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Kiara Carrera

Vejo a mão com pequenos cortes nos nós e o anel, com duas flechas formando um X.

— Como me achou?

— Não é muito difícil encontrar você, é só procurar pelos bares próximos. - Maybank responde, retirando o copo da minha mão.

— Qual a sua? A Cléo está pagando você pra me seguir? Me impedir de beber e fazer uma burrada?

— Não, só falo com sua amiga pra dizer que você está bem quando some das festas.

— Quê conhecidentemente você está presente em todas.

— Eu não perco uma festa desde o ocorrido na Alpha anos atrás.

— Quê pena, você perdeu a melhor festa já feita. Agora que já me achou, vá embora e me deixe, estava prestes a beber meu primeiro shot de bebida e você me atrapalhou.

Pego o copo e novamente ele retira o mesmo da minha mão, mas dessa vez jogando o líquido na pia em nossa frente, do lado interno do balcão.

— Qual é a sua garoto, me deixa. Minha vida tá uma merda, meu psicológico nem sei se tenho mais e só queria ter meu avô aqui comigo... mas ele morreu, por aquilo. - Aponto para as bebidas, já sentindo meus olhos ficarem marejados.

Meu avô sofreu um assistente há dois anos, estava voltando bêbado pra casa após brigar com minha avó, foi para um bar, ficou bêbado e decidiu voltar pra casa, mas ele perdeu o controle do carro e bateu, ele morreu na hora.

O único consolo que recebi foi: Ele não sentiu nada, morreu com o impacto. Ele não sofreu. Como se isso amenizasse o vazio que isso me causou. Vi minha mãe ficar desnorteada, minha vó desolada, minha tia se fechar e logo tudo começou. Minha mãe visitava seu túmulo todo Domingo, chorava sentada ao lado da lápide e conversava com ele.

Até que um dia ela nos chamou e disse que ele queria falar comigo, que queria sentir a neta dele, percebemos que minha mãe não estava bem, e daí foi só ladeira abaixo.

Ela sempre colocava o prato dele na ponta da mesa, onde ele se sentava e não nos permitia retirar, pois era falta de respeito. Minha vó entrou em desespero, não sabia o que fazer, tinha acabado de perder seu marido e agora encarava outra tristeza. a perda de sanidade mental da filha por causa da morte do marido.

Adimiro minha avó por ter aguentado tudo fortemente, mesmo eu a ouvindo chorar a noite. Posso dizer que apartir dai. meu psicológico ficou fodido, bebi pela primeira vez em uma festa de fraternidade, por segundos senti que minha vida desaparecia enquanto o líquido ardente descia pela minha garganta.

Sinto uma lágrima correr pelo meu rosto e me controlo pra não desabar na frente dele, eu não posso parecer fraca.

— Você quer conversar?

— Pelo que eu saiba você não é psicólogo.

— Mas sou seu ouvinte, esqueceu?

— Você é só mais um que finge me ajudar mas tudo entra no ouvido e sai no outro.

— Isso acontece com você quando falo meus problemas?

— Não, eu tento ajudar você a chegar em uma conclusão.

— Então vou fazer o mesmo. — Maybank puxa um dos bancos e se senta ao meu lado. — Desabafe, pode dizer o que está preso na sua garganta.

— Eu não aguento mais Jj. — Levo os cotovelos ao balcão, colocando as mãos no rosto. — Minha mãe tem uma depressão grave, não pode ficar sozinha que tenta se matar, vive a base de remédios. Meu pai se desdobra pra cuidar dela junto a minha tia. Meu avô faz falta mesmo anos depois da sua morte, e uma parcela da depressão da minha mãe é pela sua morte.

Stupid Love - JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora