Capítulo 87

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"Me corrija se eu estiver errado, mas você também não quer fugir, não é?"

YOLANDA

O espelho à minha frente refletia muito mais do que minha aparência. Meus olhos estavam arregalados, minha respiração ainda fora de ritmo. Passei a mão pelo rosto, tentando apagar o choque, mas o cheiro dele…

O cheiro dele ainda estava em mim.

Me afastei do espelho, puxando o ar com força, mas o perfume de Tom ainda estava ali. Em mim, nos meus cabelos, na minha pele. Uma mistura de madeira e algo forte, quente, que fazia minha mente voltar para aqueles minutos no banheiro.

Para as palavras dele.

Para as ameaças dele.

A porra do meu coração não deveria estar batendo tão rápido.

Dylan.

O pensamento veio como um alerta, e o pânico subiu pela minha garganta. Ele perceberia. Ele sempre percebia.

Saí do banheiro, passando as mãos pelos cabelos, tentando me recompor. Mas não demorou nem dois passos para eu sentir a mão de Dylan fechando em meu braço.

— Onde você estava? — O tom era impaciente, carregado de uma autoridade que ele não tinha sobre mim. — Eu estava te procurando!

Levantei o olhar para ele, sentindo a raiva substituir o medo.

— Me solta, Dylan.

— Você sumiu de novo. — Ele apertou um pouco mais, e um arrepio de ódio subiu pela minha espinha. — Toda vez a mesma coisa.

Eu já ia responder quando meus olhos bateram em outra cena.

Tom.

Tom e Lia.

Ele estava ali, de pé, próximo a ela, os dois parecendo à vontade demais.

Algo me ferveu por dentro, mas antes que pudesse entender, puxei meu braço com força.

— Solta o meu braço. Agora. — Minha voz saiu firme, cortante.

Dylan demorou um segundo para me encarar, mas acabou me soltando.

E Tom… ele viu tudo.

Ele viu a forma como Dylan me segurou. Viu como eu me livrei dele.

Mas ao invés de intervir, só ficou ali, observando.

Foi Lia quem quebrou o contato visual, puxando Tom pelo braço e o levando para outra parte da festa.

E então, como se o inferno não tivesse satisfeito ainda, outra presença se aproximou.

— Minha filha… — A voz profunda fez meus olhos revirararem antes mesmo de sentir os braços do meu pai ao redor de mim.

O toque dele me fez endurecer, mas mantive o rosto neutro.

— Como está minha menina? — Ele passou a mão pela minha barriga, o sorriso de satisfação óbvio.

— Estou ótima — Respondi ao meu pai, forçando um sorriso educado enquanto ele deslizava a mão pela minha barriga como se eu fosse algum tipo de posse.

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