"Eu me perco no abismo que você é, sabendo que nunca vou querer sair."
YOLANDA
O celular não estava em lugar nenhum. Eu revirei meu quarto inteiro, puxei lençóis, derrubei travesseiros, abri gavetas, roupas foram para o chão, mas nada. Uma onda de raiva subiu queimando minha garganta.
Margareth.
Ela só podia ter pegado. Aquela mulher desgraçada estava sempre um passo à frente, sempre metendo as mãos onde não devia. Se eu tivesse o celular, poderia avisar Tom, dizer que tinha dado merda, que ele não deveria me esperar. Mas agora... agora eu estava sozinha nisso.
Respirei fundo, forçando minha cabeça a funcionar. A casa estava em silêncio. Cassandra estava no quarto, provavelmente se arrumando para essa palhaçada, e Margareth devia estar fazendo o mesmo. Se eu fosse esperta e rápida, poderia sair despercebida.
Eu não levava nada comigo. Nenhuma bolsa, nenhuma muda de roupa. Apenas aquele vestido ridículo, branco e bufante, que parecia pesar toneladas em meu corpo. O salto alto apertava meus pés e o cabelo solto caía em ondas, decorado com pequenas flores e joias. Uma noiva perfeita, uma boneca de porcelana prestes a ser exibida no altar para um casamento forçado.
Inferno.
Meus olhos foram até o relógio da sala. Quase seis horas. Faltavam dez minutos.
O tempo corria contra mim.
Desci as escadas sem fazer barulho, minha respiração presa no peito. Cada passo parecia ecoar alto demais. O som abafado da chuva batendo contra as janelas preenchia o ar. Eu me movia rápido, me esgueirando pela casa como uma sombra. O destino? A porta da cozinha.
Se eu saísse por ali, daria direto no quintal, e então era só correr. Só correr até a estrada, até qualquer lugar longe dessa merda toda.
Meu coração martelava no peito enquanto empurrava a porta devagar, a madeira rangendo baixo. O cheiro de terra molhada veio com o vento frio da noite, e por um instante, eu pensei que conseguiria. Pensei que teria uma chance.
Mas assim que meus pés tocaram a varanda, a luz foi acesa.
Minha respiração travou.
Eles estavam lá.
Otto. Dylan. Margareth.
Como se estivessem esperando por mim o tempo inteiro. Como se já soubessem.
O olhar de Dylan foi o primeiro a me perfurar, um brilho cruel refletido em seus olhos. Ele se levantou devagar, como um predador se aproximando de sua presa.
— Você realmente achou que ia conseguir fugir, não é? — Ele riu baixo, mas era uma risada fria, cortante. — Se achou muito esperta, mas me diga, querida... O que te fez pensar que eu não sou mais esperto que você?
Meu estômago se revirou. Eu me preparei para correr, para fazer qualquer coisa, mas Otto falou antes que eu pudesse reagir.
— Estou decepcionado, Yolanda. — Sua voz era calma, calculada, mas carregada de reprovação. — Eu esperava mais de você. Nunca imaginei que minha própria filha manteria contato com um bandido. Um criminoso que matou a sua mãe. Que largaria o futuro marido plantado no altar.
Minha garganta secou. Meus dedos se fecharam ao redor da saia do vestido.
— Ele não matou a minha mãe. — Minha voz saiu baixa, mas firme.
— Não minta para si mesma, garota. — Otto cruzou os braços, seu olhar gélido me atravessando. — Você realmente acredita que ele é um herói? Um salvador? Ele é um assassino, Yolanda. E você é ingênua se pensa que ele não vai destruir sua vida.
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Inefável
FanficYolanda, uma garota fria com intenções quentes, carrega a lembrança de Tony, seu protetor e amor de infância. Juntos, prometeram ficar juntos quando crescessem, mas Tony desapareceu sem deixar rastros. Anos depois, Yolanda se envolve com Tom Kaulitz...