CURVA-SE

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MARAÍSA

Era fodidamente sexy a forma como ela dirigia. Suas mãos pareciam um tanto quanto habilidosas e seu olhar atento e rápido era apreciável.

-Vou te deixar dirigir mais vezes.

-Será que você pode deixar de ser obscena e dizer frases de duplos sentidos ao menos 60 minutos da sua vida?

-Pode ser em minutos intercalados? Tipo, eu falo agora, aguardo 5 minutos e posso falar outra vez.

-Não, não pode. - ela me olhou assim que estacionou temporariamente no semáforo.

MARÍLIA

-Ok. - ela disse rendida depois que eu a encarei com seriedade.

-Tem um posto policial em poucos metros. - a avisei porque claramente ela "fugia" da polícia. - Não da pra desviar a rota, a outra está interditada.

-Você realmente tem tido um ótimo dia. - ela debochou e eu me perguntei internamente a quanto tempo ela vinha me seguindo.

Afirmei, e ela assentiu milimetricamente. Colocou os óculos outra vez e uma de suas mãos repousou sobre minha coxa, apertando com pressão. Assim que passamos pelo posto policial ela desviou o olhar das câmeras e dos guardas locais que costumavam ficar ali fazendo absolutamente nada.

(...)

Abri a porta do apartamento e Maraísa respirou aliviada. Retirou o sobretudo, os óculos e eu pude ver seu corpo bem marcado por baixo da blusa Balenciaga e a calça de couro bem colada.

-Quer ir pra nossa casa? - ela questionou meio tímida.

Ela era tão imprevisível.

-Do nada você me aparece depois de ter "morrido"... com um olhar tarado, encarando pessoas na rua, claramente fugindo da polícia e de qualquer câmera existente nas ruas e vem me perguntar se eu quero ir pra "nossa" casa?! - questionei séria e completamente confusa.

Ela respirou fundo e se manteve estática.

MARAÍSA

-Sabe quantas vezes eu chorei olhando para as suas foto? Quantas vezes eu chorei gritando seu nome? Quantas vezes eu pedi baixinho pra que entrasse por aquela porta?! - seus olhos marejaram, e os meus derramaram lágrimas. - Sabe quantas vezes eu acordei sem ar por sonhar com você e quando acordar você simplesmente não estar aqui?

Neguei milimetricamente com a cabeça e apenas escutei calada. E mesmo que estivesse calada, ainda estava errada.

Por mais que eu fosse uma filha da puta egoísta e psicótica, minha pose de seriedade e frieza não alcançava Marília. Meu jeito desinteressado não se estendia a ela... ela podia dizer o que quisesse, eu estava errada e permaneceria calada até que ela terminasse.

-Eu só queria ver seu sorriso mais uma vez, te sentir mais uma vez e você mentiu pra mim. Me deixou sozinha te desejando todos os fodidos segundos que ainda passei viva fisicamente. Eu morri por dentro Maraísa... e foi você quem me matou.

Marília dizia enquanto as lágrimas não cessavam por parte de nenhuma. Suas palavras me cortavam como lâminas afiadas e rápidas, sem extinto protetor ou opção de solução.

-Eu perdi o interesse em tudo... - ela disse com a voz embargada. - Sabe por que essa porra de apartamento parece um fúnebre? - ela praticamente gritou. - Porque eu vivi o inferno de um velório todos os amargurados dias!

-Amor... - a chamei baixo tentando me aproximar.

-Você permaneceu sobre esse pedestal onde ninguém pode alcançar ou te tocar. Sem se curvar pra nada, como se nada importasse.

LÁ MARFIA -MALILAOnde histórias criam vida. Descubra agora