EM BREVE, LOS ANGELES

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48 horas depois...

MARÍLIA

Os dias se passaram consideravelmente rápido, e mesmo que eu ajudasse Maraísa em basicamente tudo, não me sentia cansada. Neste exato momento eu me encontrava na sala do diretor do hospital, juntamente de Maraísa, e os cirurgiões que atuaram no quadro médico dela.

-As inflamações foram consideravelmente reduzidas e isso é um avanço benéfico. Entretanto, isso é superficial. - a mulher explicava o passo a passo da cicatrização e o motivo de um longo tempo de cuidado. - É de suma importância que você tenha cuidado com a região ferida. Quando ocorre um corte na pele, por exemplo, a camada mais superficial e fina demora entre 7 a 10 dias pra obter um fechamento. Porém quando o quadro é mais agravante, como o seu, a epiderme leva até 28 dias, sequencialmente a derme que atua como camada mais profunda, tem um período extenso, que pode chegar ate 6 meses.

Maraísa escutava tudo aquilo como se já não soubesse. Evidentemente ela vinha fugindo da morte a muitos anos, e conhecia bem os períodos difíceis do ferimento, como quando aconteceu com Anitta, ou em outras ocasiões não tão severas como essas. Não dá pra viver numa vida criminosa e nunca se machucar, isso era claro.

-Quanto a higienização da área até que retire os pontos, será com produtos antissépticos. - a médica dizia enquanto receitava algo.

(...)

Maraísa já caminhava bem melhor, e já não precisava da minha ajuda pra fazer isso. Ao adentramos o elevador ela segurou minha mão e pude sentir o quanto estava gelada. Já era quase noite em Miami e a temperatura era baixa.

-Está com frio? - questionei apoiando a cabeça em seu ombro enquanto aguardávamos chegar ao andar que sairíamos.

-Um pouco. - ela respondeu baixo, deixando um beijo na minha cabeça.

Seus dedos se entrelaçaram aos meus e eu respirei fundo por alguns segundos. Era bom ver que ela estava se recuperando rápido.

-Podemos ir pra Los Angeles durante a madrugada? aí podemos chegar durante a manhã. - ela questionou assim que as portas metálicas se abriram para o andar principal do hospital.

-Podemos. Vou pedir ao Edu que faça isso. - respondi. Maraísa havia feito ligação com meus pais a algumas horas atrás, ambos brincaram em chamada e conversaram sobre como ela estava. Maraísa fez piada com a situação e até perdeu aquele mau humor qual havia acordado.

Caminhávamos ainda de mãos dadas até o carro, e não estarmos sendo seguidas por paparazzis naquele momento foi quase que perfeito. Entramos no carro e ela permaneceu em silêncio por um tempo, seu olhar não estava vago, só estava disperso e cansado. Uma de suas mãos repousou sobre a minha coxa assim que liguei o veículo.

MARAÍSA

Enquanto Marília dirigia, podíamos ver a movimentação extrema que Miami tinha nas avenidas. As iluminações urbanas fortes devido à enorme quantidade de prédios. O pôr do sol estava quase em seu fim, o mar azul agora passava a ficar visivelmente escuro... os faróis de carro eram os pontos mais notórios aquele horário.

-Esse lugar é estressante. - relatei assim que ela parou no semáforo.

-Los Angeles é estressante. - ela mencionou ao olhar pra mim, e ambas concordavamos com isso.

Los Angeles não era um lugar calmo, era barulhento e cheio de vaidade. As ruas permaneciam movimentadas não importava o horário, as baladas estavam sempre cheias e o trânsito era escandalosamente sufocante. Isso era entendível pela área da cidade abranger praias e montanhas. Los Angeles era famosa pela indústria do cinema e pelas fabulosas celebridades que ali habitavam. Eu a via como negativo pelo meu passado entre Las Vegas e Los Angeles, quais não foram tão adoráveis em meu ponto perceptível depois de um tempo. Entretanto, o lugar também tinha suas qualidades, entre elas a beleza e a alergia exalada incomparável. 

Pararíamos em Los Angeles por algumas horas, de acordo com Marília, pois eu não planejava isso. Os pais da loira tinham estendido a viagem com a família e estavam ficando em um hotel da cidade. E assim que eles adentrassem o jatinho, retornaríamos finalmente pra Minnesota.

-Por mais que Los Angeles seja um péssimo lugar no meu ponto de vista... - eu mencionei com um sorriso fraco, e a vi sorri enquanto dirigia. - Posso te levar a alguns lugares? - a questionei. - Talvez ficarmos uns dois dias lá? - sugeri.

-Você está em recuperação, meu bem. - ela mencionou. - Mas por que odeia Los Angeles e quer ficar lá por uns dias?

-Eu odeio, porque minhas noites agitadas costumavam ser lá... - respondi depois de um tempo, e fui interrompida.

-Ok, podemos pular essa parte. - ela relatou. - Eu não quero sentir ciúmes de um passado qual eu não estava presente.

-Mas, o meu período lá não foi somente sexo, ok? - eu a rebati e ela sorriu. - Como uma boa pessoa culta, conheci alguns pontos que acho que vai gostar. Então... podemos?

-Desde que você não se esforce muito, podemos. - ela respondeu ao estacionar o carro na garagem da nossa casa em Miami.

Toquei seu rosto com delicadeza, e deixei um beijo rápido assim que descemos do carro. Entramos em casa e ela parecia visivelmente vazia, aparentemente estavam todos em seus quartos. Ninguém estava com um psicológico bom ultimamente, isso acarretava nossa segregação muitas vezes.

Vem, vamos pro quarto. - a loira entrelaçou sua mão a minha após fechar a porta e subimos as escadas devagar.

Comparado aos meus cinco tiros no passado, qual eu nem se quer podia sair da cama, esses não pareciam tão ruins. O abdômen ainda sendo um ponto que tinha fricção durante movimentos, ainda assim era mais fácil fazer as coisa. Ao chegarmos a suíte retirei as roupas que vestia com paciência enquanto me direcionava ao banheiro. Aquele cheiro de hospital me dava ânsia.

-Posso ir com você? - Marília pediu com um olhar questionador e eu consenti.

Tomamos um banho quente e demorado, mas antes disso Marília me ajudou a retirar as bandagens e esparadrapos, como todos os dias,  feito pelas enfermeiras. Ela fez com cuidado e paciência, era sua primeira vez, não queria me machucar.

-Dói muito? Quando toca? - ela questionou paciente assim que os pontos puderam ser vistos.

Ao redor estava meio roxo, devido à pressão feita na penetração da bala, quando o tiro ocorreu.

-Não. -Menti.

Doía, lógico que sim. Mas como era sua primeira vez fazendo aquilo, eu não queria assusta-la ou que se sentisse culpada caso eu sentisse dor durante o procedimento.

A água quente caiu sobre nossos corpos nus e enquanto ela me olhava nos olhos, pude sentir tranquilidade. Marília tocou minha pele com calma e enquanto eu a observava, pude notar seu nervosismo mesmo que ela tentasse escondê-lo.

-Posso? - questionou antes de passar o sabonete antisséptico, que anteriormente o odiava com toda minhas forças.

Eu assenti e assim ela o fez, seus toques eram leves e até mais pacientes que os da enfermeira. Qual obviamente era feito de outra maneira... Engoli em seco quando senti o ardor e me mantive observando-a que permanecia atenta.

-Desculpa, eu te machuquei? - ela questionou assim que foi notado uma pequena quantidade de sangue.

-Não, é normal. - a respondi, e aquilo foi suficiente. - Sempre acontece nos primeiros dias, por experiência própria. - sorri de canto, involuntariamente. - Você não fez nada de errado.

Haviam sido três tiros, e até que Marília higienizasse os três, demorou um tempo. Porém eu tinha todo tempo do mundo, quando se tratava dela. Aquele olhar puro e gentil era minha salvação, eu não o negaria uma vez se quer em vida.

Saímos do compartimento que era tanto boxe como sauna e nos secamos. Após vestir um roupão Marília se aproximou e retirou alguns paninhos antissépticos que havíamos comprado na farmácia antes de virmos pra casa. Ela secou a região e aplicou o remédio em spray, refez as bandagens e por fim vesti uma roupa larga e confortável.

Jantamos juntas e retornamos pro quarto, permanecemos um longo tempo em silêncio, entre carinhos. Até que por fim conseguíssemos pegar no sono. Já que embarcaríamos ás 3h da madrugada.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora