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Eu estava de volta ao mundo do meio, no caso acabei de sair da primeira porta da URW, estou diante do jardim da MDW, sem saber como dar os próximos passos, sem saber como reagir a tudo que aconteceu.
-Não se sente preparado ainda? Foi quase um ano. -Elis fala ao meu lado, segurando minha mão.
-Eu tenho medo deles me rejeitarem, porque fui embora sem me despedir. -Digo sem olhá-la. -E se acontecer? -Encaro seus olhos lindos e confiantes.
-Eles sentem sua falta, não vão te expulsar, até porque não podem. -Ela sorri graciosamente.
Estou cada vez mais apaixonado.
Andamos juntos até chegarmos no corredor principal, onde ligava a biblioteca, aos outros corredores e ao meu quarto, junto do pátio. Respirei fundo, sentindo o cheiro de humano, místico e natureza. Aperto a mão de Elis e adentramos o local. Todos os que me viam pareciam surpresos, não sei se pelo meu sumiço, ou pelas características ainda mais demoníacas que adquiri nesses meses.
Paro em frente ao meu quarto, olho para Elis que me encara esperançosa. -Pode guardar as coisas para mim? Preciso ir atrás dele. -Ela concorda, pegas as coisas, me beija, e entra no cômodo fechando a porta atrás de si. Sigo em passos firmes ou nem tanto até o pátio. Está cheio e estranhamente em paz, vasculho o local atrás de orelhas bronzeadas, ou de pontudas. Na mesa do canto encontro meu grupo de amigos. Fico tenso, ansioso e trêmulo. Ando até eles rapidamente, minhas pernas parecem que vão derreter a qualquer momento. Dominus é o primeiro a me notar, cospe toda a bebida que tomava na hora, seus olhos estão grandes e afiados.
-Puta que pariu! -Ele fala alto, fazendo todos me olharem.
-Oi, eu voltei. -Digo nervoso.
A cena foi rápida, primeiramente Tauni joga o suco de uva dela em minha cara, me xinga muito e me estapeia. Logo Dominus corre em minha direção e me desfere um soco na boca do estomago, e isso me faz agradecer por estar 100% curado. Depois, Léo se levanta e fica parado com olhos afiados, furiosos em minha direção. Sorrio.
-Eu entendo, e mereço toda essa agressão. -As pessoas olhavam aquela cena curiosas. -Mas vamos com calma. -Digo rindo de nervoso. O soco e os tapas nem me faziam cócegas, mas ainda sim queria ter uma conversa normal com eles.
-Por que voltou? -Leo perguntou rude, fazendo todos se calarem. O clima pesou. -Por que não ficou lá?
-Leo...-Digo baixo. -Eu quero conversar normalmente, eu respeito que você não queira mais minha amizade, mas me deixa pelo menos explicar o por quê disso tudo. -Digo agoniado.
-Vamos nos sentar. -Tauni me puxa para a mesa. E os outros a seguem. -Leo, deixa ele se explicar e depois você bate, xinga ou manda ele embora.
-Tá bom. -Ele desvia os olhos de mim e encara a quina da mesa. -Comece e me convença.
Então me concentro em lembrar de cada detalhe e contar para eles, na tentativa de ter perdão. Conto tudo, desde o porquê da decisão de ir para lá meses antes, até o encontro com Naamah, depois com Elis, a convivência com meu pai, o ataque de Asmodeus, o pedido de socorro para Deus, a cicatriz, tudo. Não deixando nada de lado. Elis chegou depois de um tempo enquanto eu contava toda a história.
E pensar nisso tudo me fez lembrar do meu pai, em como ele ficou depois que fui embora. Destruido de fato. Nunca achei que veria Satan chorar ou andar pelos corredores do inferno inerte em pensamentos ruins, saudade e tristeza. Seus olhos antes vividos em fúria maligna, profanação ou sarcasmo, agora carregavam um peso descomunal, de fato ele estava aliviado por ter me salvado, mas ainda sim, para ele, perder Sofia é algo doloroso e isso faz com que ele aja como um humano sensivel ao amor, mas um amor perdido. Sua áurea antes equilibrada e forte, potente e indestrutível, agora era vacilante, ele saia do controle facilmente, ficava irado, irritadiço e profano por qualquer coisa, entretanto ninguém podia fazer nada a não ser respeitar o seu momento e espaço, dar a ele a liberdade de sentir essa dor, de saber que querendo ou não, o que fizeram foi algo errado, um pecado. E agora eles estão pagando por isso.
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Chasing The Secret
غموض / إثارةA diversidade de motivos que eu tenho para odiar estar onde estou é grotesca, a começar pelo fato de um ser miserável como eu, estar aprisionado por Equidna e sendo acusado de algo que não sou. Como podem me acusar só por ser filho de algo divino e...