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Lágrimas de sangue, estas que representam a mais profunda dor de um ser não humano, a que nasce na mais profunda camada do inferno e alcança o céu, de tamanha amargura e liberação de energia profana, aquela que rasga e despedaça ao meio o órgão que chamamos de coração, responsável até mesmo pela morte de muitos daqueles que não são fortes o suficiente. E é como me sinto agora, fraco e insuficiente, morto... não sei o que dizer, ou assimilar, só sei que elas escorrem pelo meu rosto queimando mais que minha pele, arrancando de mim a fala, o ar e a consciência. Sei que não vou aguentar isso, morrerei em dias ou semanas por não ter força carnal ou mágica comigo e não lutarei contra, pelo menos estarei ao lado de Akemi.
Com muito esforço depois de alguns minutos em que todos os presentes na sala, respeitavam meu silêncio e aceitação da suposta morte de minha irmã e da minha possível, eu recupero um pouco do ar e miro Léo com dor nos olhos, esse que sorri triste, claramente preocupado. Todos sabem o que acontece quando um ser fraco como eu chora sangue.
-Impossível...-Sussurro. -Nossa mãe não deixaria que nenhum ser encostasse um dedo em nós. -Seco as lágrimas olhando para a cor forte que mancha minha mão. -Isso deve ser um engano, pode ser uma pessoa muito parecida, ela nem ia voltar agora. -Dou risada sem graça.
Sorrio tentando ser convincente, mas no fundo eu sei que isso é verdade, porque agora faz todo o sentido a dor que senti, o desmaio e a queimação, eu senti o'que ela sentiu e nosso laço como irmãos foi rompido, por isso não sinto a presença dela, sua energia, ou um fio da nossa conexão, o vazio que eu sinto no momento é a vida dela que não se faz mais presente. E novamente ao assimilar isso meus olhos se embaçam e novas grossas e dolorosas lágrimas descem de meus olhos.
-Infelizmente você sabe que isso não é possível, eu sei o que você sente aí dentro, essas lágrimas não surgiriam sem motivos. -Ele ousa limpar meu rosto e vejo em seu rosto o desconforto pela temperatura que delas emanam. -A gente vai pegar quem fez isso e você vai poder se vingar com as próprias mãos, agora que seus dons estão aflorando.
-Meus dons? Eu não sinto eles dentro de mim, apenas essa queimação. -Tento ignorar o fato de que minha irmã não existe mais.
-Você não sente por causa do sentimento confuso, muita coisa aconteceu, o gatilho para eles surgirem não foi bom para você e com o tempo eles vão desenvolver. Seus olhos agora estão de uma cor diferente, sua pele queima, e junto com essas marcas escuras de figuras indecifráveis, isso claramente é sinal do seu dom. -Camila explica calmamente, tomando cuidado com cada palavra que diz.
Obviamente eles estão surpresos pela forma que recebi a notícia, creio que tiveram a ideia de me darem a bebida do totem, por acharem que eu iria surtar e matar quem estivesse na minha frente, mas a verdade é que estou tão cansado e tão abalado que não tenho forças para ódio. Nem reajo bem ao fato de finalmente ter sinais dos meus dons, algo que lutei anos para despertar, tudo dói no momento e se para ter esses malditos poderes eu precisasse perder minha irmã, preferiria passar o resto da minha vida sendo perseguido e humilhado por falta deles.
-Você precisa de algo? -Elis se aproxima de mim meio acuada.
-Eu preciso ficar sozinho. -Lidar com a morte era algo difícil e saber que logo vou morrer também me deixa aturdido com tudo.
-Você não pode escolher isso, sinto muito. -Ela senta no pé da cama.
Eu inevitavelmente sinto meu interior ferver, esse ódio vem crescendo a cada minuto, mas ainda tento controlar, minhas mãos se fecham em punhos e percebo as manchas em minha pele queimarem ainda mais, não sei como ainda não peguei fogo.
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Chasing The Secret
Mystery / ThrillerA diversidade de motivos que eu tenho para odiar estar onde estou é grotesca, a começar pelo fato de um ser miserável como eu, estar aprisionado por Equidna e sendo acusado de algo que não sou. Como podem me acusar só por ser filho de algo divino e...