...
-Por que está me seguindo? -Leo tem a expressão séria, sua voz nem treme.
-Eu queria conversar a sós. -Digo rápido.
-Mas eu já disse que não quero. -Ele vira as costas.
-Mas agora não estou perguntando se você quer, sou eu quem quero ter essa conversa. -Sigo ele até as estantes. -E você vai me escutar nem que eu fale com o bruxo para invadir seus sonhos. Ouço ele bufar em desagrado.
-Eu não vou ouvir. -Ele folheia um livro.
-Você vai. -Tomo o livro de sua mão, o fecho e guardo na estante. -Eu quero o meu perdão ou minha expulsão. Não quero que você pare de andar com os outros só porque estou perto, não quero sentir sua energia ruim toda vez que abro a porra da minha boca. -Ele me olha neutro mas logo sua expressão muda para cansaço.
-Certo. -Ele encosta na pilastra do corredor, e me olha em silêncio. -Eu odiei te ver, odiei sentir seu cheiro, odiei ver os outros te perdoarem, odiei tudo. -Meu coração erra uma batida.
-Certo...era isso...-Digo desviando os olhos para os ladrilhos no chão.
-Eu odiei tudo isso, e ainda mais pelo fato de que eu sentia as coisas de forma controversa. -O olho confuso. -Eu odiei não odiar te ver de verdade, ou não ter torcido meu focinho quando seu cheiro de demônio apareceu, ou quando eu quis te perdoar na frente de todos. -Os olhos dele estavam molhados. Esse é o Leo que conheço. -Eu queria te bater, mas ao mesmo tempo espernear de tanta saudade que senti, então escolhi simplesmente fugir.
-Você não precisava se segurar. Poderia ter me batido e me abraçado depois, eu ia aceitar. -Digo mais calmo. -Eu prefiro isso do que você me tratando como um merda. -Coço os olhos. -Eu quero tanto a porra do seu perdão, por que acha que ainda não fui embora?
-Só por isso? -Ele me olha acanhado.
-Sim, eu queria ouvir você dizer que não me queria mais aqui. -Me encosto na outra pilastra. -Eu não ia embora sem saber que era realmente isso que você queria.
-Então eu quero que você vá embora. -Ele me olha firme e eu fraquejo as pernas quase caindo para o lado. Olho para seu rosto impassível, buscando por mentiras ou brincadeira, mas ele está guiando suas energias de uma forma tão inexpressiva que me impede.
-Oi? -Me aproximo para ouvir melhor. -Então é isso que você quer? -Ele acena em concordância. -Se é assim que quer então é assim que será. -Dou um passo para trás, olhando no fundo dos seus olhos. -Eu vou embora.
-Tá bom. -Ele diz seco e sem vida.
Eu não queria ouvir aquilo, não quero sentir essa queimação ruim no peito, não quero ver os olhos dele sem emoção alguma, não aguento saber que isso é o adeus que eu tanto evitei em sonhos, que tanto corri nos pesadelos que me assombraram no inferno. Eu quero meu melhor amigo de volta, assim como tive minha família e Elis. Eu não vou ser completo sem ele. Mas não posso forçá-lo, não posso abraçá-lo e dizer para ele que nunca mais vou embora sem avisar, mesmo que essa seja a minha maior vontade desde o momento que ele se levantou daquela mesa, e me deixou para trás como um nada, como se não fossemos nada. E antes que eu vire as costas para sair ouço Leo murmurar.
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Chasing The Secret
Mystery / ThrillerA diversidade de motivos que eu tenho para odiar estar onde estou é grotesca, a começar pelo fato de um ser miserável como eu, estar aprisionado por Equidna e sendo acusado de algo que não sou. Como podem me acusar só por ser filho de algo divino e...