"Acabou"

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Me aproximo em silêncio, logo faço o velho se sentar sobre a poltrona que parece ser algo importante para ele, peço aos Deuses que eu me controle e não desperte o demônio dentro de mim, quero que tudo seja rápido e sem muitas dores.

-Obrigada por me contar. -Digo já enfiando minhas unhas no meio de suas clavículas, vejo o sangue começar a jorrar para fora, meu interior se remexe em ansiedade e mesmo sendo meio estranho tomo impulso sobre o velho, deitando-o de forma que eu possa beber do pouco sangue que sai, o líquido é viscoso e diferente do da humana, tem uma energia abundante vindo junto, sinto meu corpo formigar e parece que vou flutuar de tão bom que está sendo receber toda a energia de um velho bruxo que cuidou do seu espiritual por anos, meu corpo parece revigorado. Aos poucos afasto. O sangue advindo da energia era algo mas fácil de controlar o desejo. Evito olhar para a faceta do bruxo, apenas guio meus lábios até seu antebraço e pressiono meus dentes pontiagudos na região, perfurando rapidamente, ouvindo um resmungar doído, ignoro-o e diferente da sensação anterior, meu corpo esquenta ao sentir os primeiros gole de sangue, bebo sem pudor algum, meu peito está acelerado e as coisas ao meu redor não existem mais, forço ainda mais meus dentes em sua pele minha mente se nubla e me sinto livre para me deleitar com o líquido quente, fecho meus olhos e puxo o braço do homem para mais perto, como se fosse possível. Aos poucos sinto a pele esfriar sobre meu toque quente e os batimentos cardíacos do velho se silenciam gradativamente em minha mente, oque me acorda. Abro os olhos e afasto a boca do seu corpo, levanto-me e analiso a faceta do bruxo, já pálido e seco como um esqueleto com uma fina camada de pele, tem os olhos abertos totalmente brancos até mesmo sua pupila tem a mesma cor clara e abstraída de vida.

-Já era...-Digo baixo, limpando o sangue que pinta meus lábios. -Acabou.

Olho para Elis que está sentada no sofá a nossa frente, ela me encara compreensiva e sorri pequeno, levanta e vem ao meu encontro abraçando meu corpo de maneira carinhosa. A culpa me invade e percebo a real situação, involuntariamente rodeio seu corpo abraçando-a de volta, luto contra a vontade de chorar. Ter tirado a vida de alguém me deixa inevitavelmente triste, as coisas poderiam ter sido de outro jeito? Eu precisava matá-lo? E porque me sinto tão culpado se eu gostei de tomar tudo do corpo dele e mesmo sabendo que ele mereceu isso?

-Vai ficar tudo bem...-Ela parece ler minha mente. -Vai lá 'pra fora que eu vou dar um jeito nele, Dominus não pode vê-lo assim. -Ela se afasta olhando para mim, notando meus olhos marejados. -Não seja fraco agora, chorar não é do seu feitio. -Seu sorriso me passa calma e eu a solto indo para fora sem olhar para trás.

-Eu matei alguém...-Sussurro para mim mesmo. -Akemi me perdoa por isso, por favor. -Imploro para minha irmã. -Eu não queria ser assim, mas é algo inevitável, imagina a reação da Sofia quando me ver assim, com chifres, escamas e orelhas pontudas! -Tento rir da situação, mas me sinto mais sujo.

Alguns minutos depois Elis volta acompanhada de Dominus, que ainda está em sua forma animal, com uma aparência triste, de certa forma desolado, ele me olha sem expressar raiva pois sabe que era o certo, seguimos em silêncio até estarmos longe da casa, andamos pelo mesmo caminho que nos trouxe, só que o clima é pesado e ninguem se atreve a quebrar o silêncio.

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Chasing The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora