A MATERNIDADE É ASSUSTADORA

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RUTH

Aquele jantar levou horas, entretanto passou tão rápido que quando nos demos conta já havia escurecido. A presença de Maraísa era magnífica, não podíamos negar isso. Foi mais que especial vê-la outra vez, e rever Marília também.

Minha filha estava mais que feliz, eu não tinha dúvida quanto a isso. Seu sorriso frequente era notório, o modo de falar com a esposa era diferente, suas ações eram diferentes. Ela estava realmente entregue, de corpo e alma para aquela relação.

Em certos momentos elas pareciam viver em um mundo só delas. Eu reconhecia essa sensação, e era completamente mágico. Era como se o mundo parasse por 5 segundos, e naqueles exatos 5 segundos não existisse nada além de você e o alguém que tanto amava. As pupilas dilatam, o momento se torna inebriante e atrativo, completamente apaixonante.

(...)

-Bem, eu adoraria se ficassem conosco. - a morena mencionou assim que nos direcionamos ao estacionamento do prédio, através do elevador. - Por favor, não neguem! Eu ficaria triste. - ela relutou sorrindo fraco, antes que eu dissesse algo.

Marília me olhou eloquente tanto quanto a esposa, que segurava em sua mão.

-Bem, vamos ter que ir no hotel buscar as malas. - meu marido respondeu com um sorriso tímido.

-Peço que meus homens façam isso. Se quiserem, logicamente. - ela sugeriu.

Mário assentiu e Maraísa apenas acenou milimetricamente para o homem de preto um pouco distante de nós, que fazia parte da segurança da empresária. O rapaz rapidamente saiu, e então a morena retornou a olhar pra nós.

-Bem, amor... - ela se direcionou a Marília. - Você dirige, por favor.

Maiara, a mais nova já havia descido com a esposa grávida e Anitta. E então, quando chegamos ao andar subterrâneo, fomos guiados até um carro.

(...)

Na área principal de entrada da cobertura, no caso a enorme sala que tinha uma vista linda de Beverly Hills, tocava uma música local, bem baixa. Marília bebia um licor ao lado de Maraísa e Anitta trabalhava no notebook. Aparentemente todos eles já carregavam aquele ar de cansaço do dia intenso que tiveram.

Mas ao olhar pra varanda lá fora, avistei Maiara que sem ter nada em mãos, ela apenas se perdia nos próprios pensamentos. Me direcionei até a ruiva, e seu sorrisinho fraco sequentemente de uma fala doce pedindo que eu ficasse foi o suficiente para que eu me sentasse ao seu lado.

Olhei bem para ela, e aqueles olhos azuis me pareceram tão assustados.

-Como fez pra ser uma boa mãe? - ela indagou ao virar-se lateralmente e olhar pra Marília que sorria em meio a uma brincadeira idiota com Maraísa.

Então era isso que a assustava... A maternidade, e o fato de provavelmente no futuro não se considerar uma boa mãe.

-A Marília é uma pessoa incrível, e... é por você. - ela me olhou ainda meio pensativa.

-Ser mãe te assusta? - questionei e ela me olhou pensativa.

-É... acho que sim. - ela assentiu, baixando um pouco a cabeça. - Não tive o amor fraterno que muitos filhos têm. E não sei como é "uma boa mãe".

Aquela fala doeu em mim de certa forma, era notória sua curiosidade e desejo em escutar tudo que eu tinha a dizer. Seu olhar me falava isso.

-Minha irmã é uma boa mãe, uma ótima mãe na verdade. - ela se auto reformulou. - Mas não me sinto confortável em questionar a ela.

Ela respirou fundo e engoliu em seco.

-Apenas ame sua filha, Maiara. - eu a disse enquanto a encarava. - Eduque-a, e não crie-a para si, crie-a para o mundo. Dê a ela toda informação que puder dar, de maneira gentil e amorosa. Deixe que ela faça as próprias escolhas e entenda o ponto de vista dela antes de tirar suposições. E quando ela fizer escolhas erradas... porque ela vai fazer escolhas erradas. Apenas esteja de braços abertos, e dê apoio, pois ela aprenderá a lição.

Ela sorriu com os olhos marejados.

-Mas nunca, em hipótese alguma. - toquei sua mão, a segurando. - A proíba de ser ela mesma, ou a abandone por isso.

-Disso eu sei bem... - ela enxugou as lágrimas e manteve o sorriso encantador. - Almira me ensinou bem. - referiu-se a nunca abandonar.

-Então já sabe como ser uma boa mãe. - eu a relatei. - Esse é o ponto principal.

Maiara respirou fundo, e me olhou paciente quando notou que eu tinha mais a dizer.

-Você também cometerá erros, assim como Luísa. Mas não se culpe por isso, é uma atitude mundana e humana, é normal errar. Mas esteja disposta a se corrigir.

MAIARA

Me pareceu fácil, por questão de segundos. Era somente ser o que Almira nunca foi pra mim, Não era?

-Você fez um ótimo trabalho... tia Ruth. - sorri a elogiando.

-É... - ela respirou fundo, e ambas olhamos pra garota loira que minha irmã neste exato momento fazia sorrir. - Acho que fiz.

RUTH

-Como ela vai se chamar? - questionei quanto a bebê, e ela sorriu rapidamente.

-Decidimos que vai se chamar Madi Griffin Pereira. - ela mencionou.

-Não tenha medo, Maiara. - a tranquilizei mais um pouco. - Você será uma ótima mãe, tenho certeza disso.

MARAÍSA

Depois que Marília subiu, me aproximei de sua mãe e minha irmã que claramente se davam mais que bem, elas conversavam na varanda. Dialogamos por um tempo e então Ruth se retirou.

-Mandou o Henrique pra Almira, não foi? - Maiara questionou duvidosa, segurando minha mão.

Maiara deitou a cabeça em meu ombro, enquanto brincava com as diversas joias douradas em meus dedos. Eu podia sentir seu cheiro doce e inebriante, minha paz em vida. Maiara era tudo que verdadeiramente tive durante todos os medos e infelicidades que enfrentamos juntas.

-Eu sempre vou proteger você. - a ressaltei. - Não importa o que Marco ache neste momento, ou o que o dia Almira foi para nós. Você é minha prioridade, Maiara. Você, Marília, Anitta e as crianças são minha responsabilidade.

-Eu te amo, muito. - a mais nova confessou. Era difícil ouvir algo sentimental sair da sua boca, então eu considerava isso uma confissão.

-Eu também te amo. - revelei antes de deixar um beijo demorado em sua cabeça, ao mesmo tempo em que fechei os olhos.

Pude ouvir o choro quase silencioso da minha irmã escapar após um suspiro, a abracei rapidamente e enquanto Maiara escondia o rosto na curva do meu pescoço, a deixei se permitir  chorar tudo que guardou dentro de si por anos.

-Estarei sempre aqui.

Não importava o quanto discutíssemos e discordássemos uma da outra em certas situações. Maiara sempre seria minha responsabilidade, sempre seria uma parte de mim.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora