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-Mas eu quero brigar, preciso quebrar a cara de alguém, e você parece ser o mais forte. -Aponto sem olhar para os outros seres presentes, esses que olham curiosos para nós dois.
-Eu não quero brigar, senhor...-Ele está assustado.
-E se eu ordenar que você lute comigo? -Pergunto calmamente. Ele me olha assustado e sua expressão demonstra total devoção a seguir ordens. -Então ordeno que você lute comigo, não até a morte, fique tranquilo. E não me chame de senhor. -Ele parece ficar menos tenso. Entramos no tatame e nos posicionamos. -Isso serve para qualquer um! -Grito para todos. -Quem quiser pode lutar comigo, mas não pegarei leve. -Noto Bill no corredor do outro lado do vidro, me olhando preocupado. Lhe dou um sorriso confiante, metamorfando meu corpo demoníaco em segundos. As dores da transformação não me incomodam tanto como antes.
Foram quatro, somente quatro míseros demônios, e ogros que se sentiram confiantes para lutar comigo. Eu admito que apanhei, eles lutavam bem, não todos, mas uns dois sim, o resto foi facilmente derrotado por mim. Estive cego pela raiva, a vontade de sangue, a descrença na falta de confiança de meus amigos, minha única família, me frustrou. Quebrei algumas pernas e braços, quase cheguei a matar o primeiro candidato, mas me controlei no último segundo quando percebi que a pele dele queimava debaixo de mim. Todos os presentes assistiram as lutas, silenciosos, sem uivos nenhum, parecia ser uma luta séria. Logo depois de perceber que ninguém mais estava disposto a lidar comigo, me retirei do local, suado, nem um pouco cansado, e mais aliviado. Talvez fosse isso que eu precisasse. Tomei um banho demorado no vestiário, e fui lentamente até a recepção.
-Você ainda está nervoso? -Bill pergunta quando me escoro no balcão.
-Não Bill. -Dou risada do seu jeito acuado e curioso. -Estou bem mais tranquilo.
-Ah, que bom. -Ele suspira aliviado. -Tive medo daquele seu jeito demoníaco, a forma como se comportava perto dos outros infernais, era realmente superior. -Ele diz rápido. Me senti bem como superior.
-Eu precisei atuar um pouco para conseguir a luta. -Batuquei no mármore. -Viu como eles estavam com medo? -Dou risada baixa.
-Sim, parecia que era o próprio Satã que estava lá. -Ele comenta solto. Fico tenso.
-Eu pareço ele? -Pergunto sério.
-Eu nunca o vi, mas a postura extremamente dominante e superior lembrava alguém como ele. -Ele diz nervoso. -Eu não queria te comparar com ele, desculpa! -Ele ergue as mãos exaurido.
-Eu não estou bravo com isso Bill. -Olho em volta. -Talvez eu seja realmente parecido. -Me levanto do banquinho. -Eu já vou, qualquer problema me chame. -Me despeço dele e caminho até meu querido e aconchegante quarto.
Tranco a limiar pela primeira vez, desejando que ninguém entre. Me jogo na cama com as pernas soltas para fora. Um suspiro alto escapa. Me sinto pesado, repleto de vontades contidas. Culpa, chateação, solidão. Eu quero não sentir isso tudo, quero ir ao inferno falar com meu pai, ver minha mãe, conversar com Elis, e acabar com isso logo. Quero não ter que me sentir incompleto. Desejo me sentir estável em um lugar que possa chamar de lar, e com as pessoas que eu amo.
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Chasing The Secret
Mystery / ThrillerA diversidade de motivos que eu tenho para odiar estar onde estou é grotesca, a começar pelo fato de um ser miserável como eu, estar aprisionado por Equidna e sendo acusado de algo que não sou. Como podem me acusar só por ser filho de algo divino e...
