LÁ MARFIA -MALILA

PROFANA

MARÍLIA

Maraísa passou a manhã posterior comigo, como sempre. Levou-me em um café da manhã ao ar livre e ao retornamos tomamos banho juntas e então ela penteou meus cabelos. Enquanto sentada entre suas pernas, eu repousava as mãos em suas coxas. Ela havia trocado a fragrância que usava, por uma mais suave, e eu agradecia profundamente por isso.

-Mandei que trocassem os remédios de enjoou, por algo mais eficaz e forte. - disse paciente enquanto penteava vagarosamente, evitando machucar-me. - Os produtos de limpeza da mansão também foram trocados, por odores quase imperceptíveis.

-Obrigada... - sussurrei tímida, afinal vínhamos mudando muitas coisas ultimamente. E mesmo que tivéssemos muita intimidade, eu ainda me sentia envergonhada em certas ocasiões.

-Tudo que causa mal-estar em você será alterado, ou retirado. - ela disse abraçando-me pela cintura sutilmente, descansando o rosto em meu ombro. - E se ficar cansada da vista do lago através das janelas do nosso quarto, eu te dou a visão da Grécia, República Dominicana, Singapura... o que desejar.

-Amor... - tentei argumentar.

-Eu não menti quando disse que iria até o inferno pela nossa família. Por você. - ouvi sua voz rouca e severa soar com convicção. 

HENRIQUE

A proteção da imagem de Ohana e sua carreira não era o único problema para nós neste momento. O acordo com Shawn a algumas semanas atrás estava instável, abalado. E temíamos que isso arruinasse, levando-nos a confronto outra vez, mas desta vez pela imagem de Marília e sua gestação.

-Não pode ameaça-lo? - Anitta questionou entediada.

-Não. - respondi rapidamente, ainda de pé em sua frente.

Anitta estava assumindo o lugar da mãe e o meu na máfia, temporariamente ou talvez permanentemente. Tinham formas de agir quase idênticas, Anitta lidava melhor com isso do que pude imaginar ao rejeitar sua proposta no início. Entretanto, vínhamos nos dando melhor ainda, eu confiava nos seus instrumentos.

Digamos que eu tenha conhecido partes da "garotinha genuína" que ninguém mais sabia.

-Um acidente de carro? Poderia servir como um aviso. - sugeriu e eu neguei como outrora, mas, mais rapidamente ainda.

-Quem sabe assumir que estão gestando uma criança, seja a forma mais fácil de não gerar problema pra elas. Ao menos por alguns dias. - sugeriu a garota, tentando evitar a violência, sentando-se no estofado.

-É muito cedo pra revelar. Estão começando a ter paz agora, não vamos estragar isso... - ela argumentou paciente. - Com o fato dele estar tentando a todo custo arruinar sua carreira, podemos fazer uma contraproposta, uma disponível venda de ações, mais baratas, que ele deseja muito... como um presente. Será algo que o deixará mais calmo. Agora sobre o fato dele estar tentando ameaçar expor a gravidez da minha madrasta, é diferente...

-Ok, também não podemos matá-lo... antes que sugira. - Edu mencionou fazendo-a sorrir.

-Matar? - Ohana questionou surpresa. Ainda era muito confuso pra ela... como foi pra Marília no início.

-Se for pra escolher entre a nossa família e ele, eu o deixo morrer. - a morena de olhos verdes disse rapidamente. - Eu nunca disse que era uma boa pessoa, Ohana.

Seus olhos petulantes e controladores olhavam-me alternando entre Edu, carregados de indecisões. E por alguns segundos, me perdi em devaneios ao encarar os verdes esmeralda que cercava-me em confusão.

-Ele está me ligando... - revelou a garota de aparência delicada e olhos escuros. Tirando-me do transe, levando-me a olhá-la.

Suas mãos equivocadamente estenderam o aparelho em direção a Anitta, enquanto encarava-a como sua segurança pessoal. A morena de olhos verdes sem pensar duas vezes atendeu o aparelho, e surpreendentemente Marília e Maraísa adentraram a sala, após descer as escadas.

-O que está acontecendo? - questionou enquanto Anitta caminhava de um lado a outro com o aparelho no ouvido, aparentemente ouvia algo que não a agradava.

-Melhor não saber, Lila. - sussurrei assim que a loira abraçou a esposa de lado.

A fúria no olhar de Anitta era semelhante à de sua mãe em seus momentos mais insanos. Sua postura ereta demonstrava sua rigidez em lidar com aquela situação. Tão pouco importou-se com meu conselho em não ameaça-lo, ou com revelar para sua mãe em um momento impulsivo o que vinha fazendo nos últimos meses, quando ouviu o que não gostou.

-Eu já incendiei uma casa e matei pessoas. Eu faço de novo, com prazer, se você tirar um fio de cabelo da cabeça dela. Eu aniquilo sua família. - soou ignorante com sua voz profana.

Sua rebeldia exalava em todo aquele ambiente tomado pela fraca luz solar que atravessava as vidraças deixando as cores brancas em ainda mais evidência. Clareando os olhinhos castanhos de Maraísa que agora observavam em dúvida.

-Não pode me mandar para o inferno, Shawn. - soou impaciente, com um sorriso provocador. -Eu sou atéia.

Aquela fala relembrou-me Marco Cesar em uma confissão no Vaticano, após cometer um ato trágico que deixou-o pensativo por inúmeros dias. Eu recordava-me bem, mesmo que tivesse acontecido a muitos anos e eu era jovem igual Edu.

"Tenho estado nessa vida dolorosa a anos, não posso dizer que acredito em algo como um Deus. Perdoe-me padre, pois eu pequei. - respirou fundo com as mãos repousadas em seu colo. - Sou um mentiroso, um traidor. Conspirei contra meu próprio sangue... e duvido que até seu Deus possa me salvar." - Marco Cesar.

Anitta manteve-se em silêncio por alguns segundos, antes que retomasse a fala e soasse gélida como outrora.

-Mas se tocar na minha mãe, e na criança que ela carrega... - referiu-se com o chamado a Marília pela primeira vez. - Vou colocar tantas balas na sua cabeça que nem mesmo seu Deus será capaz de reconhecer-te.

-É engraçado... vocês tratam Marília como uma rainha. - podemos ouvir sua voz desprezível assim que a ligação foi colocada em viva-voz, a pedido de Maraísa.

-E que seu Deus proteja... quem desrespeitar a rainha. - referiu-se a Marília outra vez, com sua voz profana e protetora. Antes de encerrar a ligação.