INTIMIDANTE

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NARRADOR:

Marília ficou estática, seu corpo gelou ao mesmo tempo em que o aperto das mãos de Maraísa se tornaram mais firmes em volta da sua cintura. Ela sentiu o cheiro forte, mas delicado da morena invadir suas narinas com rapidez e logo pode ouvir sua rouca voz soar como um entorpecente.

-"Hello... My baby girl"

Marília pode sentir cada parte do seu corpo se arrepiar por inteiro. O hálito quente próximo ao seu ouvido foi terrivelmente sexy. Mas não compensava a raiva que Marília sentiu naquele momento, a raiva por ter sido enganada de forma dolorosa e terrível.

-Eu odeio você, sabia?! - ela virou-se rapidamente, empurrando a morena.

Maraísa era empurrada ao mesmo tempo em que a loira dava passos curtos para a frente. A morena aguentava tudo calada enquanto observava atentamente o desespero no olhar da loira, a dor exaltada e a raiva exposta.

-Odeio você por ter me deixado sozinha! - ela disse com a voz embargada e os olhos começaram a falar por ela. O brilho das primeiras lágrimas apareceu, e em seguida sua expressão chorosa tomou conta.

Ela parou de empurra-la e ergueu as duas mãos ao rosto tentando esconder sua pose dolorosa. Maraísa se aproximou aos poucos e a tomou em seus braços, por mais que o abraço não fosse recíproco.

-Sonhei com você todas as noites e te desejei todas as manhãs. - a morena disse em um timbre doce, singelo.

-Eu te chamei em todos os segundos por todos os dias dolorosos da minha fodida vida... - a loira confessou chorosa, com o rosto escondido na curva do pescoço da mais velha. - E você me deixou sozinha...

Maraísa não tinha o que dizer, fez errado e sabia disso. Por mais que sua ação remetesse também a segurança da loira, a opção dolorosa escolhida se tornou injusta para uma delas... para Marília.

-Pode me bater, me xingar o quanto quiser. Mas eu recomendo que faça isso em um lugar mais reservado. - a morena comentou em tom paciente ao avistar alguns guardas locais.

Ainda estava em perigo e sabia disso. Arriscar sua segurança para encontrar Marília foi uma completa loucura.

-Tem dois guardas civis a esquerda, e um a direita. - a morena comentou paciente enquanto enxugava as lágrimas da loira. - Preciso que nos tire daqui.

-Eu deveria foder a gente de vez. - Marília disse aparentemente irritada, ainda sem olhá-la.

-Eu prefiro que você me foda. - a morena comentou observadora. - De preferência que seja de quatro, na sua cama.

Marília sorriu por mais que sentisse raiva. Maraísa nunca levava nada a sério e aquilo era problemático, mas de alguma forma engraçado.

MARÍLIA

Ela me soltou, mas notei que ainda observava os guardas, olhando por cima do meu ombro.

-Você fica fodidamente gostosa em regiões frias. - olhei pela primeira vez em seu rosto e ela carregava um sorriso bobo e um olhar extremamente safado.

-Eu vou gritar os guardas. - provoquei com um sorriso forçado e ela reprimiu sua expressão, a deixando divertida.

Passei por ela e um sorriso vitorioso surgiu involuntariamente em meus lábios. Era terrivelmente estranho sorrir depois de tanto tempo, ainda mais por tê-la por perto. O que eu imaginei e repeti todos os segundos, tentando em convencer de que isso era loucura.

-Amorzinho... - ela me chamou falha, rouca, descarada. - As chaves do carro.

Ela segurou o objeto em mãos enquanto o balançava e eu revirei os olhos.

-Acho que você não tem mais um... -Ela sorriu.- Vai ter que dirigir o meu. - ela pareceu pensativa. - No caso o que eu aluguei.

Estendi a mão e ela me entregou prontamente. Entrelacei minha mão a sua e saímos em passos um tanto quanto ritmados. Ela recolocou os óculos e manteve seriedade até retomarmos o caminho ao campos.

(...)

-Olha só... - sua voz atenciosa soou outra vez. - Tem mais civis na esquerda. Conhece outro caminho? - ela disse me virando rapidamente, mas disfarçado.

A olhei nos olhos e assenti milimetricamente.

Sua posição mudou, seu corpo quase colado ao meu, e uma de suas mãos segurava minha cintura enquanto caminhávamos. Faríamos uma volta e tanto, e ainda tinha um probleminha... Simone. Ela costumava me encarar, e eu agora temia que isso fosse um gatilho para Maraísa.

(...)

A morena manteve-se calada durante todo o percurso, mas sempre colada a mim. Seus óculos escuros escondiam seu olhar, mas eu o podia imaginar severo e sério.

MARAÍSA

Passamos pelo metrô e quando estávamos chegando ao campus observei um grupinho de garotas me olharem intimidantes e observarem Marília de cima a baixo. Principalmente uma de estatura média, cabelos cacheados e expressão atenta.

Era uma pena... eu não me intimidava nem mesmo com o diabo.

Sorri de canto, um tanto gélido ou melancólico como costumavam dizer. Parei instantaneamente e Marília me olhou confusa, alternou o olhar entre mim e o grupo e eu vi seus lábios moverem-se pedindo que eu parasse.

Virei-me para elas e quase todas desviaram o olhar, menos a garota de cabelos cacheados.

-Algum problema? - questionei paciente ao mesmo tempo em que sentia a mão de Marília segurar a minha.

MARÍLIA

Maraísa conseguia sair da personalidade safada, doce e gentil e chegar a uma psicótica melancólica e protetora em questão de segundos.

-Amor! - A chamei seria.

Simone rapidamente me olhou e desviei o olhar. Que droga, ela era tão insistente.

-Vem... - a chamei baixo, segurando em seu pescoço com a mão livre a puxando pra mim. - Vamos pro carro.

Consegui chama sua atenção e ela assentiu engolindo em seco. Seu maxilar travado me mostrava que ela se sentia incomodada, mas não ameaçada e sim subestimada.

-O que foi? - questionei enquanto destrava a única Porsche 911 ali.

-Alguma delas mexeu com você? - ela perguntou paciente e eu respondi prontamente que não. Maraísa assentiu silenciosa e eu sorri de canto.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora