Chasing The Secret

"Eu finalmente falei!!"

...

Sou pego por uma vontade fumegante, que me aperta o peito e chega a embaçar minha visão, minha garganta se fecha e meu nariz arde. É impossível, eu não choro, não posso fazer isso, eu sou Satan, desprovido de lágrimas, nunca chorei...Mas por que meus olhos estão úmidos? Por que minha visão está turva, e por que meu peito arde tanto?

Daen olha para mim com os olhos mortos, assustado, nem mesmo ele acredita no que vê, talvez ninguém nunca tenha chorado por ele. Dou um sorriso mudo em sua direção, um silencioso "Não é o que pensa". Ele volta a abaixar a cabeça em meu ombro. Esse calor é bom, tão confortável e distinto.

Isso é amor? Por que Deus está despejando em mim esse sentimento humano, essa coisa toda que arde o peito de forma dolorida, mas de repente é quente como o colo de uma mãe? Por que estou sendo abençoado, mesmo estando tão longe de merecer isso?

-Eu talvez ame vocês como quando era criança. -Daen diz tão dolorido, tão atormentado e deprimido que sou pego tendo falta de ar por ele, é como se fosse sua última frase, sua última respiração. Agarro seu rosto vermelho. O encaro nos olhos, vasculhando todo seu consciente, puxando para mim tudo que o machuca. Eu quero sentir também. Eu não consigo dizer as benditas palavras.

Uma pontada forte aperta meu peito, dessa vez imensurável, minha visão se torna completamente turva, está branco, branco demais para o inferno. Então eu sinto o cheiro diferente, ouço ao longe as harpas que tocam melodicamente, eu sinto a presença do tão conhecido...Deus.

-Estou te dando a chance de se redimir com um ser que não tem culpa de ser seu filho legítimo, ele não merece sofrer Lúcifer, não pediu por isso. Ele tem a alma boa, foi abençoado por minhas mãos, não destrua o coração desse jovem. -A voz calma de Deus ecoa em minha mente, zumbindo meus ouvidos, acalmando meu coração de uma forma inexplicável. É a segunda vez que ele fala comigo, em tantos milênios. -Diga de vez o que sente por ele, e tudo estará terminado.

...

Volto a enxergar o quarto de Sofia, vejo os olhos curiosos do meu filho, e ouço os soluços do anjo em meus braços. O mundo parece ter parado somente para ouvir eu dizer, até mesmo ele parece saber a luta interna que sinto, ele parece esperar que eu diga.

-Eu...eu. -Respiro fundo. -Eu amo vocês...-Digo sentindo um grande peso sair de dentro de mim a dor some em um passe de mágica, e tudo parece tão leve como nunca foi.

Sofia se ergue de imediato, e Daen acompanha seu ritmo, os dois me olham em silêncio, mas suas orbes claras, vividas e molhadas dizem tantas coisas, eu não acompanho o ritmo. Ela respira fundo, parece processar o que eu disse, já Daenmon sorri minimamente, seus olhos brilham intensamente em vermelho sangue, ele passa a limpar o rosto manchado de sangue.

-Eu quero ouvir de novo. -Ele diz e sua voz soa rouca. Me encara como uma criança.

-Eu amo vocês. -Sinto as bochechas do meu rosto ferverem.

-Ai cacete. -Ele tampa o rosto e Sofia o olha de forma alegre. -Você disse mesmo...-Ele me abraça fortemente em um baque só, o seguro firme, retribuindo. 

Eu disse...Porra, eu finalmente falei!!

-Você falou que não seria um bom pai, mas me faz o cara mais grato do mundo por ouvir isso. -Ele sussurra no meu ouvido. -Obrigada.

Como eu reajo? Ele me agradeceu por simplesmente dizer algo que ele deveria ouvir a vida toda. Olho para Sofia que derrama pequenas lágrimas dessa vez de alegria, seu sorriso é estonteante, meu interior se aquece. 

...