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Kiara

Assim que finalizamos nossa refeição seguimos até o elevador que por algumas intervenções demorou um pouco a chegar no andar.

Enquanto esperávamos Jj parecia agir no automático, prestava atenção nos andares do elevador enquanto depositava beijos no meu ombro desnudo já que o mesmo segura meu blazer em seu ombro.

— O quê achou do jantar? Sei que não foi cinco estrelas ou algo surpreendente mas achei que gostaria dessa opção. - ele questiona, acariciando minha cintura com o polegar direito.

— Eu adorei, gosto das simples atitudes e das grandes intenções.

— Gosto do jeito que você vê a vida Kiara Carrera.

— Na maioria das vezes eu a vejo como uma merda, mas valeu pelo elogio. — Nos dois rimos.

As portas do elevador se abrem, o revelando vazio.

Adentramos o mesmo e Jj aperta o botão do primeiro andar, as portas se fecham e os números começam a cair. Estamos no décimo quarto andar, e o elevador com sorte não para em nenhum deles até que chegasse ao primeiro.

Assim que saímos do prédio o manobrista busca o carro de Jj com rapidez, estou me sentindo naqueles filmes onde uma mulher de classe média/baixa sai com um bilionário e nem sabe como andar corretamente ao seu lado.

Jj está diferente, não de uma forma ruim, muito pelo contrário, só não estou acostumada a vê-lo dessa forma, sedutor e misterioso.

Talvez seja uma das suas qualidades que eu ainda não conheça... mas estou tentada a conhecer.

— Onde quer ir? - O mesmo questiona quando adentramos o veículo.

— Não sei, qual o melhor lugar pra superar um trauma?

— Se esse for o caso, preciso de um lugar com bastante estrada, pois vamos acelerar. Você tem certeza?

— Tenho, com você eu não tenho medo.

— Você confia em mim?

— De olhos fechados e mãos atadas.

O sorriso mais sincero que já vi na vida surge em seus lábios.

Ele segue pela avenida até chegar na estrada de mão única, assim logo olhando para mim, como se quisesse confirmação, assinto com a cabeça e Jj acelera. 50, 60, 70, 80, 95kmy/h.

Sinto minhas costas colarem no banco aos poucos, o barulho das rodas derrapando na estrada, O motor a todo vapor.

Fecho os olhos apertando o sinto em minhas mãos fortemente.

— Quer que eu diminua? — ele questiona preocupado ao ver meu estado.

— Não, pode continuar. - Só o que digo antes de ter coragem o suficiente para abrir os olhos e ver tudo ao nosso redor passar como um sopro.

As paisagens ao nosso redor em um borrão, só as luzes do farol refletindo nas placas de sinalização e a solidão da estrada as onze da noite.

Quando Jj diminui em uma curva abro os olhos novamente, afim de não ligar para minhas mãos trêmulas.

” Um grave acidente na via principal matou fatidicamente um homem na faixa dos sessenta anos.

Não sabemos qual a causa do acidente mas a perícia buscará as causas do acidente e talvez aliviar um pouco do sofrimento dos familiares e amigos. ”

A reportagem roda na minha mente como se estivesse assistindo ela agora, na frente da TV, no colo do meu pai, enquanto minha mãe tenta acalmar minha avó que está aos prantos.

"Sinto muito, mas ele já estava sem vida quando o 911 chegou”.

Não puderam fazer muito por ele, segundo os paramédicos e bombeiros, ele estava bem preso às ferragens, encontraram garrafas de cerveja no seu carro, um maço de cigarros e uma foto antiga da nossa família, eu deveria ter uns oito anos na época da foto.

Uma das poucas coisas que se salvaram do acidente, qual retornou a minha avó quando retiraram todos os pertences do carro completamente destruído.

— Está tudo bem? Eu posso ir mais devagar se quiser, se não estiver se sentindo bem. - ele diz me tirando dos meus devaneios, ou lembranças ruins, vai de quem vê.

— Não, está tudo bem, eu estou bem... depois de muito tempo. Eu quero superar isso, quero que isso aconteça. Devo encarar o passado e torná-lo lembrança já que isso não terá como ser mudado, só enfrentado.

— Você é forte Kie, saiba disso.

— Eu estou começando a descobrir isso.

Olho para o painel e vejo a velocidade aumentar novamente, mas dessa vez não sinto o nó na garganta, as mãos trêmulas e um frio na barriga.

Agora eu estou bem.

Enfrentando meus medos e traumas como jamais consegui enfrentá-los ou coagi-los antes.

— Você tem um cuidado comigo, e eu agradeço por isso.

— Eu sempre tive isso, cuidar de você quando não pode cuidar de si mesma... só não achei que criaria sentimentos por você. - Revela me pegando desprevenida.

Olho para o mesmo, com certa surpresa.

Eu sei que estamos nos envolvendo mas não sabia que ele tinha sentimentos por mim antes de tudo isso.

— Quando isso começou? - Questiono sem perceber e ele sorri fracamente.

— Só percebi que sentia isso quando você me ligou dizendo que estava muito bêbada em uma boate que nem sabia onde ficava, que estava sozinha e que não queria ficar sozinha. Me desloquei até outra cidade atrás de você.

Engulo em seco, eu não sei ao certo os meus sentimentos por ele.

Nós nos damos bem, a conversa flui, ele me entende mas não sei como expressar meus sentimentos, eles estão confusos agora, talvez pelo efeito da bebida ou da adrenalina.

Ou talvez eu nunca tenha sentido isso e estou confusa no meio dessas informações.

— Não fique pensando muito.

Quero que flua naturalmente, não quero presionar você ou criar ideias na sua cabeça. Só quero ser sincero com meus sentimentos. — Declara, sem me olhar.

Talvez ele não queira me olhar agora, é dificil se abrir pra alguém que possa não retribuir os sentimentos.

— Eu adoro o jeito que você cuida de mim... menos os banhos gelados. — Nós dois rimos.

— É só uma forma de despertar mais rápido.

— Eu detesto essa forma. - Declaro brava, o fazendo rir.

— Ok, tentarei não fazer mais isso.

— Obrigada.

— Quer ir em algum lugar?

— Qual lugar você se sente em paz? Sente que nada nem ninguém possa te machucar ou te ferir?

— Uma velha quadra de basquete não muito longe daqui, ela está esquecida mas todos os dias, nos finais das tardes, as luzes se acendem como se ainda fosse visitada.

— Como se ela não tivesse desistido.

— Exatamente.

Stupid Love - JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora