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Elis foi embora a mais ou menos duas horas atrás, e eu permaneci acordado, atônico. Ele pode tentar fugir de mim, mas se vier hoje, vai ter que me olhar nos olhos e dizer o que está acontecendo, ele querendo ou não. Me sento na cama, depois me levanto, caminho até o guarda roupa e visto algo mais confortável. Muito provavelmente ele não venha hoje, porque pensa que Elis está dormindo aqui, já é tarde. Então decido eu mesmo ir atrás dele. Saio do quarto em silêncio, caminho pelo corredor escuro até a porta que Elis disse ser o quarto dele, ou um deles...Ele não se manteria longe depois de tudo, então creio que esteja nesse mesmo. Minha respiração falta no meio do caminho. Acabei esquecendo que meu corpo não está 100%, então canso rápido. Me apoio na parede, esbarrando em um quadro grande. Respiro devagar com a mão no peito, está apertado, essas faixas me irritam para cacete. Busco alguém pelos arredores para me ajudar a caminhar de volta para meu quarto, mas o silêncio é o único a me fazer companhia. Fecho os olhos com força, sentindo a cicatriz pulsar, dou um passo para frente. Voltar sozinho para o meu quarto demoraria mais do que alcançar o dele. Dou mais dois passos, dói como uma faca, cortando novamente os pontos. Estou suando frio, tonto como um peão, mas não deixo de dar passos largos, e lentos até a porta preta e rústica.
-Porra...-Sinto uma fisgada dolorosa na ponta da costela.
Quando chego perto da porta, meu corpo já não aguenta mais em pé. Jogo meu peso na porta, sustentando meu corpo na estrutura elevada da mesma. O barulho parece acordá-lo, pois logo escuto passos apressados em minha direção de dentro do cômodo. A porta se abre e meu braço escorrega da maçaneta, me escoro nos ombros de meu pai, que me olha assustado.
-Opa, boa noite. -Suspiro doloroso, mas rindo. -Você não podia fugir de mim para sempre, Papi.
-O que faz aqui, Daenmon? Olha seu estado, foi avisado para não andar muito! -Ele segura meu corpo facilmente, apertando sem querer minha costela. Arfo. -Desculpa. -Ele se alarma e me carrega para dentro.
-Eu não aguentava mais esse seu comportamento de merda, então vim atrás de você. -Digo quando ele me deita em sua cama.
-Olha como fala, seu pirralho. -O Rei diz sério, avaliando meu corpo. -Eu decido quando quero falar com você. -Seus olhos encontram os meus, e logo desvia. -E se eu não estivesse aqui? Ia morrer sozinho no corredor!
-Não exagere, no máximo eu desmaiaria. -Puxo a coberta para me cobrir. -Eu só queria te ver. -Vejo ele recuar, surpreso. -Eu posso agora? Ou vai colocar o rabo entre as pernas, e fugir de mim de novo? -Ele me olha nos olhos, dessa vez com certa raiva pelo jeito que me refiro a sua fuga diária.
-Eu vou te arrancar os dentes da boca a qualquer hora. -Ele se vira, ficando de lado. -Diga o que quer pirralho.
-Quero que compartilhe. -Ele me olha duvidoso.
-Do que está falando? Pirou de vez?
-Acha que eu não sei que está sofrendo mais que todos aqui? Acha que não estou sabendo das suas crises de raiva, que anda socando paredes por ai, e matando seus súditos por pura culpa? Pensa que suas lágrimas não são sentidas por mim? -Desando a perguntar com certa amargura. Ele me olha grande, perplexo.
-Eu...-Ele olha para as próprias mãos.
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Chasing The Secret
Mysterie / ThrillerA diversidade de motivos que eu tenho para odiar estar onde estou é grotesca, a começar pelo fato de um ser miserável como eu, estar aprisionado por Equidna e sendo acusado de algo que não sou. Como podem me acusar só por ser filho de algo divino e...