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-Seu coração doeu ao me ver chorar; você não queria sentir essas coisas por mim; você queria ter um bom relacionamento comigo e com seu pai. -Sofia diz e outro aperto no peito me balança. Mais que diabos estou sentindo?
-E isso não é tão impossível filho. Seu pai pode ser um idiota ás vezes, mas é caloroso como Samael quando quer. -Ele falou de mim para ela...-Ele já até falou comigo sobre você. -Daen levanta a cabeça para ela.
-Sofia...-Chamo sua atenção.
-Fique quieto Lúcy. -Obedeço. -Eu peço desculpas por ter feito você sofrer tanto, e eu sei que não queria ser assim, deve ser cansativo. -Sofia deita a testa sobre as mãos. -Eu me sinto mal todos os dias, filho.
Daenmon está estranhamente quieto, ele fala bastante, e costuma retrucar tudo que dizem, mas não ouvi sua voz desde que sua mãe revelou ter ouvido a confissão dele. Eu tenho curiosidade para ver sua expressão. Me desencosto da estante, sinto-me à vontade para me aproximar. Me sento na outra extremidade da cama de frente para os dois, consigo ver os olhos sofridos e molhados de Sofia. E Daenmon, ele...
-Eu te perdoo. -As lágrimas vermelhas pingam em sua roupa. -Eu estou tão cansado, é tão doloroso guardar isso tudo.
Fico paralisado, não sei o que fazer, ver os dois desmanchando em lágrimas me deixa estranho, meu interior de remexe desconfortável, estou suando. Ele ainda chora sangue...Quero dizer algo, quero tomar alguma decisão como sempre faço, mas nesse quarto, nesse exato momento eu não sou Rei, eu não sou alguém importante que toma as decisões por muitos. Aqui eu sou pai, e ex amor.
Deanmon em um gesto rápido, puxa as mãos de Sofia que se assusta. Ele leva as mãos delicadas dela até seu rosto, deita sobre elas e soluça fortemente, mancha tudo de vermelho. E como dói. Olho para Sofia que tem os olhos grandes e molhados voltados para mim, ela pede silenciosamente por ajuda, mas eu estou paralisado, sem saber o que fazer. Suspiro. Meu peito está dolorido, batendo forte. Então isso é sofrer pela dor de alguém? Isso é amar...Ele é tão jovem para estar tão fodidamente destruido.
-Eu amo você filho. -Ela diz chorosa, erguendo o rosto dele. Essa expressão dolorida. Aperto o tecido sobre o peito. -Mesmo tão tarde, mesmo depois de tudo, mesmo tão distante. -Ela se ergue e abraça o corpo trêmulo de nosso filho.
Sofia deita a cabeça sobre o ombro dele, o rosto banhado por lágrimas, virada para mim. Sinto calor, um calor diferente, calor humano, dilacerador de qualquer coração demoníaco. Então me levanto, dou a volta na cama e me sento próximo ao corpo dos dois, nunca achei que fosse possível eu ficar com vergonha, e tremendo por algo tão simples como agora.
-Eu não quero que chorem. -Digo baixo, tão baixo que talvez eles não tenham escutado. -Eu sinto muita dor ao ver você assim, filho...-Dizer essas coisas parece cada vez mais difícil. Daenmon ergue os olhos destruídos para mim, ele tem a dor do universo e nunca em meus milhões de anos cheguei a ver olhos tão intensos, doloridos e tão iguais aos meus...
Toco seu cabelo de forma contida, ofego devagar, ele fecha os olhos e as lágrimas intensificam. Eu o faço chorar mais? Eu continuo machucando? Mas dessa vez eu não quero isso. Me aproximo mais. Envolvo o corpo dos dois em um abraço desajeitado, quente e sentimental. Talvez eu precise desse abraço, como eles dois precisam também. A quanto tempo eu não sou abraçado, a quanto tempo Sofia não sente o calor de alguém, e a quanto tempo Daenmon não sente afeto familiar?
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Chasing The Secret
Misterio / SuspensoA diversidade de motivos que eu tenho para odiar estar onde estou é grotesca, a começar pelo fato de um ser miserável como eu, estar aprisionado por Equidna e sendo acusado de algo que não sou. Como podem me acusar só por ser filho de algo divino e...