Capítulo 23

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"Eu fujo de você e corro para seus braços, porque sei que não posso escapar."


YOLANDA

A manhã estava nublada e gelada, resquícios da tempestade que havia caído durante toda a noite anterior. Um arrepio percorreu minha pele exposta, lembrando-me do peso que ainda me prendia à cama.

Tom.

Ele estava deitado de bruços ao meu lado, as tranças espalhadas pelo travesseiro, com o rosto parcialmente oculto. Um braço pesado estava jogado sobre minha cintura, como se até dormindo ele quisesse garantir que eu não fosse a lugar algum. Sua respiração era lenta e constante, o peito subindo e descendo em um ritmo hipnotizante.

Tentei mexer, mas ele parecia colado em mim. Tomei fôlego e, com cuidado, deslizei para fora do seu alcance, empurrando seu braço devagar. Ele soltou um murmúrio baixo e se mexeu levemente, virando o rosto para cima, mas não acordou. Observei por um momento, o jeito que seus traços duros pareciam relaxados agora, quase como se ele fosse outra pessoa.

Balancei a cabeça, afastei o pensamento, e me levantei. O chão gelado sob meus pés era um contraste brutal com o calor que ainda sentia no corpo. Revirei a minha bolsa, para achar algo que tampasse esse frio incessante.

Vesti meu casaco por cima da camiseta larga de Tom, ajustando as mangas.

Peguei minha bolsa, e a gaiola de Larry, tentando ser o mais silenciosa possível enquanto descia as escadas. Meu coração acelerou ao ver Charlotte sentada no sofá, o olhar perdido pela janela. Eu não esperava encontrar ninguém, queria apenas sair sem ser notada.

Ela virou a cabeça ao ouvir meus passos, seus olhos pousando em mim.

— Já está indo? — perguntou, levantando-se devagar.

— Sim. — Apertei o casaco contra o corpo. — Acho que é melhor eu ir para casa.

Charlotte me olhou com preocupação, os braços cruzados como se analisasse à minha disposição.

— Está bem para ir sozinha? Consegue ficar sozinha?

Hesitei. Não queria parecer ingrata, mas também não tinha forças para prolongar a conversa.

— Estou bem, de verdade. Só preciso de um tempo.

Ela deu um suspiro, assentindo com relutância.

— Certo. Mas se precisar de algo, sabe que pode me chamar, não sabe?

— Sei. Obrigada, de verdade.

Ela me acompanhou até a porta, segurando-a aberta enquanto eu saía. A brisa gelada da manhã atingiu meu rosto assim que coloquei os pés para fora.

Minha casa era logo ao lado, mas cada passo parecia arrastado, como se o ar pesado dificultasse meu avanço. Olhei para o céu cinzento, sentindo o frio que fazia minhas mãos tremularem enquanto segurava a gaiola. Larry estava inquieto, mas calmo o suficiente para não fazer barulho.

Quando finalmente cheguei à porta da minha casa, soltei um suspiro de alívio. Entrei, fechei a porta e encostei nela, sentindo o silêncio ao meu redor. Larry remexeu-se na gaiola, e eu o coloquei cuidadosamente no chão, abrindo-a para que ele pudesse se acomodar.

Apesar de estar de volta, ainda havia algo que parecia faltar. Ou talvez, algo que eu deveria ter deixado para trás, mas não consegui.

Tom kaulitz

A cama estava vazia ao meu lado, o lençol amassado e ainda morno no lugar onde Yolanda deveria estar. Meu olhar vagou pelo quarto, procurando sinais de que ela ainda estava por perto.

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