DESENQUILÍBRIO MENTAL

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15 MINUTOS DEPOIS...

MARÍLIA

Maraísa havia saído do quarto, mas os gritos inconfundíveis no andar de cima me chamaram atenção. Joguei o celular sobre a cama apressadamente e sem pensar duas vezes caminhei até o cômodo. Abri a porta e me surpreendi com a cena. Maiara de um lado da mesa enquanto praticamente gritava, Maraísa parada no meio da sala com sua postura séria, maxilar travado e ouvidos atentos. Henrique apenas em silêncio, observando tudo como se nada ali importasse. Se dependesse dele, elas se matariam.

-Vai fazer o que? Atirar em mim? - Maraísa provocou assim que Maiara puxou uma arma.

-Talvez eu torne sua ficção uma verdade.

-Vai, atira! - Maraísa gritou autoritária, em um tom grosso. - Mostra que a garotinha mimada ainda habita em você.

-Não é a porra da garotinha mimada, é o nosso passado. - Maiara colocou a arma sobre a mesa, e apontou o dedo para Maraísa enquanto deferia as palavras em gritos roucos e intensos.

-EU NUNCA VOU MUDAR, ALMIRA NUNCA VAI MUDAR, VOCÊ NUNCA VAI MUDAR! VOCÊ NUNCA VAI PARAR DE BUSCAR UM MÍNIMO DE REDENÇÃO QUANDO SE TRATA DA ALMIRA E ELA NUNCA VAI DEIXAR DE DECEPCIONAR VOCÊ! -Maiara gritava com a irmã.

-Você está errada! Não sabe de toda a história! - Maraísa alterou o tom de voz.

-EU NÃO QUERO SABER TODA A HISTÓRIA, MARAÍSA! EU NÃO QUERO MAIS DESCULPAS OU MENTIRAS, OU QUALQUER COISA QUE DIGA QUE NÃO FOI EXATAMENTE O QUE ELA FEZ! - Maiara caminhou até Maraísa em passos rápidos.-NOSSA MÃE FUGIU DEPOIS DA MORTE DO PAPAI. DEIXOU OS FILHOS PARA TRÁS, FORMOU UMA NOVA FAMÍLIA COM A BASTARDA E DEU UM JEITO DE NOS ESQUECER ATÉ OS ATUAIS DIAS DAS NOSSAS VIDAS! - A ruiva respirou fundo. - Essa é a história que me importa, Maraísa.

Maiara já tinha os olhos marejados e Maraísa se mantinha fria como sempre.

-Ela nos abandonou, sem se importar com o que aconteceria conosco.

-Ela sofreu com isso, Maiara... - Maraísa foi interrompida.

-Ela teve e tem o que merece. -A ruiva se manteve firme.

Maraísa se manteve em silêncio, pareceu acatar o que a irmã disse. Eu não me envolveria no momento, era um caso de família que realmente precisavam resolver. Envolvia dores, conflitos e um passado delicado.

-Precisei fazer o que fiz pra ficar bem... - a morena disse assim que a irmã virou as costas.

-E quanto a mim? - Maiara virou rapidamente, ainda irritada. - E quanto a mim? - repetiu com os olhos lacrimejados. - Eu entendi, você ficou bem, MAS E QUANTO A MIM?! - ela praticamente gritou no rosto da irmã.

Maiara levou as mãos ao rosto, tentando esconder o choro compulsivo que tomou seus estímulos. Pude ouvir um suspirar pesado de Henrique e ao me aproximar com passos lentos, pude ver a expressão frustrada de Maraísa, e observar seus olhos castanhos começarem a marejar.

-Me desculpa... - ela sussurrou ao mesmo tempo em que tentou tocar o braço da irmã, que por estar com raiva recuou, se afastando.

-Ela nos machucou de todas as formas possíveis. Tanto a mim, quando a você e quanto ao Marco. - Maiara disse em um tom controlado. - E mesmo assim você escolheu ela... - Maraísa tentou impedi-la. - Você me dá nojo!

A ruiva passou por mim, e o barulho da porta batendo com força foi emanado de forma intensa. Maraísa se manteve estática, e a vi enxugar uma lágrima. Henrique se aproximou acompanhado de dois seguranças.

- Luísa...

-Se a história te ensinou algo, não é nós quem te abandonamos... é você quem nos afasta. - Luísa disse séria. - Podemos conversar outra hora, é melhor assim. - a loira deixou um beijo em seu rosto e saiu atrás da esposa.

Henrique respirou fundo, e mudando o foco de tudo, trocou o assunto.

-Ainda sou seu mentor e quanto a isso, temos uma proposta com o líder da Colômbia e seus homens. - O homem de olhos azuis falava pacientemente como se nada houvesse acontecido. - Precisa aceitar, estou tentando te salvar... - foi interrompido.

-Eu não preciso de ninguém pra me salvar. - A mafiosa disse orgulhosa. - Não preciso do presidente colombiano, dos homens dele ou seja lá quem for. - a morena/ loira deu passos curtos para que ficasse bem de frente ao seu mentor. - Eu sou uma Pereira, e não irei me curvar para um homem.

Henrique abaixou a cabeça por alguns instantes e eu caminhei um pouco mais para perto. Maraísa respirava descompassado ao mesmo tempo em que o homem se reerguia para olhá-la nos olhos.

-Sabe o que eu vou fazer... não sabe?! - ele disse em um tom firme, mais alto. - Você precisa de mim.

-Eu sou Maraísa pereira, eu não preciso de ninguém e não serei ameaçada por homens fracos. - a morena/ loira disse após o empurrar para em direção a parede. - É de mim que os homens fracos tem medo.

(...)

Um dos seguranças foi empurrar Maraísa, mas por extinto de proteção, me enfiei ao meio para que não a machucassem. O impulso firme e forte assim que as mãos do homem tocou meu peito, me arremessou para trás.

HENRIQUE

Aprendi desde cedo que ativar a fúria e o ódio de alguém é tocar de forma bruta em quem amamos. Pude ver a fúria naqueles olhos escuros tomados por ódio, sua postura séria e fria já me assustava... era difícil vê-la assim, e aquela situação toda só tornou tudo ainda mais intenso.

Instantaneamente, em questão de segundos, Maraísa empurrou o homem para trás com toda força que tinha. Ao mesmo tempo, dava passos lentos em direção a ele que recuava lentamente até encostar-se na parede.

-Maraisa, para! por favor! - a loira se aproximou rapidamente a segurando pelo braço.

MARÍLIA

Ela estava incontrolável, fora do próprio controle e aquilo era terrivelmente assustador.

-Solta ele. - Henrique soou paciente erguendo uma arma.

Aquilo parecia um show de horrores onde eles brigavam como animais selvagens por motivos dolorosos guardados e ocultados recentemente e os do passado. Onde somente numa noite eles haviam colocado tudo pra fora e transformado uma simples conversa em armas engatilhadas e ameaças ofensivas.

-Você quer me matar? - ela soou extremamente em um perfil psicopata.

-Amor, olha pra mim. - toquei seu rosto. - Para com isso.

Maraísa respirou fundo, e ainda olhando nos meus olhos ela engoliu em seco. Deixou a brutalidade de lado e a levando pela mão a retirei do ambiente.

(...)

35 minutos depois...

Ela bebia algo alcoólico enquanto estávamos sentadas na área externa da casa. Ainda eram 21:00 e só iríamos ao aeroporto quase na hora do embarque programado do jatinho, para que não houvesse problemas. Os desentendimentos de família teriam de se acalmar, ou eles se arruinariam em uma só noite.

-Desculpa. - Ela disse baixo.

-Ainda bem que sabe, você realmente passou de todos os limites.

-Desculpa, amor. - ela escondeu o rosto entre as mãos após colocar a garrafa de Bourbon no chão.

-Eu fiquei com medo de você. - confessei após ela erguer o rosto e me olhar nos olhos. - Você me assustou, sua violência me assustou.

-Ficou difícil manter o controle, pensei que ele tivesse machucado você.

MARAÍSA

Marília podia sentir raiva, desgosto ou vergonha por mim. Mas ninguém a tocaria com brutalidade.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora