BAGUNÇA

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MARAÍSA

Acordamos no meio da tarde, por volta das 15:00 e uma das meninas já não estava na cama assim como o bendito cachorro. Marília ainda estava deitada em meu peito e uma de suas mãos estava sobre meu abdômen. Pensei em deixá-las dormir, mas assim que me movi o suficiente para pegar o celular ao lado da cama, a loira sobre mim acordou.

-Desculpa. - sussurrei e ela sorriu, dando um beijo na minha clavícula.

Marília levantou-se parcialmente, me dando espaço para sentar e apoiar-me na cabeceira da cama que compunha o quarto. Ela praticamente arrastou-se aninhando-se a mim e pude entender que ela não queria que eu saísse. Ela segurou o edredom o trazendo para nós e apoiou seu rosto na curva do meu pescoço de forma visivelmente desconfortável.

-Ainda está cansada? - questionei atenciosa e ela resmungou algo irritada quando tentei puxar seu rosto, para que olhasse pra mim. Eu sorri boba e ela me abraçou forte.

(...)

Depois de um tempo a convenci descer, embrulhamos Lara que ainda dormia e saímos em silêncio. Fomos até a cozinha e percebi que não tinha ninguém em casa além de Arielle, que do sofá mesmo informou que Marta, nossa mãe e Simaria haviam saído. Júlia nos seguiu até a cozinha caminhando em passos lentos atrás de mim. Assim que Marília sentou em uma das cadeiras, rapidamente a pequena loira de olhos verdes sentou em seu colo.

-O que foi? - questionei apoiando as mãos sobre o balcão, e encarando as duas que me olhavam estáticas parecendo esperar algo.

-A gente quer comer. - Julia respondeu depois de dar uma rápida olhada em Marília. A loira que a tinha nas pernas, assentiu milimetricamente. - Não parece óbvio?

-Ok, a gente pode sair pra comprar algo. - eu disse pegando as chaves do carro.

Marília me olhou séria e só aí pude relembrar que ainda não podia ser vista.

-O que acha da gente pedir? - Marília tentou contornar a situação. - A sua irmã ficaria chateada se saíssemos sem ela, não acha?

Júlia assentiu, achando que seria melhor e eu agradeci internamente por além de todas minhas características e defeitos, ela não possuir um dos maiores deles... ela não ser egoísta assim como eu era na infância.

-Marilia, me dá seu celular. - pedi paciente. Costumávamos nos chamar pelos nomes, já que as gêmeas ainda não tinham um pensamento concreto sobre isso.

Na nossa família não havia preconceito contra sexualidade ou etnia, e sempre buscávamos manter isso e educar as crianças qual faziam parte deste nome desde cedo. Para ambas minhas filhas era algo comum, pois viam Maiara e a esposa Luisa trocarem carinhos como qualquer casal o dia inteiro, viam marco e o namorado fazerem o mesmo. E quando Henrique teve um relacionamento com Lise, também foi algo visto comum. Porém... a uma diferença, eu era mãe delas, e nunca tive um relacionamento sério desde a morte de Lauana e o nascimento das gêmeas. Poderia ser algo complicado, ou um gatilho para elas. Seria contado com calma, e aos poucos... por mais que elas já gostassem e se identificassem com Marília, a loira ainda era uma pessoa nova em nossas vidas, e não tínhamos nenhum título ainda.

MARÍLIA

Entreguei meu celular a ela e minutos depois a morena me devolveu. Pediu que eu abrisse o aplicativo e escolhesse algo com Julia. Tentei reclamar quando notei que ela havia colocado seu cartão nas "formas de pagamento" gerais do meu aparelho. Mas ela alegou ter desestabilizado minha vida financeira e que usar seu cartão séria o mínimo. Tentei relutar outra vez e ela me pediu pra não reclamar e só aceitar.

-Vou organizar nossas malas. - ela sussurrou no meu ouvido após se aproximar, e deixar um beijo no rosto da filha.

Assenti em silêncio e ela beijou minha bochecha, deixou um sorriso encantador escapar e em rápidos segundos caminhou em direção a escada.

MARAÍSA

Organizei as malas, tanto as minhas e de Marília como as das gêmeas que iriam para Xangai na China, conosco. Eu já podia dizer que teríamos uma casa para nós, minha mãe voltaria para Minnesota e Arielle retornaria para sua família. Greeicy continuaria em seu apartamento ou seja lá onde.

Eu pegava alguns brinquedos do cachorro que estavam no chão, espalhados pela sala. Eu teria que levá-lo conosco, e confesso que já estava começando a me apegar ao animal por mais que ele rosnasse  a cada segundo por me ver.

Embarcaríamos as 23:00, e ainda eram 17:00 então tínhamos tempo de sobra. Mas me haviam ainda muita questões para resolver, como a briga com Henrique e sua possível volta conosco. A chegada da minha irmã, que aconteceria por volta das 20:00 da noite... e alguns negócios que precisavam ser colocado em pauta com Henrique.

-Vou colocar elas no banho pra você, ok? - Marília tocou minha cintura me chamando atenção e foi impossível não sorrir de felicidade com isso.

-Obrigada.

MARÍLIA

Eu não precisava dar banho nelas, já eram grandinhas o suficiente pra fazer sozinhas e gostavam disso. Mas sempre alguém tinha que fiscalizar, e esse alguém era sempre Maraísa. O fato era que... elas não podiam ficar sozinhas no banho, ou ele virava um parque de diversões. As duas eram bem bagunceiras e esse era sempre o motivo do castigo semanal que geralmente tinham, por mais que a morena reclamasse, nunca mudava.

As duas vestiram roupas comuns e desceram pra fazer algo com a avó. Elas costumavam falar em espanhol com ela pelo fato de facilitar, ainda tinham um pouco de dificuldade mas eram bem inteligentes e abrangentes quanto a linguagem pelo fato de conviver com a mãe. Maraísa não era diferente delas e isso me chamava atenção, sua inteligência magnífica e linguagens abrangente eram impactantes. Ela dominava o francês, italiano, espanhol, português e inglês.

A loira entrou no quarto e eu pude ver sua expressão cansada. Ela sentou na cama ao mesmo tempo em que prendia o cabelo em um coque.

-Elas são os amores da minha vida, mas as vezes tenho vontade de me esconder. - ela disse com um sorriso fraco nos lábios e eu sorri de volta, me encaminhando de sentar ao seu lado.

(...)

Tomamos banho juntas e enquanto eu tinha Maraísa em meus braços ainda na banheira, ela tomava uma taça de vinho.

-Seus pais me odiaram. - ela disse com um sorriso bobo.

-Por que ? - Perguntei confusa.

-Primeiro eu te sequestrei e nos apaixonamos. Agora te tirei de Amsterdã, você mora comigo e eles ainda nem sabem. - ela falou antes de colocar a taça sobre a borda de granito e virar-se para deitar a cabeça em meu peito. - Sou parcialmente uma criminosa morta, e uma das maiores empresárias do mundo. Meu nome está na Forbes e meu apelido nas centrais de polícia da América.

Foi impossível não sorrir de tudo que ocultávamos do mundo. Ainda não tínhamos um título mais isso não parecia necessário agora. Já tínhamos uma vida íntima e intensa, conhecíamos nossos maiores defeitos, ilegalidades, mais nem conhecíamos os parentes de ambas.

-Acho melhor que eles saibam só a parte "boa", né? - perguntei e ela assentiu com um sorrisinho afirmativo.

MARAÍSA

As mãos de Marília seguraram minha cintura me movimentando para sentar em seu colo. Beijei seus lábios com sutileza ao mesmo tempo em que segurava em sua nuca para manter-me na mesma posição. Estávamos exaustas e Marília ainda estava resfriada, não passaria de uma troca de carinho. Depois do banho demorado, vestimos roupas de frio pois em menos de 4 horas embarcaremos no aeroporto internacional de Madrid. O percurso seria longo e entediante. E por mais que o jatinho fosse meu, ainda passaríamos pelos seguranças de estado e apresentação de documentos. Evitar que fãs da marca "Adidas" ou do meu trabalho como modelo me vissem, era primordial.

20:22 DA NOITE

Era hora de tentar falar com Henrique, e prestes a escutar o surto de Maiara...

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora