Capítulo 90

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"Eu te amo no caos, onde somos só nós dois, sem ninguém mais."

YOLANDA

O ar gelado da clínica me envolveu assim que passei pela porta, um contraste gritante com o frio do lado de fora. Puxei a barra da minha blusa para baixo, ajeitando a bolsa no ombro enquanto caminhava em direção à recepção. O som dos sapatos das enfermeiras ecoava pelo corredor, misturando-se ao barulho dos monitores que apitavam em algum lugar mais ao fundo.

Dylan, como sempre, não me acompanhou.

Ele só reduziu a velocidade do carro na entrada, esperando que eu saísse, e seguiu sem ao menos me desejar boa sorte ou perguntar como eu estava.

Nada novo.

Suspirei, tentando ignorar aquela sensação de vazio que me consumia cada vez que notava o quanto esse casamento era um jogo de interesses. Para ele, eu não passava de uma peça no tabuleiro, um nome ao lado do dele para manter aparências.

Caminhei até uma das cadeiras da sala de espera e me sentei com um suspiro cansado. Cruzei as pernas, apoiando a mão sobre a barriga que crescia cada dia mais, e tentei relaxar.

Meus olhos correram pelo ambiente, observando outras mulheres grávidas, algumas acompanhadas de maridos ou familiares. Vi um casal conversando baixinho, a mão dele repousada sobre a barriga da esposa.

Uma pontada estranha atravessou meu peito.

Eu deveria estar vivendo isso.

Mas estava sozinha.

Desviei o olhar para o chão, mordendo o lábio para afastar aquela sensação incômoda, quando uma voz soou atrás de mim.

— Yolanda.

Minha respiração travou.

Meu corpo se enrijeceu por um segundo, e meus olhos arregalaram antes que eu tivesse coragem de olhar para trás.

Eu conhecia aquela voz.

Devagar, virei o rosto, e meu coração disparou assim que meus olhos encontraram o dono dela.

Tom estava ali.

De pé, a poucos metros de mim, com aquele olhar intenso preso em mim. O moletom escuro, a calça jeans larga e a postura relaxada, o seu estilo verdadeiro. Como se ele estivesse ali o tempo todo, me esperando.

Mas não era só a presença dele.

Era o jeito que ele me olhava.

Como se nada no mundo importasse mais do que estar ali, naquele momento.

— O que… — Minha voz saiu trêmula. — O que você tá fazendo aqui?

Ele sorriu de canto, sem pressa para responder.

— Vim acompanhar vocês.

O ar ficou preso nos meus pulmões.

Minhas mãos suaram de repente, e um nó se formou na minha garganta.

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