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Kiara Carrera

Sinto que estão batendo dois pratos, aqueles instrumentos bem ao lado da minha cabeça.

Não sei ao certo mas acho que é Sábado, vou confirmar isso quando conseguir de fato abrir meus olhos e pegar meu celular, isso é, se eu souber onde ele está.

Não me assusto quando abro os olhos pois já estou “acostumada” a acordar aqui, não posso dizer que vivo aqui mas algumas vezes, quais passo do limite, Jj me trás para sua casa e cuida de mim. Fico tão bêbada que isso se torna perigoso, pois posso ir com qualquer um e me ferrar depois.

Mas conhecidentemente, só acordo na cama dele.

Não vou dizer que o Maybank é minha babá nas horas vagas mas um cara que não tenho intimidade que me ajuda a curar minha ressaca e me deixa dormir no seu apartamento quando extrapolo na bebida.

Por causa dos meus pais.

É o de sempre, eles querem uma bonequinha perfeita com cordas nos braços para eles controlarem mas sou um defeito de fábrica, não sigo regras e não sou fantoche de ninguém.

Não segui a carreira de advocacia que minha mãe sempre sonhos e também não virei médica como pai sempre idealizou ao sempre me ver brincar, "cuidando" dos meus ursos de pelúcia.

Isso era coisa de criança.

Criança quer ser tudo quando crescer, coitada, ela só não sabe que pra isso precisa passar por anos de faculdade, anos de testes, sendo observada com cautela, pois querendo ou não, você tem uma vida nas mãos.

Não escolhi esse caminho, não fui a médica e nem advogada que meus pais querem.

Trabalho em um bar meio famoso na cidade. Só sirvo bebidas para corações partidos e amargurados.

Posso dizer que sou psicóloga sem ao menos ter pisado em uma aula dessa área. Os clientes choram o seus leites derramados e amores não correspondidos no balcão onde preparo as bebidas, as vezes meus conselhos são um tanto... inválidos para certas pessoas.

Sim, quando as coisas não vão bem como meus pais eu bebo lá mesmo, o dono me permite então só cuido pra não fazer um estrago na adega do pobre coroa.

Ele é legal, tem uma vibe divertida, assim como eu não acredita no amor, por isso abriu um bar, se acreditasse no amor e tivesse passado pelo que passou, abriria uma clínica psiquiátrica, para loucos de corações partidos.

Sinto o colchão se mexer e olho para o lado, vendo o Maybank se mexer, com os cabelos caídos no rosto, sua expressão é um tanto cansada, a um tom um tanto escuro embaixo dos seus olhos, indicando que não teve uma noite muito boa.

Eu não lembro de muita coisa, só lembro de estar embaixo da água gelada, junto com o Jj, reclamando que estava com frio.

Retiro o cobertor que nos cobre e me levanto lentamente, assim que chegou ao banheiro verifico se ele ainda dorme e fecho a porta.

Encaro minha feição no espelho mas para ver melhor ligo a luz, péssima ideia, minha cabeça dói e meus olhos também.

Maldita ressaca do caralho.

Molho meu rosto e uso a escova de dentes que já virou minha, pelo menos uma vez ao mês venho pra cá. Não gosto disso mas só consigo raciocinar quando a bebedeira passa e a ressaca surge.

Assim que escovo os dentes me olho uma última vez no espelho e saio do banheiro, encontrando Jj sentado na cama, de costas pra mim, vendo a cidade pela sua janela.

— Quê horas são? — Questiono assim que vejo meu celular sem bateria.

— Nove.

— Tá na hora de vazar.

Stupid Love - JiaraOnde histórias criam vida. Descubra agora