"Aparentemente sua mãe"

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...

Abro meus olhos lentamente, sentindo o tecido da minha camisa molhado, olho para baixo notando a camisa coberta pela tinta vermelha que escorre dos meus olhos, o lanche agora no final contém gotas do sangue, coloco o resto dentro do pote e olho para Léo que me observa tristonho em silêncio.

-Eu adorei Léo, me faça mais vezes. -Meu sorriso mesmo que pequeno é sincero.

-Você vai chorar sempre que comer? -Ele pergunta cabisbaixo.

-Provavelmente sempre que algo me lembrar dela eu vou chorar sangue. -Passo os dedos pelo meu rosto tentando tirar o líquido quente. -Mas eu quero lembrar dela, então por favor, não pare de fazer. -Peço gentilmente.

-Ok, se você quer eu farei. -Ele passa os dedos pelo meu rosto. -Isso tá só manchando mais. -Sua cara se emburra.

-Tenho que lavar. -Antes que ele falasse algo a porta se abre, e Elis entra como bala, olha para nós dois e logo se assusta ao me ver todo ensanguentado.

-Que porra aconteceu com você? -Ela se aproxima rápido inundando o quarto com sua presença realmente penetrante.

-Eu chorei de novo, não se preocupe. -Digo segurando suas mãos que tentavam limpar meu rosto.

-Chorou tanto assim? -Seu olhar recai na blusa de forma doce e preocupada. -Porque chorou?

-Sim, eu acabei de descobrir que sempre que eu me lembrar de Akemi de uma forma mais intensa, essas lagrimas vão surgir sem que eu perceba. -Digo me levantando.

-Entendi, espero que não ocorra sempre, deve ser doloroso. -Ela se afasta.

-Pelo menos eu não morri ainda. -Pego a roupa separada em cima da estante. -Vou me banhar, me espera aqui Elis.

Ela acena e se senta na cama, logo iniciando uma conversa com Léo. Eu sigo para o banheiro, me livro da roupa suja e abro o registro mergulhando na água fria do chuveiro. Pensar nela me trouxe sentimentos humanos de volta, mas ao mesmo tempo senti parte de mim lutando contra eles, de certa forma tentando expulsá-los de mim. Ser um demônio tem suas vantagens as vezes. Será que não sentir dor, culpa e saudade é realmente bom, isso não fará de mim um cara sem sentimentos, né?

...

-Porque sumiu desde ontem de manhã? -Pergunto à Elis. Estamos os três deitados na minha cama olhando para o teto enquanto conversamos sobre coisas banais.

-O capiroto anda meio nervoso lá embaixo, ou seja, mais pessoas sofrendo na mão dele, e isso significa que eu tenho que descer e tentar acalmá-lo. -Ela me olha de canto.

-Qual o motivo do estresse dele? -Pergunto.

-Aparentemente sua mãe. -Ela volta a olhar para o teto. -Ter anjos lá embaixo pode bagunçar algumas coisas.

-Ah sim...-Me calo.

-Eu estou com saudades da Tauni. -Léo que estava calado até o momento diz baixo.

-Estava demorando para você dizer algo sobre ela. -Elis ri. -Ela volta amanhã pequeno, não se preocupe.

-Sério? Como você sabe? -Ele se ergue, olhando para Elis ao meu lado. 

-Eu tenho acesso às informações dos portões, lembra? -Ela pergunta risonha. -Ela volta de manhã.

...

Chasing The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora