NÃO ATIRE

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MARAÍSA

Ainda naquela noite e madrugada turbulenta nos encontrávamos na cama, nuas após um sexo demorado. Eu havia acabado de voltar do banho e me aninhado ao seu corpo.

Marília estava sentada enquanto me tinha em seus braços. Ela acariciava meus cabelos enquanto dividimos uma taça de vinho tinto. Seu cheiro doce e delicado emanava pelo quarto, me fazendo sentir-me inteiramente sua.

- Não está cansada? - ela questionou baixo.

Neguei em um sussurro rouco e falho. Ela apoiou minha cabeça em seu peito, escondendo meu rosto parcialmente na curva do seu pescoço ao mesmo tempo em que as pontas finas de suas unhas arranhava com lentidão meu maxilar e pescoço.

-Como contou aos seus pais que gostava de mulher? - ela questionou baixo. E pelo seu tom de voz era notável que estava envergonhada em fazer a pergunta.

MARÍLIA

-Eu não contei. - ela se aninhou mais a mim. - Meu pai simplesmente me arrancou do armário com ameaças e insultos após me tirar de uma festa a força com alguns seguranças.

Ok, aquilo era completamente fora do imaginado por mim. Ela sempre falava tão bem do pai, mas no fim parecia esconder as piores partes dele.

- Não gosto desse dia. - ela aparentou estar desconfortável.

-Tudo bem, não precisamos falar sobre isso.

A morena assentiu com um movimento milimétrico e eu sorri de canto. Beijos molhados foram deixados em meu pescoço ao mesmo tempo em que eu sentia sua mão acariciar meu abdômen despido.

Depois de um tempo fui sentindo sua respiração se tornar mais leve próximo a minha pele. A chamei baixinho e tudo que recebi foi seu silêncio, ela havia dormido. Confesso que colocá-la em uma posição confortável foi até fácil.

Tomei um banho rápido e quando voltei o sol já nascia lá fora, olhei para a cama e la estava ela...

O fino lençol cinza de seda cobria apenas sua bunda e parte de uma de suas pernas. Suas costas definidas estavam a mostra, seus cabelos castanhos intercalado em mexas claras se espalhava pelo travesseiro e alguns fios até teimaram em cair sobre seu delicado rosto. Eu amava sua melanina, seu corpo esculpido e seu jeito cuidadoso.

Relembrei seu sorriso e imaginei o quanto seria difícil deixá-la para trás se a decisão de me permitir deixá-la entrar não fosse algo fácil de aceitar.

Apaguei as luzes fortes, deixando apenas o fraco led ligado e me deitei ao seu lado. Afastei alguns fios de cabelo que insistiam em cair sobre seu rosto, o analisei com carinho e deixei um beijo em sua testa, descendo até seu maxilar bem marcado que me era uma das coisas mais atraentes. Repousei minha mão sobre sua cintura nua e fechei os olhos em busca de sono.

(...)

Acordamos no horário e tomamos banhos rápidos e separadamente. Vesti uma calça jogger preta e um moletom, da mafiosa, no mesmo tom. Comemos ainda mesmo no hotel com a companhia de Luísa e Maiara, depois embarcamos para Minnesota lado a lado. Quem nos visse com toda certeza diria que éramos um casal, em todas as ações de Maraísa isso ficava visivelmente claro. E eu logicamente gostava disso.

Sentada ao meu lado Maraísa mexia em algo no celular, algo bobo que a fazia entreter-se. Eu sorri de lado ao analisar e perceber como ela podia ir, regredir de uma adolescente idiota e cheia de marra, ou alcançar uma mulher foda, cheia de si e completamente autoritária.

-O que foi? - ela questionou baixo enquanto ainda olhava pro aparelho telefônico.

-Nada, meu bem. - Ela automaticamente me olhou e um sorriso lindo surgiu em seus lábios.

Ela parecia tão boba quando algo do tipo saia de mim em uma demonstração de afeto. E eu a entendia, era raro uma atitude sair de mim em relação a nós. Retirei o aparelho da sua mão e puxei sua cabeça para deitar em meu ombro ao mesmo tempo em que meus dedos acariciavam seu rosto.

-Você parecia um pouco preocupada hoje pela manhã... aconteceu algo? - questionei sobre, já que vinha me incomodando.

-Nada importante. - ela disse paciente, baixo. - Vou resolver, e vai me custar algumas semanas na Colômbia.

Isso significava que ficaríamos um tempo distante, o silêncio se instalou outra vez e ambas as partes pareciam não querer falar sobre por alguns minutos.

-Acho que quando você for, vou tirar essas semanas pra visitar meus pais. - eu disse calma e ela respirou fundo.

-Você volta? - ela questionou baixinho.

Minha casa era na Colômbia, e agora que tudo havia se tornado uma tremenda bagunça eu devia me realocar, levando-me a interpretar que meu lar era com meus pais.

-Você quer que eu volte? - questionei meio tímida, confusa, duvidosa.

-Eu nunca nem quis que você criasse a ideia de que devesse ir permanentemente. - ela praticamente sussurrou. - Eu só não te disse com todas as palavras, mas demonstrei em cada ação. Por que não consegue confiar em mim?

Eu respirei fundo e ela ergueu a cabeça para que assim pudesse me olhar nos olhos. Eu podia sentir sensações únicas ao analisar suas pupilas dilatar, o castanho intenso e os traços finos e gentis.

-Permitir que me tenha é como entregar a você uma arma apontada para o meu coração e esperar que não puxe o gatilho. - ela me olhou paciente. - Eu tenho medo do amor e do afeto. -Conclui.

Maraísa entrelaçou sua mão gelada a minha e me olhou com tranquilidade e convicção.

-Tenho medo de que acorde, olhe pro lado e tenha a conclusão de que tomou uma decisão errada. - meus olhos começaram a lacrimejar. - Que me troque como algo facilmente substituível.

-Um dos princípios do meu pai, e consequentemente meu, assim passado e ensinado é... Nunca trair quem se deita ao meu lado repetidas vezes, quem tem meus sentimentos por inteiro. Pois se sou capaz de trair quem confio ao fechar os olhos e dormir ao lado na mesma cama, então não serei digna da confiança de ninguém.

Eu vi uma sinceridade tremenda em suas palavras e em seu olhar designado a mim com tanto carinho.

-Sou a maior mafiosa da América Latina, lealdade é tudo que me importa. - ela disse com um sorriso de canto.

Beijei seus lábios com um selinho rápido e ela sorriu involuntariamente.

-Nós aceitamos o amor que achamos merecer. - ela tocou meu rosto com delicadeza. - Você merece bem mais do que imagina.

-Você não é a psicóloga aqui... - sorri de canto e pude sentir lágrimas esvaírem e caírem, deslizando sobre meu rosto. Suas palavras me atingiram com tamanha severidade.

-Não vou machucar você. - ela disse atenciosa. - Não estou te prendendo ou insistindo que fique, apenas que se der a oportunidade de sentir e fazer o que realmente quer. Seja comigo ou com outro alguém.

Eu assenti em silêncio.

-Não faz bem viver sonhando e esquecer-se de viver. Lembre-se. - aquilo me atingiu como uma facada diretamente no peito, sem dó ou piedade.

Senti medo, mas entendi que sentir medo era bom, pois significava que eu ainda tinha algo a perder. Senti medo por perceber que preciso do toque de quem amo assim como preciso de ar.

Minha pele arrepiou ao notar que precisava tanto do seu toque, do seu jeito doce e severo intercaladamente. Da sua agressividade na cama e da sua gentileza quando andávamos de mãos dadas. Notei que precisava tanto disso quando minha mente se pegou imaginando perder todas essas sensações.

-Você me deu a eternidade dentre nossos dias numerados...

Maraísa enxugou minhas lágrimas e deixou um beijo em minha testa. Acariciou minha bochecha ainda me olhando nos olhos e eu procurei palavras para dizê-la em que situação estávamos, pois ela já esperava a semanas por isso.

-Você tem a arma engatilhada ao meu coração. - respirei fundo. - Por favor, não atire.

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🥺🤌

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LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora