Capítulo 86

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"Meu corpo sente falta dele, mas minha alma grita para que eu siga em frente."

YOLANDA

A sala estava silenciosa, preenchida apenas pelo som do gelo tilintando contra o vidro das taças que Dylan e Lia seguravam. A luz amarelada dos lustres criava sombras suaves no mármore do chão, refletindo o brilho do uísque dourado na mão de Dylan e do vinho tinto que Lia girava distraidamente na taça.

Eu estava sentada no sofá oposto, segurando um copo d’água que já estava quente pelo tempo que o mantinha nas mãos. Sentia-me deslocada naquele ambiente frio, onde tudo parecia girar em torno de aparências e dinheiro.

Dylan estava relaxado contra o estofado de couro, com uma perna cruzada sobre a outra e a expressão de quem já tinha bebido o suficiente para estar satisfeito, mas não o bastante para estar embriagado. Lia, ao seu lado, mexia no celular com um sorriso presunçoso nos lábios, parecendo mais interessada no que via na tela do que na presença de qualquer um ali.

O silêncio foi quebrado pela voz dela, carregada de uma animação que me fez olhar em sua direção.

— Vou levar o cara que estou conhecendo para a festa da empresa do papai — Anunciou, jogando os cabelos para trás como se estivesse revelando a maior novidade da noite.

Dylan ergueu uma sobrancelha, levando a taça aos lábios antes de responder, sem muita preocupação:

— Desde que ele não seja um pobre fodido, leve-o.

Revirei os olhos. Claro que ele diria isso. Para eles, tudo se resumia a dinheiro.

Lia riu com desdém, como se a simples ideia de se envolver com alguém sem uma conta bancária milionária fosse absurda.

— Ah, por favor, Dylan. Como se eu fosse me interessar por alguém sem dinheiro — Ela balançou a cabeça, cruzando as pernas. — Ele é investidor de peças automotivas e carros importados. Então relaxa, maninho, ele tem dinheiro.

Dylan assentiu, satisfeito com a resposta, girando o gelo na taça antes de tomar mais um gole.

— Então está tudo certo. Mas vê se não faz merda. Essa festa tem muita gente importante.

Lia bufou, revirando os olhos.

— Você acha que eu sou uma idiota? — Rebateu, cruzando os braços. — Eu sei exatamente como me comportar. Fale isso para sua noiva.

Deixei escapar uma risada curta, sem humor.

— Claro que sabe.

Ela me lançou um olhar irritado, estreitando os olhos.

— E você, Yolanda? — Seu tom carregado de ironia me fez encará-la. — Já escolheu o vestido perfeito para brilhar ao lado do meu irmão? Sem envergonha-lo.

Apertei mais forte o copo entre os dedos, controlando a vontade de respondê-la à altura. Em vez disso, sorri com sarcasmo.

— Vou vestida de saco de lixo. Acho que combina com o evento e com vocês.

Dylan largou a taça na mesa de centro com um barulho seco, me lançando um olhar cortante.

— Para de falar merda. Você vai vestida como uma mulher de respeito.

Cruzei os braços, entediada.

— E eu achei que tivesse escolha.

— Não tem.

Minha irritação cresceu ainda mais.

— Essa família só gira em torno de dinheiro — Murmurei, olhando de um para o outro. — É a única coisa que importa para vocês, né? Quem tem, quem não tem, quem pode entrar no círculo, quem deve ser descartado.

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