PRECISO BUSCÁ-LA

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ALMIRA

Já estávamos quase chegando na Europa. Greeicy dormia desajeitada enquanto Maraisa tinha a cabeça deitada sobre as pernas de Arielle. Suas bochecha estavam rosadas e sua pele um pouco suada.

-Precisamos chegar logo, ela está com febre. - a ruiva comentou aparentemente nervosa.

Ela parecia ter criado um laço com a irmã em poucos meses e aquilo era um tanto quanto desesperador.

-Quando passou a se importar com ela?

-Ela é minha irmã. - ela disse óbvia. - Só é um pouco deplorável e orgulhosa pra me aceitar, mas ainda é minha irmã.

(...)

Pousamos em uma área inóspita, onde tinha apenas uma casa simples no meio de uma fazenda. Esperaríamos ali até que um jatinho chegasse e nos levasse para a Ásia.

-Preciso que peguem cobertores. - a ruiva pediu enquanto levava a irmã nos braços.

Arielle a colocou cuidadosamente no chão. A casa parecia abandonada, era temporária apenas para esperarmos. O ambiente era dos avós paternos de Arielle, falecidos a alguns anos. Greeicy correu pelo primeiro andar e eu subi para o segundo, não encontrei nada além de teias de aranha e mofo.

-Não tem. - eu disse convicta e Greeicy repetiu.

A ruiva retirou o moletom que vestia e colocou sobre a irmã. Eu e Greeicy retiramos as jaquetas de couro e fizemos o mesmo.

-A temperatura dela está muito alta. - a ruiva reclamou em um tom nervoso. -Maraisa... -Ela chamou algumas vezes.

A morena olhou com dificuldade e Arielle começou a conversar, tentando mantê-la acordada. Começou a contar que já estávamos na Europa e que chegaríamos a China em breve.

-Gosto dos seus olhos... - a morena disse com os olhos marejados enquanto tentava se manter consciente.

-Parecem com os seus... - ela disse com um sorriso gentil. - Vou cuidar de você, ok? - a ruiva mencionou enquanto Maraisa fechava os olhos e uma lágrima escorria lentamente.

Seus dedos adentraram os cabelos pretos de Maraísa mesmo que eu tivesse a cabeça da morena deitada sobre minhas pernas. Arielle a olhava com carinho e proteção tremenda.

-Ela me falou sobre estar com a costela quebrada. - ela sugeriu como ponto principal da febre.

-Então é simples, só preciso que ela aguente mais um pouco.

ARIELLE

Os lábios rosados de Maraísa agora estavam sem cor. Seus machucados mais aparentes pela palidez. Sua febre havia diminuído um pouco e ela dormia tranquilamente enquanto eu a tinha nos braços. Nossa mãe havia ido em busca de algum remédio, pois eu me recordava de uma vizinha próxima quando vinha aqui com meu pai nas férias de verão. Só precisávamos ter sorte o suficiente de que ela ainda morasse aqui.

-O jato chega em alguns minutos. - a colombiana avisou e eu assenti em silêncio.

Eu precisava olhar o ferimento de Maraísa superficialmente por mais que ela dormisse tão bem em meus braços agora. Eu sentia muito, mas isso doeria... A movi e tentei retirar sua blusa, mas sua expressão e grunhido doloroso me fez estagnar. O tecido era um pouco grosso e graças a Deus eu tinha um canivete.

Havia uma enorme marca roxa e estava inchado. Toquei a região e não parecia ser coágulo ou algo do tipo. Então era apenas uma reação corporal normal.

-Consegui. - minha mãe entrou pela porta rapidamente me entregando um pequeno frasco.

Respirei fundo e fiz a medida da dosagem na tampinha do frasco mesmo. O gosto da dipirona era horrível, ainda mais sem água, mas Maraísa teria que se acostumar com ele.

-Como vai curar uma fratura nas costelas com dipirona? - minha mãe questionou duvidosa.

-Quando se machuca ou tem fratura nos arcos costais o corpo se encarrega de curar a lesão entre entre 4 a 6 semanas. A dipirona alivia a dor que ela está sentindo e ameniza a febre... - eu explicava enquanto confortava Maraísa ao meu corpo depois de ingerir a dose. - Ela só precisa ficar de repouso durante essas 4 semanas e não fazer nenhum esforço.

(...)

3 dias após o resgate...

MARÍLIA

-Não vai comer nada? - questionou minha mãe abrindo uma pequena fresta na porta e eu neguei.

Minha mãe sabia respeitar meus limites, me deixava sozinha. Mas... já havia quase um dia que eu não conseguia comer, e três que eu não saía do quarto ou via a luz do dia sem ser pela janela... eu entendia sua preocupação.

Mas tudo que eu pensava era na Maraísa...

Tudo que eu queria era segurar sua mão, ou ouvi-la bater em minha porta durante a madrugada. Queria que ela batesse agora e que com aquela voz sonolenta entrasse e pedisse pra dormir comigo uma última vez.

Se eu pudesse ver seu rosto uma última vez, poderia ao menos saber que no futuro morreria sendo uma mulher feliz.

Minha vida estava de cabeça para baixo e eu nem tinha mais forças para continuar. O silêncio e o escuro do meu quarto pareciam ser o lugar mais confortável do mundo. Eu abraçava o travesseiro enquanto me mantinha em posição fetal sobre a cama, seu corpo quente ainda parecia tão vivo na minha memória.

Me lembrei de quando ela me beijou pela última vez e saiu por impulso, eu senti um aperto no peito e acho que morri um pouco por dentro. Agora costumo me deitar chorando na cama a noite inteira... sozinha, sem tê-la ao meu lado. Ela trouxe o melhor de mim, um lado qual eu nunca havia visto. Era como se tivesse pego minha alma e a purificado. E seu amor constante passou a ser minha salvação.

5 dias depois do resgate...

ALMIRA

Maraísa ainda tinha uma aparência deplorável, mas nada grave. Se mantinha deitada na cama de uma luxuosa casa comprada a alguns meses por ela na China. Nosso novo lar. Nosso... sim, Maraísa decidiu que eu e Arielle merecíamos uma chance depois de tudo. Arielle claramente ficou igual uma criança idiota quando ganha doce, eu prontamente aceitei. Gostaria de ter uma vida de mãe e filha, e se essa era a oportunidade então teríamos.

Greeicy ganhou um apartamento próximo a nós, mas na maioria do tempo costumava ficar e dormir conosco.

-Preciso ir buscar ela... - Maraísa me tirou do transe com sua voz falha assim que acordou.

-Não vai a lugar algum. - eu disse segurando sua mão e ela respirou fundo. - Deve esquecer essa garota, ao menos por um tempo.

-Mamãe... - ela engoliu em seco e tentou relutar com sua voz embargada, rouca e falha. - Nunca vou deixar esse amor morrer.

-Sinto muito, mas vou te impedir. - eu disse séria. - Acabei de salvar sua vida, não vou te deixar voltar até seja lá onde for só porque a ama.

-Então vamos cancelar o trato mãe e filha. - ela disse com um sorriso bobo e eu sorri junto.

Respirei fundo e decidi ouvi-la.

-A ama mesmo? - questionei e Maraísa assentiu milimetricamente, por mais que ainda estivesse sonolenta por conta dos medicamentos. - O que viu nela?

-Mamãe... - soou debochada. - Sou uma mulher louca por aquele toque. E vou fazer esse amor durar pra sempre, não me diga que é impossível.

- Romântico, mas não me convenceu.

Maraísa sorriu de canto e me olhou nos olhos, parecia mais esperta, convicta.

-É como se minha alma urgisse pela dela. Ela parece preencher o espaço vazio desde que nasceu, eu só precisava encontrá-la. Ela me fez acreditar no destino e se tornou meu paraíso... - ela disse com dificuldade. - E eu farei de tudo para ser seu amor ou seu sacrifício.

Me mantive calada e Maraísa me olhou com ternura. Eu não a impediria de nada, nunca tive esse poder. Mas meu consentimento seria algo bom para começarmos.

- "Eu a amo a cada batida do meu coração egoísta e maldoso, mamãe" - ela insistiu.

-Vou encontrá-la, ok? - eu disse paciente e ela sorriu assentindo com os olhos cansados. - Vou analisar a situação e você vai buscá-la, só precisa se recuperar antes. - beijei sua testa antes de sair do cômodo.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora