Capítulo 24

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"Teu nome está gravado em meu peito, e nada vai apagar isso."

O fundo da minha casa era meu lugar favorito para fugir de tudo. O vento batia suave, fazendo as folhas das árvores dançarem ao meu redor, e o som do meu coelho Larry remexendo sua gaiola me dava uma estranha sensação de paz. Era ali que eu sempre me sentia mais livre, longe do olhar atento dos adultos e das chatices de sempre.

Eu estava caminhando para a casinha de Larry quando notei algo estranho: uma figura agachada bem próxima da gaiola. Um garoto, de costas para mim, estava falando com ele. O tom da voz dele era baixo, mas as palavras cortantes chegaram aos meus ouvidos conforme me aproximei.

— Esse é o nome mais ridículo que já ouvi. Larry? Quem dá um nome desses pra um coelho tão... horrendo?

Fiquei paralisada por um instante, a boca abrindo e fechando como se buscasse palavras. Quem ele pensava que era para falar assim do Larry?

— Ei! — chamei, cruzando os braços. — O que você está fazendo com o meu coelho?

Ele se virou devagar, como se estivesse irritado por ter sido interrompido. Seus olhos eram intensos, avaliadores, e ele tinha um sorriso arrogante, como se estivesse se divertindo às minhas custas.

— Apenas constatando fatos. Esse coelho é feio, e esse nome... é pior ainda.

Minha boca abriu em um perfeito "o" de indignação. Larry? Feio? O meu Larry?

— E você acha que tem direito de falar isso? Nem te conheço, e já sei que você é horrível! — rebati, apontando para ele com o dedo.

Ele deu de ombros, como se não se importasse.

— Uau, que ofensivo. Estou devastado. — O sarcasmo na voz dele me deixou ainda mais irritada.

Respirei fundo, tentando me recompor.

— O que você está fazendo aqui, afinal? Onde você mora? — perguntei, ainda de braços cruzados.

Ele desviou o olhar por um instante, como se a resposta fosse complicada demais para ser dada.

— Longe. — Foi tudo o que disse, antes de voltar a olhar para o coelho.

— Então o que está fazendo aqui?

Ele suspirou, claramente achando minha pergunta entediante.

— Meu pai me obrigou a vir. Ele disse que tem que manter as aparências pra minha mãe não desconfiar que ele está com a vaca da Lenne.

Minha sobrancelha se ergueu, confusa. Lenne? A tia Lenne?

— Ei! — repliquei, defensiva. — A tia Lenne não é uma vaca! Tá, ela é meio chata às vezes, mas isso não quer dizer que...

— Não quer dizer o quê? Que ela não é insuportável? — Ele riu, interrompendo minha fala. — Você claramente não a conhece bem.

A raiva começou a ferver em mim, mas antes que eu pudesse respondê-lo, Larry começou a fazer barulho na gaiola, parecendo tão incomodado quanto eu com a presença do garoto. Ele então olhou para a casinha do coelho e viu a placa com o nome de Larry.

— Esse é o nome dele? — perguntou, apontando para a placa.

— Sim. E não adianta zombar, ele é um ótimo coelho! — respondi, já irritada com ele. Mas, antes que eu pudesse falar mais, o garoto deu um pequeno sorriso e se levantou.

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