Capítulo 69

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"Mesmo longe, ele está em cada canto da minha mente."

YOLANDA

Os últimos três dias se arrastaram como se o tempo estivesse preso em um ciclo interminável de pensamentos e silêncio.

Eu queria odiá-lo. Queria que o ressentimento que eu sentia pelo desprezo dele pelo nosso filho fosse suficiente para enterrar qualquer outro sentimento. Mas não era. Havia algo maior, mais pesado, que me puxava para ele, mesmo agora, com ele trancado atrás de grades.

Ele assumiu a culpa por mim. Não pelo bebê. Não por nós. Ele sequer mencionou a criança. A decisão dele foi por mim. Só por mim. E, mesmo que isso parecesse egoísta da parte dele, eu sabia o peso que carregava.

Pela milésima vez, me peguei revivendo aquele momento em que Cassandra entrou no meu quarto. O que eu esperava dela? Talvez choque, talvez um rompimento definitivo. Mas ela reagiu de forma quase indiferente. Como se o que eu tivesse feito não a surpreendesse.

Eu matei a minha mãe.

A frase ecoava na minha cabeça, mas não parecia real. Quando finalmente tive coragem de contar, Cassandra apenas me olhou. Não havia raiva, nem horror, nem o tipo de indignação que qualquer pessoa normal teria. Era como se ela já soubesse.

Essa apatia dela me incomodava. Porque, se ela não reagia, o que isso dizia sobre nós duas? Que éramos iguais? Que carregávamos o mesmo peso nas costas e a mesma escuridão no peito?

Eu não sabia. Talvez nunca soubesse.

Mas uma coisa eu sabia: precisava vê-lo.

Levantei do sofá, passando as mãos pelos braços como se o frio fosse algo que eu pudesse afastar. A ideia de encarar Tom – ou o que ele havia se tornado agora – me deixava inquieta. Não porque ele estivesse preso, mas porque eu não sabia como lidar com o que ele havia feito.

Ele mentiu para me proteger. Assumiu um crime que não cometeu. Mas isso não apagava o fato de que, até o último momento, ele ignorou o nosso filho.

Eu sabia que esse sacrifício dele não era pelo bebê. Era por mim. Talvez fosse sua forma distorcida de mostrar amor, ou talvez fosse só culpa. Mas ele precisava entender que também é uma parte dele.

O pensamento de que Tom não estaria presente na formatura nem no baile não saía da minha cabeça. Era estranho imaginar esses momentos sem ele. Por mais que estivesse furiosa com tudo o que ele havia feito e dito, sabia que ele não estaria preso se não fosse por mim. Ele assumiu a culpa. E, no fundo, isso doía mais do que eu estava disposta a admitir.

Joguei minha mochila sobre o ombro. As últimas semanas de aula estavam passando lentamente, mas eu precisava enfrentar. Desci as escadas com passos pesados, tentando não pensar muito em nada, mas era impossível. Cada detalhe da casa me lembrava de Tom. O que me incomodava ainda mais era saber que ele estava lá, trancado, enquanto eu seguia em frente.

Cheguei ao andar de baixo e parei por um instante, observando meu pai e Margareth em pé, ao lado da mesa. Ela ajeitava a gravata dele com cuidado, como sempre fazia, e os dois pareciam tão imersos na conversa que nem notaram minha presença de imediato. Quando finalmente me viram, eles sorriram levemente.

— Bom dia, querida — Margareth disse, com a voz suave de sempre, carregada de falsidade.

— Meu amor, dylan já deve estar chegando — Meu pai comentou, ajeitando o relógio no pulso.

Revirei os olhos, sentindo a irritação crescer dentro de mim.

— Não perguntei nada — Retruquei, sem esconder o tom de desdém. — Sei que todo santo dia esse encosto aparece.

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