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MARAÍSA

Marília havia descido até a entrada do hospital pra buscar algo. Já era madrugada e eu estava sem sono por ter dormido o dia inteiro. Aquela sensação de "cabeça pesada" já não me incomodava mais, somente o corpo ainda dolorido.

A loira havia trago meu celular mais cedo, e isso tinha ajudado o tempo passar consideravelmente mais rápido. Porém, depois de um tempo, passou a ser enjoativo.

O quarto estava escuro e algo passava na televisão, mas era tão entediante que eu cheguei a colocar na opção silenciosa. Não havia nada interessante que pudesse me chamar atenção... permaneci em silêncio, naquele cômodo escuro após desligar o celular. Me contentando apenas em esperara por Marília.

(...)

Um tempo depois a loira entrou calmamente pela porta, a fechando seguidamente, e caminhou até mim.

-Não quer mesmo tentar comer? - ela questionou paciente e baixo, após ligar o abajur.

-Não sinto fome. -Respondi.

-Pode ao menos tentar beber isso? - ela mostrou-me o copo que claramente tinha recebido durante sua saída. - Eu comprei do sabor que você gosta.

NARRADOR:

-Por favor... -Marilia pediu carinhosa.

Maraísa mesmo um pouco tímida e indecisa, não recusou, segurou o objeto em mãos e enquanto era encarada por Marília, tentou ingerir um pouco do líquido. Marília conhecia praticamente todos os gostos de Maraísa, ela era sempre muito observadora quando se tratava da empresária.

-Viu, não foi tão difícil. - ela comentou sorrindo de canto, interiormente orgulhosa.

Marília notou o quando Maraísa estava entediada e cansada daquilo, mesmo que fosse a consequência de suas ações. A morena permaneceu em silêncio enquanto bebia o suco de maçã e a psicóloga a observava. Após terminar, Maraísa devolveu a embalagem biodegradável, e Marília jogou no lixo.

Confusa, ao ver Marília retirar os saltos a morena permaneceu analisando-a em silêncio.

-Vem... - ela chamou, pedindo que Maraísa descesse da cama. - Eu ajudo você.

-Por que? - a morena questionou confusa, esforçando-se para buscar uma posição mais confortável e por fim sair da cama.

Marília se manteve em silêncio e cuidadosamente a ajudou descer, caminhou ao seu lado dando suporte. Com a mão livre, a psicóloga levou o suporte para soro, evitando que machucasse a perfuração qual neste momento Maraísa recebia uma bolsa de sangue.

-A gente pode fazer algo que você gosta... - a loira comentou após abrir a porta da sacada, que tinha a visão central da região onde estavam.

Maraísa costumava olhar para as estrelas quando se sentia insegura, amedrontada ou calculista de certa forma. Aquilo de alguma maneira a deixava confortável e Marília já havia percebido.

MARAÍSA

Marília me abraçou de maneira calma, evitando me machucar. Pude deitar a cabeça em seu peito e envolver sua cintura mesmo que de maneira falha, por ainda me sentir fragilizada. Uma de suas mãos fez cafuné na minha cabeça e eu fiquei ali por longos minutos, eu literalmente estava em casa.

-Vamos passar por isso juntas, tudo bem? - ela sussurrou, mas eu não pude ver sua expressão, apenas ouvir sua voz delicada.

-Me desculpa... - sussurrei aquilo que ainda me incomodava.

Seus lábios tocaram minha testa em um beijo demorado. Naquela fração de minutos, seu perfume me inebriou assim como toda sua dedicação em relação a nós.

-Está tudo bem. - ela respondeu, em uma forma de perdão concedido.

Ao erguer o rosto e olhar para ela, pude ver seu sorriso fraco e seu olhar expressivo em demonstração de afeto. Era aquele olhar que eu buscava quando meus olhos pesaram e ficar com Maiara não foi mais uma opção. Foi aquele sorriso fraco e tão sincero que eu implorei rever mais uma vez assim que minhas entranhas começaram agonizar pedindo por oxigênio, enquanto eu sufocava no meu próprio sangue.

E aí tudo escureceu... e nem se quer pelo seu nome, pude chamar outra vez, mesmo que mentalmente por já não ser capaz de dizer em voz alta.

-Não importa o que aconteça, eu sempre estarei aqui... - ela disse enquanto me olhava.

Sua mão delicada tocou meu rosto, e seus lábios encaixaram-se nos meus. Em um beijo lento eu me entreguei por aqueles breves minutos antes que fosse necessário retornarmos para dentro. Ao terminarmos Marília encostou a testa na minha, não nos diferíamos muito quanto a altura, e enquanto permanecia de olhos fechados eu podia sentia suas unhas acariciarem minha nuca.

-Eu assinei. - ela sussurrou após alguns segundos. - Assinei os papéis do casamento, acho que não precisamos de uma cerimônia luxuosa por um tempo. - ela afastou-se um pouco e disse sorrindo, foi inevitável não sorrir também.

-A mulher que ameaçou cortar minha língua e alimentar os urubus, é oficialmente minha. - relatou afastando alguns fios de cabelo que insistam cair em meu rosto.

Eu sorri e trocamos um selinho rápido.

-Foi assustador? - questionei quanto sua experiência durante o sequestro.

-Muito. - ela respondeu paciente, me olhando nos olhos. - Mas... se eu pudesse dizer ao meu eu naquele dia, como estaríamos hoje, a antiga Marília ficaria orgulhosa em reviver tudo aquilo infinitas vezes, só pra ter você aqui. - ela tocou a ponta do meu nariz enquanto sorria fraco. - Eu vejo um "pra sempre" através dos seu olhar.

Eu me mantive em silêncio, por não saber expressar o quão única eu me sentia ao seu lado. Eu me perdia na galáxia que existia em seus olhos e não fazia a mínima questão de retornar, cada minuto que passava com ela era como poder visita o universo sem sair do lugar.

Pude notar que chorava, quando Marília enxugou meu rosto em um gesto delicado e sútil. Ainda bem próximas, abraçada a mim, ela deu resposta ao que eu tinha dúvida.

-E quanto a guarda das crianças... - ela sorriu com os olhos marejados, acariciando meu rosto. - É uma honra ser tutelar delas.

(...)

Ficamos mais um tempo, porém retornamos pra dentro quando começou a chover. Era um pouco dificultoso ainda deitar na cama sozinha, portanto eu precisei da sua ajuda outra vez. Procuramos uma boa posição e ela pode ficar ao meu lado. Eu conseguia ouvir o barulho da chuva lá fora enquanto mexia nas joias nos dedos de Marília...

-Onde está o meu anel? - questionei preocupada.

-Comigo. - ela respondeu baixo.

Puxou a correntinha em seu pescoço que de certa forma estava "escondida", e pude ver o anel de noivado colocado como pingente. Ela ergueu-se para retirar e colocar em meu dedo outra vez... pacientemente fez isso e eu a agradeci, entrelaçando minha mão a sua. Era desconfortável não poder abraçá-la ou mantê-la mais perto por conta dos curativos, porém eu tinha que me acostumar a minha atual realidade.

-Amor... - a chamei após alguns minutos em silêncio. - E os seus pais? - questionei quanto a ida deles a Minnesota.

-Vão ficar na Califórnia, e quando retornamos pra casa, os buscamos. - ela me respondeu paciente. - Henrique disse que seria mais fácil e seguro, até mesmo pra eles por conta da nossa visibilidade.

-Vamos demorar voltar? - questionei confusa e ela virou-se de lado. Sua mão passou pela minha clavícula e repousou no meu pescoço, enquanto acariciava a região lentamente.

-Não. Vou pegar as informações sobre seu quadro médico depois de amanhã, quando esses machucados estiverem um pouco melhor. - ela respondeu baixo, em meu ouvido - E aí... vamos continuar com isso em casa, Maiara contratou uma enfermeira e seu médico vai analisar o resto.

A loira apagou o abajur em seguida, ficou por alguns minutos acariciando meu pescoço com delicadeza e vez ou outra minha clavícula. Me levando a sentir sono.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora