"Eu preciso de tempo"

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Quando estava prestes a ir embora conversei com ele, tive a oportunidade de pegá-lo mais calmo que o habitual, mas ainda sim, ele estava visivelmente e sensitivamente instável, seus olhos estavam escuros e sua pele mais quente e branca que o normal, sua magreza preocupava a todos, inclusive Elis, seu comportamento agressivo vinha diminuindo, mas com isso a tristeza e afastamento tomaram forma. Ele quase nunca saia do quarto, nem para as reuniões ele ia, falava para Samael ir em seu lugar, e depois fazer um relatório resumido para ele. Sua alimentação estava precária, mesmo que ele não precise se alimentar por ser Lúcifer, sua estrutura física estava deplorável, e seu interior abalado. Na conversa citei que ele deveria tentar melhorar, que deveria voltar a ser o Rei, e somente isso fez seus olhos brilharem um pouco, porque eu sabia, e sei que ele gosta do que é, gosta do que faz, adora ser o dono do inferno e ter seus súditos para comandar, mas sua mente estava bloqueada com a persistente imagem de Sofia sumindo diante de seus olhos. E Samael junto de Naamah me prometeram cuidar dele, nem que seja necessário forçá-lo a voltar a ativa, me asseguraram que tudo ficaria bem, e que me dariam notícias. No começo protestaram sobre eu ir embora, mas contei a situação na terra e eles entenderam minha necessidade de voltar para consertar as coisas, e serei eternamente grato a eles.

E minha mãe? Eu já estou lidando melhor com o fato de que ela foi embora, e que possivelmente eu nunca mais vou vê-la. Me dói as vezes, mas ainda sim mesmo que muito rude pensar de tal forma, eu estou acostumado a não sentir falta de algo que não tive presente na minha vida. Mas eu vou tentar vê-la, irei ao céu quando tiver coragem e oportunidade, tentarei entrar mesmo que minha pele queime, mesmo que todos me julguem, ou me xinguem -coisa que eles não podem fazer, porque são anjos- mas mesmo assim, farei de tudo para abraçá-la novamente, e mostrar a ela que estou vivo, e que perdoei, mostrar a ela que seu Deus não falhou, não mentiu, e cumpriu com a promessa. Afinal, ela foi embora sem ter total certeza de que eu estaria vivo de verdade.

Todos me olhavam atordoados, Tauni chegou até a chorar em algumas horas, mas Leo permanecia impassível, seus olhos me analisavam enquanto eu explicava todas as coisas, nunca me deixavam. Senti medo dele não me perdoar mesmo depois de contar tudo. Estava ansioso e trêmulo, Elis segurava minha mão por debaixo da mesa na tentativa de me acalmar. No fim de tudo, no começo da noite, a mesa se pôs em silêncio, eu havia terminado tudo e ninguém tinha palavras.

-Então é isso...Espero que me entendam, e eu vou respeitar se vocês quiserem que eu vá embora de novo. -Olho para todos na mesa. -Eu sinto muito por ter passado tanto tempo longe. -Demoro em Léo.

-Foi quase um ano. -Dominus diz. -A gente achou que tinha morrido. -Ele morde o canto da unha. -Eu te perdoo porque já fez muito por mim, porque prometeu que se fosse, voltaria, e também você é um fodido azarado, passou por tanta coisa lá embaixo, mas mesmo assim sobreviveu e voltou. -Ele segura em minha mão e sorri. Parece tirar metade do peso nas minhas costas.

-Eu já sabia que voltaria, mas não sabia que ia demorar tanto. -Tauni diz. -Então não me cobre perdão, porque você sabe que já te perdoei quando apareceu aqui com essa cara de cachorro abandonado. -Dou risada.

-E você Leo, me perdoa? -Pergunto olhando para ele.

-Eu preciso de tempo. Sua trajetória foi rude então acho que precisa descansar. -Ele se levanta, Tauni faz o mesmo. -Eu falo com você depois. Boa noite pessoal. -Vejo então meu melhor amigo virar as costas, e sair andando para fora do refeitório. Tauni olha para ele depois para mim, e parece ficar confusa sobre o que fazer.

-Eu vou atrás dele. -Ela se aproxima, beija minha testa e a de Elis, sorri e corre em direção ao cão amargurado. 

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Chasing The SecretOnde histórias criam vida. Descubra agora