra pensar faz sentindo.

— Será que ele...

— Gostava de você desde pequenos e só não sabia como dizer?

— Não, isso não pode ser verdade.

— Por que não?

— Isso significa que eu não me douo o suficiente pra ele, a balança não é nivelada.

Stupid Love - JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora