CLIMA CHUVOSO

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MARÍLIA

Quando acordei, o quarto ainda estava escuro e o barulho lá fora da chuva era mediano. Ergui um pouco o corpo e senti uma dor de cabeça terrível, repentinamente fechei os olhos e rapidamente levei uma das mãos ao rosto.

Olhei pro lado e vi Maraísa, com os cabelos pretos espalhados pela cama, praticamente sobre mim. Um de seus braços ainda me mantinha ao seu lado, mesmo que em vão... Seu sono estava profundo.

Levantei-me lentamente pra não acorda-la. Senti a temperatura fria do ambiente e então me aproximei outra vez para cobri-la melhor, deixei um beijo em seu rosto e sai do quarto em silêncio. Abri uma das cortinas da sala de estar e só então notei o quanto a chuva estava forte, e as ondas agitadas. Olhei a hora no celular e vi que já se passavam das 6:00 da manhã... e mesmo assim o sol não brilhava lá fora. Aparentemente não seria um dia calmo.

Busquei por remédio de dor na bolsa da morena, ainda jogada sobre o sofá. Em meio a documentos, cartões, notas fiscais de compras bobas e alguns chicletes... encontrei. Levei o pequeno comprimido em formato circular até a boca, bebi um pouco de água e esperei por um tempo sentada no sofá enquanto observava aos poucos a maré subir.

(...)

Abri as redes sociais e me deparei com fotos minhas e de Maraísa espalhadas por completamente todos os sites de fofoca da ferramenta. Busquei o perfil oficial da empresária e ao ver a postagem dela com nossa foto senti um alívio percorrer meu corpo por inteiro. O medo e a dúvida de que tivessem feito aquilo sem nosso consentimento, me assustou por alguns segundos. Analisei a imagem por algum tempo e foi impossível não sorrir de canto, eu era completamente louca por aquela mulher.

Eu não me incomodei com sua atitude, ela tinha minha permissão. Pude sentir liberdade. Em específico, saber que agora poderia falar abertamente sobre nós era bom, mas segurar sua mão sem sentir medo de sermos vistas, ter qualquer contato físico em público era primordial.

Abrir a caixa de mensagens era uma das partes inacessíveis, já que notificações chegavam a todo momento. Meus perfis em redes sociais haviam subido significativamente os números de seguidores, nossos nomes agora faziam parte dos assuntos mais falados no mundo nos últimos momentos. Maraísa tinha uma visibilidade absurda, e sua vida sempre muito preservada era como alimento para um vício quando algo vazava.

Vi o apoio dos familiares e dos fãs da magnata, do público da plataforma e foi bom não me sentir rejeitada outra vez. Confesso que era ótima a sensação de não ser subjugada "passatempo". A postagem de Henrique também era pauta, porém nada muito relevante já que o mundo não sabia do nosso envolvimento no passado. Eu passei longos minutos olhando toda aquela reviravolta e até me perdi no tempo... só sai dali quando minha mãe me contatou por meio de uma chamada.

LIGAÇÃO ON...

-Como se sente, meu bem? Com tudo isso. - ela questionou depois de um tempo. - Por que não fizeram isso antes?

-Eu me sinto livre, mamãe. - sorri em meio a fala. - Sabe, é difícil essa visibilidade toda dela. Ainda mais quando se é uma mulher, sendo autoritária; invejável em meio a esse mundo patriarcalmente estruturado. Eu entendo completamente o lado dela em relação a essa espera, e também era uma decisão minha.

-Fico feliz por saber que também está. - ela mencionou. - Compreendo. Realmente é difícil, o preconceito é tremendo e é necessário lidar com cautela e sabedoria.

Ficamos em silêncio por um tempo e eu pude ouvir sua respiração calma. Pedi que substituíssemos a chamada de voz por chamada de vídeo, pois eu necessitava mostrar algo a ela.

-Quero contar algo a você. - mencionei enquanto apoiava o celular sobre um móvel da cozinha. - Você vai ser a primeira a saber...

Comentei enquanto pegava algo no armário pra comer.

Ela me pediu em casamento. - contei ao me aproximar da tela outra vez, mostrando o anel de noivado em meu dedo.

O anel possuía uma pedra de diamante lapidado, bem centralizado. Possuía a coloração prata, completamente revestida por ouro branco e alguns pequenos diamantes cravados em sequência pela peça. Era delicado e luxuoso.

-É perfeito. - minha mãe sorriu.

Aquele sorriso era extremamente verdadeiro, sua felicidade era vista por mim e reconhecida. Meus pais amavam Maraísa... eu sabia disso, e a morena também.

-Ela pediu pra gente antes! - meu pai disse alto, de fundo. Me deixando surpresa.

(...)

Interagimos enquanto eu comia na sala de estar da cabana. Mostrei a eles o clima lá fora e ficamos conversando por algum tempo...

-A gente está pensando em visitar você em algumas semanas. - minha mãe mencionou.

-Sério? - questionei duvidosa e ela assentiu sorrindo. - Que bom, eu estou morrendo de saudade!!

-Vamos a Califórnia primeiro, não vemos sua tia a um tempo já. E em seguida iremos pra Minnesota. - ela comunicou enquanto fazia algo, eu podia ver pela câmera. - Bem, eu estou cansada... cuida bem da nossa garota, ok? - mencionou sobre Maraísa.

-Sempre. - ressaltei. - Eu queria que pudesse ficar um pouquinho mais, eu sei que está tarde pra você. Mas ela está dormindo e fica tão quieto sem ela com aquela animação toda... - mencionei e minha mãe sorriu.

-Se acostumou, não foi? - questionou.

-Demais. - relatei. - Eu meio que não me sentia eu mesma antes, Maraísa me ajudou com isso. Não é dependência emocional, eu sei que posso viver sem ela, mas não gosto de ficar sem a presença daquela benção. Mesmo sabendo que ela só está dormindo no cômodo acima. - sorri.

Eu nunca havia imaginado uma vida estável depois de Henrique. Ele havia feito um estrago imenso... eu mal podia me imaginar bem depois de tudo aquilo. Eu era só uma garota assustada e perdida em meio aquela bagunça sentimental e a vida agitada por conta dos estudos. Maraísa apareceu de forma trágica, me trazendo paz, estabilidade e afeto. Eu a amava de todas as formas, mesmo que tivesse me assustado tanto no início. Eu me sentia tão segura com ela... me casar com aquela mulher era mais que um sonho...

-Eu esperei tanto pra te ver sorrindo assim outra vez. - ela ressaltou. - Consigo ver vida nos seus olhos novamente. Isso era uma realidade tão distante a alguns anos atrás. Diga a ela que sou grata, e que ficamos muito felizes por vocês.

Eu sorri com os olhos um pouco marejados, que logo tratei para que não virassem um choro de felicidade.

-Mamãe... - respirei fundo. - Eu roubaria, mataria pra mantê-la aqui comigo. Eu faria qualquer coisa no mundo por essa garota.

-Eu sei... sei também que ela faria o mesmo. - ela comentou.

Ouvi alguns passos e pela câmera pude ver Maraísa de pé ainda nas escadas, com a expressão sonolenta, tanto quanto minha mãe também pode. Logo sua voz doce, rouca e fala soou em um chamado...

-Vida... - ela chamou em súplica.

-Meu amor, volta pra cama. - pedi me virando para ela e ela subiu, mencionando que esperaria por mim.

Olhei pro celular outra vez e minha mãe parecia atenciosa.

-Preciso desligar . -Disse.

-Vai lá... também preciso descansar, está tarde aqui. - comentou. - Se cuida, meu bem. Cuida dela também. Tenha um bom dia.. - se despediu.

Fiz o mesmo e a desejei boa noite, ressaltei o quanto a amava e então encerramos a chamada.

LIGAÇÃO OFF...

Me direcionei ao quarto e logo a morena me puxou pra cama, me abraçando e se aninhando a mim.

-Não sai daqui... - ela pediu delicada.

Por estar deitada de lado, toquei seu rosto mesmo sem poder olhá-lo por ela tê-lo escondido em meio ao abraço. Fiz cafuné em sua cabeça até notar que ela estava ficando sonolenta outra vez.

-Eu te amo... - sussurrei baixo ao seu ouvido.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora