SEXTA SEMANA

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6 SEMANA DEPOIS...

MARAÍSA

Havíamos contado aos pais de Marília no dia em que contamos as crianças. E a reação deles foi esplêndida. Entretanto, já haviam se passado algumas semanas, as gêmeas haviam optado por retornar às aulas presenciais enquanto mantinham o acompanhamento psicológico. Anitta mudou-se finalmente de vez, com Ohana... nossa casa era enorme, além do mais os Pereiras sempre estavam juntos. E bem... Marília... ela vinha começando a me ter como um problema.

-Desencosta. - pediu irritada.

Ultimamente vinha tendo picos de estresse, e isso era normal. Era quando começava-se as alterações hormonais típicas; Ocorriam algumas náuseas, e muitas vezes tinha repulsa de cheiros fortes. E isso ficava tudo mais intenso em alguns dias específicos, de forma involuntária.

-Mas eu nem encostei em você... - argumentei com um sorriso surpreso, ao fechar a porta do quarto.

Marília olhou-me completamente entediada, tinha uma expressão cansada e uma irritação incomum.

-Quer que eu saia? - questionei paciente, e ela negou. - Então posso ficar? - e ela negou outra vez.

Sentei-me na cama incrédula com tanta indecisão, e ela permaneceu estática um pouco distante, olhava-me aparentemente impaciente. Sentada na poltrona, ela mexia a perna em sinal de ansiedade, enquanto vestia uma blusa minha e tinha os cabelos presos em um coque frouxo.

-Seu perfume está me dando enjoou. - ela disse séria, me fazendo sorrir. - Está impregnado aqui. Foi difícil encontrar uma roupa sua sem esse cheiro sabia?!

-Ok, eu troco o perfume... a gente pode escolher algum cheiro que te agrade ou vários outros pra ficar alternando quando quiser. - solucionei o problema.

Ela sorriu de maneira sútil, discreta, e confesso que aquilo me deixou um pouco mais tranquila. Na última semana vinha sendo difícil conviver com ela, mas eu aguentava.

-Alguma outra coisa ainda está te incomodando? - questionei ao notar seu silêncio ensurdecedor, e ela negou-me.

Caminhei até o banheiro e por fim tomei um banho demorado, em busca de afastar de mim o cheiro do perfume impregnado que a enjoava. Sequei os cabelos posteriormente e vesti algo casual, caminhei em sua direção como outrora, e desta vez ela me permitiu.

MARÍLIA

Maraísa sentou-se ao meu lado e de forma sútil sua mão tocou minha coxa despida, a olhei rapidamente e um sorriso fraco surgiu em seus lábios. Confesso que sua expressão vinha mudando nos últimos dias, estava sendo difícil pra nós e estávamos lidando com isso aos poucos. Eu simplesmente as vezes saia do sério e tudo que ela fazia me irritava.

Mas eu conhecia seu jeito apegado, e como estava sendo ruim pra ela ficar distante de todo afeto que mantínhamos anteriormente.

Segurei sua mão e então a guiei até o andar principal da casa para que saíssemos. Eu sentia-me um pouco melhor ao ar livre, afinal nenhum cheiro em específico nele me levava a ter ânsia de vômito. Envolvi sua cintura lateralmente enquanto caminhávamos em passos lentos na trilha na beira do enorme lago.

-Desculpa... - pedi em um sussurro enquanto caminhava vagarosamente ao seu lado.

-Está tudo bem, eu entendo. - disse compreensiva, com um sorriso sincero.

Senti seus lábios tocarem minha testa em um beijo formidável, sútil.

-Eu te amo, não esquece disso. - sussurrei apertando um pouco mais sua mão. E então ela parou, virando-me de frente pra ela.

Suas mãos tocaram meu rosto em sinônimo de saudade, seus olhos castanhos olharam-me com o brilho de sempre. A intensidade amorosa era sentida por mim da mesma maneira, por mais que estivesse um pouco chateada pela distância entre nós.

-Eu também amo você, ok? Não se sinta culpada, eu posso entender como está agindo. É involuntário. - explicou-me paciente, deixando-me um pouco tranquila.

Busquei seus lábios os selando com um beijo demorado, enquanto suas mãos tocavam carinhosamente minha cintura. Já não conseguíamos fazer isso a tantos dias, estava sendo tão ruim, mas era algo que aparentava impossível pra mim. E beija-la de maneira tão intensa, foi libertador. Ficar com ela por alguns minutos foi como ir ao céu outra vez.

Ela era tão paciente comigo, diferente de quando era com o mundo lá fora. E agora isso atenuava-se um pouco mais, estava cada vez mais cuidadosa e dando prioridade as minhas vontades. Mesmo que eu não concordasse tanto com isso. Ela exercia tanto de si, que as vezes eu sentia-me mal por necessitar tanto dela.

ANITTA

A gravidez de Marília foi um presente pra nossa família, ao mesmo tempo em que gerou "problemas" no relacionamento amoroso com minha mãe. Assim como Luísa, teve alterações hormonais muito cedo, e isso era completamente instável, e inseguro. Sempre pensávamos bem em como lidar com ela, falar com ela ou até mesmo direcionarmos-nos a ela.

-Se sente melhor? - questionei paciente sentando-me ao seu lado no sofá.

Notei seus cabelos curtos em tonalidade loira estarem bem lisos, os olhos aparentavam um cansaço extremo... entretanto, estava mais paciente diferentemente do período matutino.

-Um pouco. - respondeu entediada.

Também estava sendo difícil se alimentar, as vezes a comida enojava-a tanto que colocava pra fora em questão de segundos. E de acordo com os médicos, era tudo sintomas da gestação.

Algumas gestoras tinham períodos gestativos tranquilos, mas, Marília não se encaixava nesse meio. Vinha sendo horrível pra ela, era possível notar isso em sua expressão frustrada. Não por estar gerando uma criança, mas por ser tão difícil passar por esses momentos. Entretanto não se arrependia, estava cada vez mais ansiosa para ver o rostinho infantil ao lado de Maraísa.

Mas a maternidade não é tão linda quanto romantizam. As vezes é dolorosa e extremamente exaustiva.

Ohana tinha a cabeça apoiada em meu ombro, enquanto minha mãe dormia no sofá do outro lado da sala.

-Tem sido péssimo pra ela. - revelou chateada, referindo-se a Maraísa.

-Vocês conseguem. - tranquilizou-a com a voz doce que soava tão angelical.

-É... Eu e Luísa conseguimos. - mencionou com um sorriso latino, enquanto ajudava Madi a dormir. A garota de poucos meses era movimentada levemente em seus braços, induzindo-a cair no sono.

Marília ergueu-se e caminhou até o outro lado da sala, acordando Maraísa de forma carinhosa, vagarosamente. Antes de deixar alguns beijos demorados e sentar-se para que a morena deitasse a cabeça em suas pernas.

-Quer ir pra cama, meu bem? - questionou baixinho, mas pelo silêncio que rondava o ambiente foi possível ouvir sua voz mansa.

-Não... quero ficar com você. - sussurrou. - Mesmo que não queira ficar comigo.

Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios, em ver a mulher mais temida em tantos lugares e tomados por máfias, estando tão rendida a este ponto.

-Eu quero ficar com você, só não quero exercer tanto de você. - explicou-se.

Haviam se esquecido completamente de que compartilhávamos o mesmo ambiente. Levando Ohana ao meu lado, sorrir, assim como Maiara.

-Não me importa o quanto exerça de mim, eu quero estar aqui quando precisar. - disse paciente, ainda de olhos fechados. - Em todos os momentos.

As mãos de Marília adentraram os cabelos pretos, de tamanho comprido e ondulado. Fazendo um cafuné lento enquanto a morena permanecia coberta com um edredom.

Não importava o que acontecesse, sempre estariam juntas no fim. Uma pela outra.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora